Líbia: situação na fronteira tunisiana alcança nível de crise
A situação na fronteira entre Líbia e Tunísia atingiu um nível de "crítico" depois da passagem de 70 mil a 75 mil pessoas que fugiram da repressão do regime líbio desde 20 de fevereiro, anunciou nesta terça-feira o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).
"Nossas equipes na fronteira entre Líbia e Tunísia nos explicaram esta manhã que a situação na região alcançou um nível crítico", afirmou a porta-voz do Acnur, Melissa Fleming.
"Muitas pessoas esperam ser levadas o mais rápido possível (para fora da Tunísia), enquanto nós esperamos que entre 10 mil e 15 mil pessoas cheguem hoje procedentes da Líbia", acrescentou Fleming.
A porta-voz informou qinda que, segundo as autoridades tunisianas, entre 70 mil e 75 mil pessoas fugiram da Líbia para encontrar refúgio na Tunísia desde 20 de fevereiro.
Quase 14 mil pessoas atravessaram a fronteira na segunda-feira, o maior número registrado em apenas um dia.
Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi
Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.
Os relatos vindos do país não são precisos, mas tudo leva a crer que a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta do que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que Força Aérea líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido.
Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte.
Além do clamor das ruas, a pressão política também cresce contra o coronel Kadafi. Internamente, um ministro líbio renuncioue pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbiostambém pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade.