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Líbia tem intensos confrontos por controle de Sirte; civis fogem

1 out 2011 - 19h13
(atualizado às 19h35)
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A cidade de Sirte viveu neste sábado os confrontos mais intensos em uma semana, em plena disputa entre as forças do novo regime líbio e os partidiários do ex-líder Muamar Kadafi, constataram jornalistas da AFP. As novas autoridades líbias tentam há semanas tomar Sirte, cidade natal de Kadafi a 360 km a leste de Trípoli, na costa. Também lutam para tomar o controle de Bani Walid, um oásis a 170 km a sudeste da capital, nas mãos dos homens fiéis ao líder derrocado, cujo paradeiro é desconhecido.

Um homem que se apresentou como o porta-voz do antigo regime, Musa Ibrahim, desmentiu neste sábado em declarações à emissora síria Arrai sua captura pelos anti-Kadafi, e assegurou que se dirigiu ao front de Sirte.

Segundo constatou um repórter da AFP, neste sábado continuavam as intensas trocas de tiros perto de Sirte, especialmente no front oriental.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha alertou sobre a situação "desesperadora" nessa cidade, onde pôde entrar e visitar um hospital bombardeado por foguetes. A entidade informou à AFP que há pessoas morrendo por falta de atendimento médico básico.

Segundo o Crescente Vermelho (a Cruz Vermelha nos países islâmicos), até quarta-feira passada mais de 18.000 pessoas haviam fugido de Sirte e 25.000 de Bani Walid.

Na saída oeste de Sirte, os civis continuavam fugindo neste sábado. Em uma estrada, um foguete atingiu um veículo, matando duas crianças. "Foram reduzidos a pedaços", declarou à AFP o médico Ahmed Abu Ud.

"A Otan atacou um grande edifício há dois dias, com 12 bombas. Havia 600 apartamentos e tudo ficou arrasado", conta Ashiq Husein, um eletricista paquistanês que fugiu com 11 familiares, entre eles seis crianças.

Mohammed Usba Hanish, um oficial pró-Kadafi de Sirte que se rendeu aos combatentes do Conselho Nacional de Transição (CNT), disse que "os homens de Kadafi apenas comem pão. Não têm comida nem munição".

Segundo um pró-CNT que vinha do front, cerca de 100 veículos, alguns fortemente armados, entraram neste sábado na cidade pelo sul, para invadir o Palácio de Congressos de Uagadugu, um imenso edifício onde o coronel Kadafi realizava cúpulas africanas.

Em Bani Walid, entretanto, os pró-CNT, muitos deles originários da região, disseram que renunciaram a lutar neste sábado após constatar a presença de escudos humanos.

O porta-voz do ex-regime kadafista, Musa Ibrahim, disse à televisão Arrai que em Sirte houve "bombardeios violentos com a ajuda de tanques e foguetes Grad (...) que destruíram bairros inteiros e casas", obrigando "centenas de moradores a abandonar a cidade".

O anúncio de sua captura na última quinta-feira "é uma mentira e não reflete a realidade, já que eu estava perto do front de Sirte com 23 combatentes. Fomos atacados durante mais de um dia e meio por rebeldes muito bem armados. Registramos dois mortos", declarou Ibrahim.

"Depois conseguimos nos dirigir a outros fronts", completou.

Paralelamente, a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) pediu aos dirigentes do CNT que ponham fim às prisões arbitrárias e aos maus tratos aplicados a prisioneiros na Líbia desde a queda de Kadafi.

Esta organização de defesa dos Direitos Humanos com sede em Nova York visitou 20 instalações penitenciárias em Trípoli e interrogou 53 prisioneiros.

"Os detidos indicaram maus tratos em seis prisioneiros, ressaltando em particular que foram agredidos e que receberam choques elétricos. Alguns deles exibiram cicatrizes para apoiar suas acusações. Nenhum deles foi apresentado a um juiz", denunciou a HRW em um comunicado.

Segundo a organização, milhares de pessoas foram detidas desde a queda do ex-líder Muamar Kadafi no final de agosto, em particular líbios negros ou africanos das regiões do sul do Saara acusados de ter combatido junto às forças leais a Kadafi. Nenhum dos presos entrevistados pela organização tinham sido apresentados a um juiz.

Grafite em um muro de Trípoli representa o ditador líbio, Muammar Kadafi, "bebendo" petróleo. Após a revolta contra o regime repressor de Kadafi, artistas de rua passaram a expressar mensagens políticas em muros e paredes da cidade
Grafite em um muro de Trípoli representa o ditador líbio, Muammar Kadafi, "bebendo" petróleo. Após a revolta contra o regime repressor de Kadafi, artistas de rua passaram a expressar mensagens políticas em muros e paredes da cidade
Foto: AP
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