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África

Kadafi reage, mas vê pressão aumentar sobre seu governo

22 fev 2011 - 22h10
(atualizado em 23/2/2011 às 04h47)
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Há quase uma semana que os líbios saem às ruas inspirados pelos vizinhos tunisianos e egípcios, no sonho de dar fim ao mando de 40 anos que o coronel e líder revolucionário Muammar Kadafi estende pelo país. Os protestos vinham encontrando reação sobretudo nas ruas, na forma da repressão violenta das forças de segurança. Agora, nas últimas 24 horas, a população obteve reações de Kadafi - e, com elas, a chance de ver aumentar a pressão sobre o ditador.

info infográfico líbia infromações sobre o país
info infográfico líbia infromações sobre o país
Foto: AFP

Na noite de segunda, entre boatos de que Kadafi teria fugido em direção à América Latina, circulava o rumor de que o líder faria um pronunciamento à nação. O que se viu na TV estatal egípcia foi um Kadafi sentado dentro de um veículo, com a porta aberta e um braço para fora segurando um grande guarda-chuva branco aberto. Um microfone parecia se estender até ele, de modo que suas palavras de não mais que 30 segundos pudessem ser ouvidas: "Estou indo ver os jovens na praça verde. Só para provar que estou em Trípoli e não na Venezuela e desmentir as televisões, esses cachorros".

A segunda-feira, que havia sido um dia tenso extremamente, se tornou uma terça onde não se viram os prováveis efeitos desejados por Kadafi. Não apenas os protestos continuavam, mas também a repressão: relatos da rede Al Jazeera davam conta que seguiam os bombardeios de caças do exército contra os manifestantes na capital Trípoli. Ao longo do dia também chegariam relatos de protestos em Benghazi e em Tobruk.

Isso levou à convocação das atenções para um novo pronunciamento do líder. À tarde (cerca de meio dia em Brasília), Kadafi apareceu novamente na TV estatal. De sua residência bombardeada durante um ataque em 1986, como que em símbolo à resistência, Kadafi improvisou frases durante mais de uma hora. Entre pausas para rever os pensamentos, recuperar o fôlego ou consultar folhas de papel e um livro verde, rebaixou os manifestantes a "ratos" e atestou que quem desafiar o governo será sentenciado à "morte".

Impressionada, a chanceler alemã, Angela Merkel, classificou o discurso de "muito assustador". Já Kadafi tentou contemporizar a situação com o premiê italiano, Silvio Berlusconi. Il Cavaliere, cujo país é um antigo colonizador de cidades líbias, tentou pressionar o coronel, mas obteve como resposta o diagnóstico de que "está tudo bem na Líbia".

Ontem mesmo, num possível sinal de decomposição do governo, o embaixador líbio na Organização das Nações Unidas, Ibrahim Dabbashi, já havia considerado um "genocídio" a repressão contra os manifestantes. Hoje, os embaixadores líbios na França e na Unesco seguiram o colega e pediram o "fim do terror" no país. "Permaneceremos em nossos postos para servir ao povo livre da Líbia", indicaram Salah Zaren e Abdul Salam el Galali. O embaixador líbio nos Estados Unidos, Ali Aujali, pediu renúncia ao cargo.

Além do fogo das embaixadas, Kadafi também começou hoje a sentir um esboço de pressão interna. O ministro do Interior e general do Exército, Abdul Fatah Younis, pediu renúncia e pediu para que as Forças Armadas se unissem à população. "O bombardeio contra a população civil é o que me fez aderir à revolução, nunca imaginei que íamos chegar a disparar contra o povo", desabafou em comunicado.

E no final da noite desta terça, após um dia de reuniões convocadas com caráter emergencial, o Conselho de Segurança da ONU decidiu condenar a violência contra a população líbia e responsabilizar Kadafi. Mais cedo, ainda, o Conselho de Cooperação do Golfo - que responde diplomaticamente por países da região - pediu o fim do "genocídio" na Líbia. Inclusive a Jordânia - que também enfrenta protestos de sua população - exigiu o fim "imediato" do "banho de sangue".

Em Benghazi, estima-se que pelo menos 300 pessoas já tenham morrido. Os confrontos dos últimos dias em Trípoli podem ter deixado mais de 70 vítimas fatais. Se confirmados, essas dados indicariam que a Líbia, em menos de uma semana de revoltas, já perdeu tantos cidadãos quando o Egito perdeu em mais de 20 dias. No seu pronunciamento da tarde de hoje, Kadafi completou com sua visão sobre o rumo dos acontecimentos: "Eu sequer dei ordem para usar balas de verdade!".

Fonte: Terra
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