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África

Manifestações na Líbia deixam 300 mortos, entre eles 111 militares

22 fev 2011 - 17h56
(atualizado às 22h00)
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Os atos de violência na Líbia deixaram 300 mortos, incluindo 111 militares, segundo os primeiros dados oficiais apresentados na noite desta terça-feira em uma coletiva de imprensa por um porta-voz do ministério do Interior.

info infográfico líbia infromações sobre o país
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Foto: AFP

Cerca de metade das mortes (104 civis e 10 militares) ocorreram na segunda maior cidade do país, Benghazi, situada mil km a leste de Trípoli e foco da insurreição, em Al Baida (18 civis e 63 militares) e em Derna (29 civis e 36 militares).

Estes são os primeiros dados oficiais relativos às vítimas da rebelião popular iniciada há uma semana. "A calma foi restabelecida na maioria das grandes cidades e as forças de segurança e do exército recuperaram suas posições", disse Mohammed Zwei, presidente do Congresso Geral do Povo (Parlamento), na mesma coletiva de imprensa.

Zwei confirmou ainda a criação de uma comissão para investigar a violência envolvendo as manifestações contra o regime do coronel Muamar Kadhafi a partir de 15 de fevereiro, como informou na véspera Seif al Islam, filho do líder líbio.

Mas segundo Zwei, "as atuais condições não permitem a realização de uma sessão do Parlamento para discutir as reformas" anunciadas por Seif al Islam e envolvendo o código da imprensa, o código penal, a organização da sociedade civil e a Constituição.

Na mesma coletiva, Jebril El Kadiki, número dois do Estado-Maior das Forças Armadas, anunciou que depósitos de armas e munições foram bombardeados nas proximidades das cidades de Rajma, Ajdabia, Al Gueriet, Zenten e Mezda.

El Kadiki garantiu que tais depósitos estavam em "zonas desertas, onde não havia casas". O ataque aos depósitos foi comunicado na véspera por Seif al Islam, ao desmentir o bombardeio contra as cidades de Trípoli e Benghazi.

A entrevista ocorre horas após Kadafi jurar, em um discurso transmitido pela televisão, que irá restabelecer a ordem, mesmo que isto exija uma repressão sangrenta.

Segundo testemunhas contactadas pela AFP, a violência concentrada primeiro em Benghazi alcançou a capital no domingo à noite, enquanto em Benghazi a paz voltou a reinar na segunda-feira.

De acordo com a organização Human Rights Watch (HRW), que citava nesta terça-feira à tarde dois hospitais da capital, a repressão deixou "pelo menos 62" mortos em Trípoli desde domingo.

O ministro do Interior, Abdel Fatah Yunes, anunciou sua demissão na noite desta terça-feira e sua adesão "à revolução", segundo imagens divulgadas pela rede de televisão Al Jazeera, mas o porta-voz do ministério não citou esta questão.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muamar Kadafi, a população entra em sangrento confronto com as forças de segurança; em meio à onda de violência, um filho de Kadafifoi à TV estatal do país para tirar a legitimidade dos protestos, acusando um "complô" para dividir o país e suas riquezas. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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