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Morte de Kadafi elimina obstáculo para transição, diz analista

20 out 2011 - 13h48
(atualizado às 14h41)
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Fernando Diniz

A morte do ex-líder Muammar Kadafi não só marca o fim da guerra civil na Líbia, como facilita a transição de governo após mais de 40 anos de ditadura. A avaliação é do especialista em Ciências Políticas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) Maurício Santoro, que vê o fim de uma era "personalista" com a captura do ex-ditador.

Imagem divulgada mostra o ex-líder da Líbia Muammar Kadafi após sua captura, na cidade de Sirte
Imagem divulgada mostra o ex-líder da Líbia Muammar Kadafi após sua captura, na cidade de Sirte
Foto: Reuters

"O importante da morte do Kadafi é porque o regime era muito personalista. É diferente do Egito, no qual as Forças Armadas tinham um papel muito importante. Na Líbia o Kadafi enfraqueceu muito o papel da Marinha e fragmentou as forças de poder com bases em milícias armadas, em diversos serviços de inteligência, que se reportavam a ele ou a parentes próximos", explica Santoro.

Para o analista, um eventual julgamento de Kadafi provocaria uma série de tensões em um país já fragilizado institucionalmente. "Se ele tivesse sido capturado com vida, ele seria julgado e isso poderia provocar uma série de tensões que, após 40 anos de ditadura, praticamente todo mundo que tem alguma experiência administrativa na Líbia em algum momento trabalhou com o Kadafi. Então esse julgamento poderia ser um incomodo para uma série de pessoas de liderança política do país, inclusive para essas que estão formando o governo de transição", afirma.

A morte, na avaliação do cientista político, é prejudicial no longo prazo, já que prejudica o acesso do povo líbio às verdades históricas. "Talvez não tenha sido o melhor para a Líbia se a gente pensar no longo prazo, na questão da memória histórica, para entender como funcionava, mas no curto prazo se elimina um obstáculo muito grande para a transição. Se ele não estivesse sido preso ou morto, ele sempre seria um foco para os descontentes políticos nesse novo governo."

Com uma unidade nacional frágil, Santoro acredita que a Líbia deverá ter uma transição mais complicada que a Tunísia e Egito, países os quais também foram palcos de conflitos "Mas tem uma vantagem grande que são os recursos do petróleo. É um Estado bem financiado", pondera o analista.

Insurreição líbia culmina com queda de Sirte e morte de Kadafi

Motivados pelos protestos que derrubaram os longevos presidentes da Tunísia e do Egito, os líbios começaram a sair às ruas das principais cidades do país em fevereiro para contestar o coronel Muammar Kadafi, no comando desde a revolução de 1969. Rapidamente, no entanto, os protestos evoluíram para uma guerra civil que cindiu a Líbia em batalhas pelo controle de cidades estratégicas de leste a oeste.

A violência dos confrontos gerou reação do Conselho de Segurança da ONU, que, após uma série de medidas simbólicas, aprovou uma polêmica intervenção internacional, atualmente liderada pela Otan, em nome da proteção dos civis. No dia 20 de agosto, após quase sete meses de combates, bombardeios, avanços e recuos, os rebeldes iniciaram a tomada de Trípoli, colocando Kadafi, seu governo e sua era em xeque.

Dois meses depois, os rebeldes invadiram Beni Walid, um dos últimos bastiões de Kadafi. Em 20 de outubro, os rebeldes retomaram o controle de Sirte, cidade natal do coronel e foco derradeiro do antigo regime. Os apoiadores do CNT comemoravam a tomada da cidade quando os rebeldes anunciaram que, no confronto, Kadafi havia sido morto. Estima-se que mais de 20 mil pessoas tenham morrido desde o início da insurreição.

Fonte: Terra
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