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África

Marroquinos protestam e pedem mudança democrática

6 mar 2011 - 20h01
(atualizado às 21h40)
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Centenas de jovens responderam neste domingo à convocação do chamado Movimento 20 de Fevereiro e protestaram em várias cidades marroquinas para reivindicar reformas democráticas no país.

Apoiador do governo segura um retrato do rei do Marrocos, Mohammed VI, enquanto manifestantes contra o governo protestam para exigir reformas políticas em Casablanca
Apoiador do governo segura um retrato do rei do Marrocos, Mohammed VI, enquanto manifestantes contra o governo protestam para exigir reformas políticas em Casablanca
Foto: AP

Em Rabat, cerca de 300 pessoas, em sua maioria jovens, organizaram um protesto no centro da cidade onde gritaram palavras de ordem como "dignidade, liberdade, justiça social" e "o povo quer uma nova constituição", e reivindicaram uma mudança democrática e reformas sociais.

Além disso, os manifestantes trataram de organizar "formas alternativas de luta" com um ato cultural ao ar livre, mas a polícia suspendeu o protesto após cortar o fornecimento de energia elétrica aos manifestantes, que só chegaram a ler dois textos reivindicativos.

Nizar Benamate, de 25 anos, um dos organizadores deste ato, disse à agência EFE no final do protesto que "os marroquinos descobriram neste domingo novos atos de luta para captar a atenção e reivindicar pacificamente uma mudança democrática".

Por outro lado, mais de 2 mil pessoas, conforme os organizadores, se reuniram na praça de Alhamam, situada no centro de Casablanca, para pedir também "reformas constitucionais e políticas profundas" no Marrocos.

Youssef Mezi, um dos organizadores do protesto, assegurou à EFE que, além das reivindicações políticas, "os participantes gritaram palavras de ordem sociais que pedem a melhora da situação em que vive a população dos bairros marginalizados da cidade".

Mezi acrescentou que se organizou também durante o protesto um evento cultural ao ar livre em que se leu poesia reivindicativa em árabe clássico e em dialeto marroquino além de interpretações de música rap.

Em Tetouan, os serviços de segurança frustraram o ato de protesto desde o início e detiveram oito pessoas dos organizadores antes de libertá-los depois de uma hora, segundo confirmou à EFE Mohammed Susi, secretário-geral da Associação de Defesa dos direitos Humanos (AMDH) na cidade.

Susi, que foi um dos detidos, acrescentou que os organizadores pretendiam reivindicar durante este protesto, que foi suspenso, "uma monarquia parlamentar e uma constituição democrática".

Em Tânger, mais de 600 pessoas se concentraram em uma praça situada no bairro popular de Beni Makada para reivindicar as exigências anunciadas pelo Movimento de 20 de fevereiro, mas a polícia também discursou para dispersar os manifestantes.

O membro da coordenadora local de apoio a este movimento, Bubker Jamlishi, disse à EFE que os serviços de segurança atacaram os manifestantes com cassetetes e usaram canhões de água para dispersá-los.

Acrescentou que "a polícia deteve 20 pessoas antes de libertá-las pouco tempo depois".

Monaim Musawi, ativista no movimento de 20 de Fevereiro e um dos que foram detidos, disse à EFE que os serviços de segurança "o detiveram durante o protesto, o levaram à comissária e o libertaram após verificar sua identidade".

O Movimento 20 de Fevereiro, que organizou nessa data uma manifestação grande no Marrocos, convocou em comunicado publicado neste fim de semana um protesto similar no dia 20 de março para reiterar suas reivindicações para uma constituição democrática e um sistema monárquico parlamentar no Marrocos.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muammar Kadafi, a população vem entrando em sangrento confronto com as forças de segurança, já deixando um saldo de centenas de mortos. Em meio ao crescimento dos protestos em diversas capitaos, Kadafi foi à TV estatal no dia 22 de fevereiro para xingar e ameaçar de morte os opositores, que desafiam seu governo já controlam partes do país. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísiae o Egitovivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

EFE   
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