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África

Executivo do Google ganha status de herói em revolta egípcia

9 fev 2011 - 15h30
(atualizado às 15h47)
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O ciberativista Wael Ghonim, um jovem executivo da gigante da internet Google, liderou milhares de manifestantes favoráveis à democracia no Egito e se catapultou como estrela entre os jovens, graças ao Facebook.

Wael Ghonim: "não sou um herói, dormi durante 12 dias. Os herois são os que estavam nas ruas"
Wael Ghonim: "não sou um herói, dormi durante 12 dias. Os herois são os que estavam nas ruas"
Foto: AP

Em parte marqueteiro, e em parte um 'cyber-geek' engajado, o executivo de 30 anos que lançou em 25 de janeiro um chamado para protestar contra o regime egípcio tem a aparência de um político em ascensão e um ar de intelectual.

No país, mais da metade da população nasceu depois de o presidente Hosni Mubarak ter tomado o poder, há 30 anos. Como aconteceu durante a revolução na Tunísia, os internautas egípcios modificaram o famoso slogan do presidente americano, Barack Obama, e disseram: "Yes, we can too" ("sim, nós podemos também").

Ghonim - diretor de marketing do Google para Oriente Médio e América do Norte, casado e com formação em engenharia da computação e negócios, mora em Dubai - viajou ao Cairo dois dias antes de as revoltas anti-Mubarak começarem.

Já elevado ao status de campeão anônimo da oposição, mobilizando manifestantes pró-democracia por meio de uma página no Facebook, Ghonim foi preso em 27 de janeiro.

Os serviços de segurança detiveram e interrogaram Ghonim por 12 dias, durante os quais a praça Tahrir, epicentro dos protestos no Egito, encheu de gente que pedia a saída de Mubarak.

Na última terça-feira, um dia depois de sua libertação, ele fez uma entrada triunfante na praça, onde foi elevado ao status de herói. "Não sou herói, vocês são os heróis, vocês são os que ficaram na praça", disse Ghonim à multidão eufórica que cantava nos intervalos: "vida longa ao Egito, vida longa ao Egito!" e "nós queremos que o regime caia!".

Em uma coletiva de imprensa realizada posteriormente, Ghonim disse que não era possível chamar a revolta de "revolução do Facebook". "Depois de ver as pessoas agora, eu diria que esta é uma revolução do povo egípcio. É maravilhoso", disse.

Em uma entrevista à emissora egípcia Dream 2, Ghonim informou ter sido o criador da página no Facebook "nós todos somos Khaled Said", em homenagem ao jovem morto pela polícia em Alexandria em junho ao sair de um cybercafé.

Enquanto a emissora transmitia imagens de jovens "mártires" que morreram, Ghonim chorou. "Gostaria de dizer a cada mãe, cada pai que perdeu seu filho, me desculpe. Não é nossa culpa, eu juro, não é nossa culpa. É culpa de todos que estão no poder e querem se prender a ele", disse.

Ele evitou amplamente a mídia tradicional, preferindo comunicar-se diretamente por redes sociais. Sua página no Facebook tem 90 mil fãs antes de sua libertação, hoje conta com 220 mil.

As autoridades egípcias lançaram um diálogo nacional com a oposição, mas os jovens reuniram-se na praça Tahrir para rejeitar a participação - e enquanto eles ainda não têm um líder, aparentemente já têm um porta-voz.

Protestos convulsionam o Egito

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet, principalmente pelo uso da hashtag #Jan25 no Twitter -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. O presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak. A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo.

O dia seguinte, 2 de fevereiro, no entanto, foi novamente de caos. Manifestantes pró e contra Mubarak travaram uma batalha campal na praça Tahrir com pedras, paus, facas e barras de ferro. Nos dias subsequentes os conflitos cessaram e, após um período de terror para os jornalistas, uma manifestação que reuniu milhares na praça Tahrir e impasses entre o governo e oposição, a Irmandade Muçulmana começou a dialogar com o governo. Enquanto isso, começaram a aparecer sinais de que Mubarak deve permanecer no cargo durante o processo de transição.



AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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