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Pressionado, Hosni Mubarak renuncia ao cargo após 30 anos

11 fev 2011 - 14h06
(atualizado em 21/6/2018 às 11h32)
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Após 30 anos no poder e pressionado por uma onda de protestos ininterruptos inciados em 25 de janeiro, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, renunciou ao cargo nesta sexta-feira. A notícia chegou através da TV estatal egícpia, em uma mensagem do vice-presidente, Omar Suleiman, que na noite anterior havia justamente sido recebido de Mubarak novos poderes para trabalhar em um governo de transição. Os poderes presidenciais serão agora assumidos pelo Conselho das Forças Armadas.

Veja anúncio oficial da renúncia de Mubarak no Egito:

Em um pronunciamento relâmpago de cerca de 30 segundos, Suleiman disse que a decisão foi tomada "por causa das difíceis circunstâncias que atravessa o país". "O presidente Mohammed Hosni Mubarak decidiu renunciar a seu cargo de presidente da República e encarregou o Conselho Supremo das Forças Armadas de administrar os assuntos do país", disse textualmente a breve mensagem de Suleiman. Menos de 24 horas antes, a mesma televisão transmitira o anúncio de que Mubarak não desistira do cargo e que , de modo nada claro, passava "alguns poderes" a Suleiman.

Ontem, quando Mubarak frustou o país, a multidão instalada na Praça Tahrir se mostrou incrédula. Hoje, a reação foi outra. Assim que acabou o pronunciamento do vice-presidente, centenas de milhares de manifestantes explodiram de emoção, agitando bandeiras, gritando, rindo e se abraçando. "O povo derrubou o regime", gritava a multidão em Tahrir, no centro do Cairo. Lágrimas, gritos e danças tomaram conta do local que se tornou símbolo dos protestos.

Mais cedo, a TV estatal já informara que o presidente havia viajado com a família para o resort de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho, partindo de uma base militar em um subúrbio do Cairo. Ontem mesmo, instantes antes do anúncio no qual o presidente frustou a população, já circulava a informação de que Mubarak não estaria mais no país. Os boatos não foram confirmados.

Após os instantes de incredulidade na noite de ontem, a população decidiu manter os protestos e mais uma vez passou a madrugada em Tahrir. A Irmandade Muçulmana, tida como o principal grupo oposicionista egípcio, declarou "rejeição total" ao discurso de Mubarak. Mohamad ElBaradei, outra figura central da oposição, afirmava que o país entrava em uma situação de "caos total" após a insistência de Mubarak em ignorar os protestos e se manter no poder. A pressão, ao contrário do pretendido pelo governo, não cedia, e ações precisavam ser tomadas.

Pela manhã, o Exército reuniu-se e anunciou que suspenderia a lei do estado de emergência no país, cedendo a uma exigência-chave dos manifestantes contrários ao governo, mas indicando que queria as pessoas fora das ruas. Os protestos, toadavia, mais mais uma vez agruparam mais de um milhão de pessoas. O cenário de 18 dias de protestos crescentes e incessantes só mudou quando Suleiman usou os novos poderes a ele delegados para anunciar que o governo de Mubarak, iniciado há quase 30 anos, em 1981, havia chegado a seu fim.

Egípcios saem às ruas, derrubam Mubarak e fazem história

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet, principalmente pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak. A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo.

O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos. Manifestantes pró e contra Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. Nos dias subsequentes os conflitos cessaram e, após um período de terror para os jornalistas, uma manifestação que reuniu milhares na praça Tahrir e impasses entre o governo e oposição, a Irmandade Muçulmana começou a dialogar com o governo.

Em meio aos protestos do dia 10 de fevereiro - o 17º seguido desde o início das manifestações -, Mubarak anunciou que faria um pronunciamento à nação. Centenas de milhares rumaram à Praça Tahrir, enquanto corriam boatos de que o presidente poderia anunciar a renúncia ao cargo. À noite e com atraso de mais de uma hora, a TV estatal egípcia transmitiu a frustração: Mubarak anunciava, sem clareza alguma, que 'passava alguns poderes' para seu vice, Omar Suleiman, mas que permanecia no cargo, para a ira de Tahrir.

Após o momento de incredulidade na quinta, os egípcios mantiveram a força dos protestos na sexta-feira. Insatisfeitos, milhares de manifestantes pernoitaram na Praça Tahrir, mantendo a pressão sobre o governo. No final da tarde, o vice-presidente Omar Suleiman, num pronunciamento de 30 segundos na TV estatal, anunciou que Hosni Mubarak renunciava ao poder, encerrava seu governo de quase 30 anos e abria espaço definitivamente para a transição no Egito.


Fonte: Terra
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