Forças de Kadafi contra-atacam e bombardeiam Ras Lanuf
A força aérea leal a Muamar Kadafi bombardeou neste domingo o porto de Ras Lanuf, ao leste de Trípoli, informou à emissora Al Jazeera um morador da cidade controlada pelos rebeldes e situada entre a capital e Sirte. A ação ocorre em meio a um contra-ataque no leste do país, cujo objetivo é avançar sobre a cidade Lanuf - que está em mãos rebeldes -, deter o avanço em Ben Jawad e lançar um novo ataque com blindados a Zawiya.
Segundo o correspondente da emissora Al Jazeera em Benghazi, os revolucionários já estavam a 50 km de Sirte quando um grupo foi alvo de um intenso fogo das forças leais a Kadafi ao se direcionar a Ben Jawad. Por outro lado, outro correspondente do canal afirmou por telefone que os rebeldes pretendem entrar em Sirte neste domingo a partir de Ras Lanuf, mas que no momento estão em Al Wadi al Ahmar para fazer frente às forças de Kadafi e prosseguir para Sirte.
Enquanto as brigadas de Kadafi tentavam conter o avanço rebelde por terra, alguns jornalistas que acompanham os revolucionários no porto petrolífero de Ras Lanuf relataram que as forças aéreas de Kadafi bombardearam o enclave sob controle dos opositores. Em Zawiya, que enfrenta graves problemas de abastecimento e comunicações, a Al Jazeera contatou os moradores, que pediam ajuda externa e revelaram que os blindados enviados neste sábado em reforço ao cerco à cidade já estavam dentro da localidade neste domingo.
Durante três dias, as tropas do Governo sitiaram Zawiya, onde foram registrados alguns dos mais violentos combates desde que começou a rebelião contra Kadafi. Enquanto isso, inúmeros apoiadores de Kadafi saíram na manhã deste domingo às ruas de Trípoli para celebrar as "vitórias" obtidas pelo regime, não confirmadas e nem desmentidas por fontes rebeldes, depois que a rede de televisão estatal líbia anunciou que tinham sido derrotados em Zawiya, Rus Lanuf, Misrata e inclusive em Tobruk, no extremo leste do país.
Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi
Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.
Os relatos vindos do país não são precisos, mas a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que aeronáutica líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido. Muitas dezenas de milhares já deixaram o país.
Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte. Desde então, as aparições televisivas do líder líbio têm sido frequentes, variando de mensagens em que fala do amor da população até discursos em que promete vazar os olhos da oposição.
Não apenas o clamor das ruas, mas também a pressão política cresce contra o coronel. Internamente, um ministro líbio renunciou e pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbios também pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade. Mais recentemente, o Tribunal Penal Internacional iniciou investigações sobre as ações de Kadafi, contra quem também a Interpol emitiu um alerta internacional.