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África

Marrocos vive novos distúrbios após mortes no domingo

21 fev 2011 - 18h17
(atualizado às 19h42)
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Novos distúrbios de menor intensidade se espalharam nesta segunda-feira por várias cidades marroquinas, depois que foi divulgado que cinco pessoas morreram no domingo em Al Hoceima (norte) e mais de 120 ficaram feridas pelos protestos pró-democracia.

Em seu primeiro discurso público após os protestos, o rei Mohammad VI do Marrocos não se referiu às manifestações, mas garantiu estar "comprometido com a realização de reformas estruturais", em discurso por causa da nomeação do primeiro Conselho Econômico e Social do país.

Previamente, o ministro do Interior marroquino, Taieb Cherkaoui, compareceu em entrevista coletiva para fazer um balanço dos distúrbios ocorridos no domingo no país e informou que os corpos de cinco jovens foram encontrados em uma filial bancária da cidade de Al Hoceima.

As cidades de Tânger, Tetouan, Larache e Al Hoceima (norte), Sefru (centro), Marrakech e Guelmim (sul) foram palco dos maiores protestos, nos quais ficaram feridas 128 pessoas (das quais 115 pertenciam aos corpos de segurança) e 120 foram presas.

No entanto, o ministro do Interior destacou o "clima pacífico cheio de serenidade e disciplina" das manifestações de domingo - nas quais, segundo seus dados, participaram 37 mil pessoas - e atribuiu ao "clima de liberdade, à prática saudável da democracia e ao direito à liberdade de expressão" no Marrocos.

Para "preservar esse clima", Cherkaui se comprometeu a não tolerar atos violentos e assegurou que "os poderes públicos empregarão a força da lei contra tudo que for suscetível a atentar contra a ordem pública e a segurança dos cidadãos".

Enquanto isso, os protestos em favor de uma "constituição democrática" continuaram nesta segunda-feira em Rabat e nas cidades de Fez (centro), Al Hoceima (norte), e Uxda (leste), e em algumas ocasiões foram registrados episódios de violência.

Em Rabat, pelo menos cinco pessoas tiveram que ser hospitalizadas - entre elas a presidente da principal ONG de oposição no país, a Associação Marroquina dos Direitos Humanos (AMDH), Jadiya Riyadi - depois que agentes antidistúrbios usaram a força contra uma concentração de 30 pessoas, como constatou a Efe.

Além de Jadiya Riyadi, ficaram feridos outros três membros da mesma associação, assim como um pedestre que foi atropelado por um veículo quando tentava escapar do lugar, disse à Efe Youssef Raisuni, presidente da AMDH em Rabat.

Depois que as forças antidistúrbios rodearam o pequeno grupo na praça Bab el-Had, os manifestantes começaram a gritar frases como "oprimidos em nosso próprio país" e "queremos liberdade".

Em Al Hoceima também foram registrados enfrentamentos entre a Polícia e as forças de ordem quando algumas pessoas se dirigiram a Imzuren para se unir a outra manifestação, indicou a Efe o presidente da associação cultural local Buya, Najim Hidush.

Por outra parte, nos bairros de Ain Harun e Adarisa de Fez, dezenas de cidadãos saíram em passeatas para reivindicar mudanças sociais, informou a Efe o presidente da Associação Marroquina de Direitos Humanos em Fez, Mohammed Ulad Ayad.

Ayad acrescentou que as forças antidistúrbios impediram a chegada ao centro da cidade de uma manifestação formada pelos estudantes da universidade de Mohammed Ben Abdallah e do bairro popular de Lido.

Enquanto isto, Mohammad VI se dirigiu ao recém-criado Conselho Econômico e Social - cuja Presidência foi dada ao ex-ministro do Interior Chakib Benmoussa - para pedir que assegure "a todos os marroquinos condições propicias para o exercício de uma cidadania digna".

Em seu discurso, divulgado pela agência oficial "MAP", citou a criação deste órgão como um exemplo da "dinâmica reformadora" do Marrocos, e mostrou sua vontade de "levar adiante a materialização do modelo marroquino, do qual reafirmamos seu caráter irreversível".

"Se lançamos este Conselho é porque rejeitamos constantemente ceder à demagogia e à improvisação em nossa ação dirigida a consolidação de nosso modelo singular de democracia e desenvolvimento", acrescentou.

O Conselho Econômico e Social é uma antiga exigência do monarca, que em 2008 ordenou ao Parlamento preparar uma lei que contemplasse a criação deste órgão consultivo.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muamar Kadafi, a população entra em sangrento confronto com as forças de segurança; em meio à onda de violência, um filho de Kadafifoi à TV estatal do país para tirar a legitimidade dos protestos, acusando um "complô" para dividir o país e suas riquezas. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

EFE   
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