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Oriente Médio

Exército e rebeldes sírios aceitam cessar-fogo temporário

25 out 2012 - 13h03
(atualizado às 15h51)
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O Exército sírio emitiu nesta quinta-feira um comunicado no qual afirma que suspenderá suas operações militares da sexta-feira de manhã até segunda-feira. Com isso, o regime do presidente Bashar al-Assad atende ao apelo do mediador internacional Lakhdar Brahimi por uma trégua por ocasião do Eid al-Adha, a festa mais sagrada para os muçulmanos, celebrada de 26 a 29 de outubro. Os rebeldes que já haviam recebido positivamente a trégua proposta por Brahimi asseguraram que têm o direito de responder caso sejam atacados pelas tropas do regime. Já a Frente Al-Nusra, um grupo islamita que reivindicou atentados contra o regime, rejeitou a trégua.

Brahimi (dir.) discutiu a trégua com o presidente Bashar al-Assad durante encontro em Damasco no último domingo
Brahimi (dir.) discutiu a trégua com o presidente Bashar al-Assad durante encontro em Damasco no último domingo
Foto: AP

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"Por ocasião do Eid al-Adha, o comando das Forças Armadas sírias anuncia a suspensão das operações militares no território da república a partir da manhã de sexta-feira até segunda-feira", indica o comunicado. Brahimi, que substituiu Kofi Annan como mediador da ONU para o conflito, afirmou na quarta-feira que havia costurado um acordo de cessar-fogo entre o regime de Assad e alguns grupos de combatentes rebeldes.

Mas o curto acordo de paz temporária, fruto de intenso trabalho diplomático de Brahimi, não tem sua validade assegurada. No mesmo comunicado, o Exécito afirma que "se reserva o direito de responder se os grupos terroristas armados continuarem a atirar em civis e nas forças do governo, a atacar bens públicos e privados, ou a utilizar carros-bomba e bombas".

É a mesma postura adotada pelo Exército Livre da Síria (ELS), principal força militar dos insurgente. "Vamos respeitar o cessar-fogo a partir de amanhã de manhã se o exército sírio fizer o mesmo", disse o general Mustafa al-Sheikh por telefone da Turquia. "Mas se eles dispararem um único tiro, vamos responder com 100. Então nós nos reservamos o direito de responder".

Em março deste ano, o então enviado especial da ONU da Liga Árabe, Kofi Annan, lançou as bases de um plano de pacificação do conflito político sírio. Após alguns dias de vigência e arrefecimento dos combates, tropas governamentais e oposicionistas retomaram os combates, fazendo fracassar a estratégia de Annan, que ulteriormente renunciaria ao cargo de representante especial para a crise no país árabe.

"Viemos para passar o Eid com vocês"

No terreno, os rebeldes aumentaram o controle sobre Aleppo, a segunda maior cidade da Síria que vive intensos combates há mais de três meses. De acordo com moradores de Achrafiyé, bairro de maioria curda no norte de Aleppo, cerca de 200 rebeldes penetraram nesta quinta-feira no início da manhã no norte desta área, que vinha sendo poupada dos combates e onde vivem muitos refugiados. Devido a um acordo tácito, nem os rebeldes nem o Exército tinham entrado até o momento em Cheikh Maqsoud e em Achrafiyé, bairros controlados pelas forças curdas.

"Franco-atiradores entraram nos prédios e cerca de cinquenta homens armados, vestidos de preto e usando na cabeça faixas com lemas islâmicos, ocuparam uma escola", relatou um habitante. "Eu ouvi alguns deles dizerem aos moradores: 'Viemos para passar o Eid com vocês'", acrescentou. O Eid al-Adha é uma das festas mais sagradas dos muçulmanos.

Aos embaixadores dos 15 países membros do Conselho de Segurança, o emissário da Liga Árabe e da ONU ressaltou que o cessar-fogo, caso seja respeitado, será um "pequeno passo" para uma possível abertura de um diálogo político e para um melhor acesso humanitário.

Mas, após 19 meses de um conflito que já causou a morte de mais de 35.000 pessoas, segundo uma ONG síria, a desconfiança entre os dois lados é tanta que Brahimi declarou que "não pode garantir que a trégua será bem-sucedida", de acordo com um diplomata.

O cessar-fogo, de qualquer maneira, traria um pouco de descanso para uma população que sofre constantemente com a violência. O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) afirmou que está pronto, em caso de trégua, para enviar ajuda a milhares de famílias em locais até o momento inacessíveis.

"Apenas sobrevivemos"

"Nós apenas sobrevivemos. Eu pedi dinheiro emprestado para o meu irmão só para comer. As escolas estão fechadas em Aleppo e as crianças ficam em casa durante todo o dia. Eu nem deixo que elas comprem doces de tanto medo", disse à AFP uma mãe de 36 anos.

Na província de Damasco, o Exército, que tenta ganhar terreno, bombardeou Harasta e seus arredores, enquanto combates foram travados no sul da capital.

Duzentos km a leste de Aleppo, os rebeldes tomaram ao amanhecer o controle de um posto do Exército que estava cercado há dias em Raqa. Os combatentes mataram três soldados e recuperaram armas e um tanque, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Na mesma província, um padre que negociava a libertação de um médico cristão foi encontrado enforcado, segundo moradores e o patriarca ortodoxo.

Enquanto isso, a Rússia, forte aliada de Damasco, acusou os Estados Unidos de coordenarem e garantirem apoio logístico para a entrega de armas aos rebeldes sírios, apesar de Washington assegurar que não fornece nenhum tipo de ajuda militar à rebelião síria. "Os Estados Unidos asseguram a coordenação e o apoio logístico" das entregas de armas para "grupos armados ilegais", declarou a diplomacia russa em um comunicado.

A nova comissária da ONU, Carla del Ponte, integrante da Comissão de Investigação sobre violações dos direitos humanos na Síria, declarou que deseja identificar as autoridades responsáveis pelos crimes contra a Humanidade e por crimes de guerra cometidos neste país, enquanto a comissão ainda espera ser recebida por Damasco.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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