Na Bélgica, brasileira luta para rever filho aliciado para lutar na Síria
Rosana Rodrigues chora ao lembrar do filho Brian De Mulder, 20 anos, aliciado por radicais islâmicos, e pede ajuda para o governo brasileiro
A possível aprovação de uso da força pelas Nações Unidas contra o regime do ditador Bashar al-Assad e o recrudescimento da guerra na Síria são um pesadelo para a brasileira Rosana Rodrigues, moradora da pequena cidade de Rummen, na Bélgica. Seu filho, Brian De Mulder, 20 anos, foi levado em janeiro deste ano para lutar com os rebeldes na Síria, depois de ser aliciado pelo movimento radical islâmico “Sharia4belgium” em uma mesquita da cidade de Antuérpia. “Tiraram meu filho de mim. Nem pensaram: 'essa mãe vai ter dor'”, lamenta Rosana.
Segundo a brasileira, Brian caiu em depressão em 2011 ao ser dispensado de um time de futebol em Antuérpia e foi levado por amigos marroquinos à mesquita do radical Fouad Belkacem (também chamado Abu Imran). Lá, o rapaz criado em colégio católico, que costumava ir à missa quase todos os domingos e cuja música favorita era “Jesus Cristo”, de Roberto Carlos, converteu-se a um islamismo radical. Adotou um comportamento agressivo, deixou a rotina de trabalho e estudos, e passou a chegar em casa de madrugada. Em 23 de janeiro saiu e não voltou mais. Segundo Rosana, a polícia teria rastreado a localização do envio do último e-mail de Brian: Damasco, a capital da Síria.
Depois de uma operação da polícia belga, o website Sharia4Belgium e a mesquita em Antuérpia onde ocorriam os aliciamentos foram fechados. Belkacem foi detido e condenado por “incitação ao ódio racial” em abril deste ano. Além de Antuérpia, a polícia continua a realizar batidas em cidades da Bélgica como a capital, Bruxelas, Vilvoorde e Mechelen para desbaratar a formação de novas redes de recrutamento. O crime foi denominado “participação em grupo terrorista” e prevê até 10 anos de cadeia.
Segundo dados do ministério do Interior da Bélgica, cerca de 100 belgas são investigados por suspeita de ligações com movimentos extremistas. Em março, a ministra da pasta, Joëlle Milquet, lançou uma força-tarefa incluindo membros da unidade contra-terrorismo, serviços de inteligência, autoridades judiciais e da polícia para monitorar a situação e analisar como impedir que jovens saiam da Bélgica para lutar na Síria. Em junho, em uma operação com a polícia turca, quatro jovens belgas foram detidos na fronteira com a Síria e enviados de volta.
Angustiada, Rosana reclama da morosidade da administração pública e diz ter vontade de ir ela mesma à Síria para trazer o filho de volta, ideia desaconselhada pela polícia, pois isso significaria colocar a própria vida em risco. Ela afirma que ainda não tentou pedir ajuda ao governo brasileiro, pois Brian nasceu na região de Antuérpia, fruto de seu casamento com o então marido belga. Como não foi registrado no consulado, Brian tem hoje somente a nacionalidade belga. Contatada pela reportagem, a Embaixada do Brasil na Bélgica explica que o caso precisará ser estudado. Brian ainda não é brasileiro, mas seu direito de vir a ser não está descartado.
Mesmo assim, na condição de mãe e cidadã brasileira, Rosana pede à presidente Dilma Roussef colaboração para buscar o paradeiro de Brian. “Peço a nossa presidente... Me ajude a encontrar meu filho!”, diz ela, em lágrimas.