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Mundo

Mãe e filhas votam pela primeira vez em uma eleição no Egito

28 nov 2011 - 17h54
(atualizado às 18h07)
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Tariq Saleh
Direto do Cairo

A cena era atípica para um estrangeiro que passava por um dos locais de votação no Cairo. Uma fila de várias quadras, formada somente por mulheres, chamava a atenção de transuentes na tarde desta segunda-feira. Mas apesar de estarem paradas por horas, a maioria estava sorridente e ansiosa para alcançar o objetivo - votar nas primeiras eleições no Egito pós-revolução.

Farah Yousry, Amal Saad, Soheir Saad e Salma Saad mostram dedos marcados com tinta após votarem, no Cairo
Farah Yousry, Amal Saad, Soheir Saad e Salma Saad mostram dedos marcados com tinta após votarem, no Cairo
Foto: Tariq Saleh / Especial para Terra

A egípcia Salma Saad se mostrava sorridente e mostrava o dedo com a marca de tinta, sinal de que cumpriu seu direito como cidadã, votando nas eleições parlamentares do país pela primeira vez em sua vida. "Foi uma sensação tão boa, de me sentir cidadã, com direitos, com responsabilidades. Senti que, pela primeira vez, havia leis que protegiam meu voto", falou ela ao Terra.

Salma contou que ela chegou às 9 horas da manhã na zona eleitoral e ficou cerca de 7 horas na fila até que sua vez chegasse para votar. "Mas valeu a pena. Não queria perder essa oportunidade", salientou.

Durante a espera, houve protestos das eleitoras pela demora na votação, o que causou pequenos distúrbios. "Calma, todos votarão, tenham paciência", disse um dos monitores da comissão eleitoral sob os olhares de quatro soldados do exército egípcio que faziam a segurança.

Uma expectativa tomou conta do Egito em torno das primeiras eleições após a queda do ex-presidente Hosni Mubarak, em fevereiro deste ano, após mais de duas semanas de protestos populares. Manifestantes voltaram a protestar no Cairo na semana passada, exigindo a renúncia da Junta Militar que governa o país e o adiamento das eleições. Alguns ativistas pediram pelo boicote do pleito.

Mas Salma, que foi à praça Tahrir protestar contra Mubarak no início do ano, agora discorda dos manifestantes. "Acho que deve haver protestos eventuais para pressionar o governo, mas não boicotar algo que lutamos tanto para ter", explicou.

Sem democracia
A mãe de Salma, Soheir, enfatizou que nunca teve a vontade de exercer seu direito ao voto na era Mubarak porque "sabia que não adiantaria em nada, já que os pleitos eram fraudados". "Era uma perda de tempo, e a maioria das pessoas que conheço nem se importava com política porque tudo no país era decidido por um partido e por uma elite dominante. Aquilo não era uma democracia", disse a mãe.

Amal, a irmã mais velha, afirmou que sentia um ar diferente nas pessoas. "Sinto os egípcios mais felizes, mais orgulhosos do país, esperançosos de um futuro melhor", disse.

Junto com elas, estava a amiga Farah Yousry, que também passou sete horas na fila para votar, assim como a mãe e filhas. "Estou otimista em relação ao futuro do Egito. Acho que isso é só o começo".

Sobre as diferenças entre eleições anteriores, Farah disse que escutava histórias de amigos e parentes mais velhos sobre como as eleições costumavam ser tomadas por fraudes. "As pessoas me disseram que se sentiam impotentes, pois não podiam fazer nada para evitar tudo aquilo. Agora, é diferente". No final, as quatro mulheres posam orgulhosas para uma foto, mostrando os dedos com a marca de tinta, símbolo de um novo Egito.

Fonte: Especial para Terra
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