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África

Moradores fazem relatos conflitantes sobre ataques em Trípoli

21 fev 2011 - 17h22
(atualizado às 18h51)
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Moradores de Trípoli apresentaram nesta segunda-feira relatos diferentes sobre os confrontos na capital líbia. Alguns disseram ter ouvido tiros, e um ativista político afirmou à TV Al Jazeera que aviões militares estavam bombardeando a cidade.

Homens carregam caixão no Hospital Al-Jalaa, em Benghazi, em mais um dia de protestos na Líbia
Homens carregam caixão no Hospital Al-Jalaa, em Benghazi, em mais um dia de protestos na Líbia
Foto: AP

"Não sabemos o que está acontecendo, só podemos ouvir disparos ocasionais", disse à Reuters um morador dos arredores da praça Verde, no centro da capital.

"Só ouço disparos às vezes. Estou em casa protegendo minha família, porque a situação é instável. Ninguém sabe o que vai acontecer", disse outro morador.

Já Adel Mohamed Saleh, que diz ser ativista político em Trípoli, declarou ter presenciado um bombardeio, inicialmente tendo como alvo uma procissão fúnebre.

"O que estamos testemunhando hoje é inimaginável. Aviões de guerra e helicópteros estão indiscriminadamente bombardeando uma área depois da outra. Há muitíssimos mortos", disse Saleh ao vivo à Al Jazeera.

"Nossa gente está morrendo. É a política de terra arrasada. A cada 20 minutos eles bombardeiam", afirmou. Ele relatou que os ataques prosseguiam. "Quem se movimenta, mesmo estando de carro, eles atiram."

Não houve verificação independente desse relato, mas Fathi al Warfali, ativista líbio que dirige o Comitê Líbio de Verdade e Justiça, que participava de um protesto em frente à sede europeia da ONU, em Genebra, afirmou ter escutado informações semelhantes.

"Aviões militares estão atacando civis manifestantes em Trípoli agora. Os civis estão assustados", disse Al Warfali à Reuters.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muamar Kadafi, a população entra em sangrento confronto com as forças de segurança; em meio à onda de violência, um filho de Kadafifoi à TV estatal do país para tirar a legitimidade dos protestos, acusando um "complô" para dividir o país e suas riquezas. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

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