Milhares de egípcios pernoitam na praça Tahrir no Cairo
A decepção e a indignação após o discurso pronunciado na noite de quinta-feira pelo presidente egípcio, Hosni Mubarak, encorajou os manifestantes a continuarem seus protestos na praça Tahrir, no Cairo, e se aproximarem do palácio Presidencial.
Milhares de pessoas pernoitaram na praça Tahrir (Libertação, em árabe), como já é habitual, para demonstrar que não vão desistir de sua luta contra o regime após a mensagem do líder, que expressou a intenção de seguir no poder.
Os manifestantes não se limitaram a concentrar-se na praça, símbolo dos protestos político contra Mubarak, mas os atos se estenderam a outros lugares da capital.
Várias centenas de pessoas marcharam durante a madrugada rumo ao palácio Presidencial no Cairo, localizado no bairro de Heliópolis. Os movimentos de jovens e os grupos opositores convocaram uma grande manifestação para esta sexta-feira, que depois dos últimos eventos promete concentrar ainda mais pessoas que as convocações precedentes.
Os grupos pró-democracia fizeram uma chamada para que a jornada de hoje reúna 20 milhões pessoas, em um país com população superior a 80 milhões.
A renúncia de Mubarak e a queda do regime atual são o objetivo desta revolta popular sem precedentes que começou em 25 de janeiro, pelo que a expectativa era enorme na quinta-feira perante a possibilidade de o presidente anunciar a sua saída do poder.
Mubarak, porém, se limitou a anunciar em discurso transmitido pela televisão que havia cedido algumas prerrogativas ao vice-presidente Omar Suleiman e confirmou que se mantém no poder.
Além disso, o chefe de Estado não só não renunciou à presidência como ainda se comprometeu a liderar um processo que leve a "eleições (presidenciais) livres e limpas" em setembro.
Este revés não desanimou as dezenas de milhares de pessoas que acompanharam a transmissão da mensagem na noite de ontem em um telão na praça Tahrir, e que enquanto avançava o discurso tiraram seus sapatos e os levantaram, um gesto de desprezo no mundo árabe.
Protestos convulsionam o Egito
Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet, principalmente pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.
A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak. A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo.
O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos. Manifestantes pró e contra Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. Nos dias subsequentes os conflitos cessaram e, após um período de terror para os jornalistas, uma manifestação que reuniu milhares na praça Tahrir e impasses entre o governo e oposição, a Irmandade Muçulmana começou a dialogar com o governo.
Em meio aos protestos do dia 10 de fevereiro - o 17º seguido desde o início das manifestações -, Mubarak anunciou que faria um pronunciamento à nação. Centenas de milhares rumaram à Praça Tahrir, enquanto corriam boatos de que o presidente poderia anunciar a renúncia ao cargo. À noite e com atraso de mais de uma hora, a TV estatal egípcia transmitiu a frustração: Mubarak anunciava, sem clareza alguma, que 'passava alguns poderes' para seu vice, Omar Suleiman, mas que permanecia no cargo, para a ira de Tahrir.