PUBLICIDADE

Distúrbios no Mundo Árabe

ElBaradei: se o povo quiser, serei uma ponte para a democracia

30 jan 2011 - 13h29
(atualizado às 14h32)
Compartilhar

O egípcio Mohammed ElBaradei, prêmio Nobel da Paz em 2005 quando dirigia a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e um dos principais opositores do governo de Hosni Mubarak, disse em entrevista à rede de televisão CNN que está disposto a ser "uma ponte para a democracia, se o povo egípcio quiser". ElBaradei entende que o país precisa que Mubarak renuncie imediatamente e que haja "um período de transição, de união nacional, eleições livres e uma constituição democrática".

Mohamed ElBaradei ganhou o Nobel da Paz em 2005 por seus esforços para evitar que a energia nuclear seja usada para fins militares
Mohamed ElBaradei ganhou o Nobel da Paz em 2005 por seus esforços para evitar que a energia nuclear seja usada para fins militares
Foto: AFP

Sobre a preocupação de que o Egito possa se tornar um novo regime sob o poder do fundamentalismo islâmico, ElBaradei disse que isso é um "mito" criado por Mubarak e que o Movimento Irmandade Muçulmana, que ganhou força na sociedade egípcia nos últimos dias, não é extremista. "Eles são a favor de um estado laico e de uma constituição segura. Precisamos incluí-los na sociedade egípcia. Eles estão muito distantes das nações fundamentalistas", afirmou o nobel.

Perguntado se queria que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, viesse a público e pedisse a renúncia de Mubarak, ElBaradei afirmou que sim e que "eu acho que isso vai acontecer, se não hoje, amanhã. Nos próximos três dias ele deve sair, não há o que fazer".

Mohammed ElBaradei também defende que não deve haver uma divisão entre o povo e o exército, mas uma cooperação para superar a crise. "Eu não acho que o exército está tomando conta do país. Se você olhar bem, há milhares de pessoas por todos os lados. O exército não vai mudar sua personalidade, nós precisamos é mudar o sistema. O exército é parte do Egito e devemos trabalhar juntos", disse à CNN.

Devido à sua atuação política, as autoridades egípcias detiveram Mohammed ElBaradei na última sexta-feira. Segundo a rede de televisão Al Jazeera, ElBaradei estava em uma mesquita do bairro de Giza, e, ao tentar deixar o local, foi impedido pela polícia, que também proibiu a saída do dirigente da oposição Ossama Ghazali. Ele acabou sendo liberado ainda na sexta-feira. ElBaradei estava no exterior e retornou na última quinta-feira ao Egito. Em 2010, ele fundou a Associação Nacional para a Mudança.

Negociador

Lideradas pela Irmandade Muçulmana, as forças de oposição do Egito encarregaram ElBaradei de negociar com o regime do presidente Hosni Mubarak uma solução para a crise no país. O dirigente Saad al-Katatni disse à Efe por telefone que "o comitê (criado neste domingo pela oposição para negociar com Mubarak) poderá realizar amanhã uma reunião com responsáveis militares para analisar uma possível mudança do regime no Egito".

Egípcios desafiam governo Mubarak

A onda de protestos dos egípcios contra o governo do presidente Hosni Mubarak, iniciados no dia 25 de janeiro, tomou nova dimensão na última sexta-feira. O governo havia tentado impedir a mobilização popular cortando o sinal da internet no país, mas a medida não surtiu efeito. No início do dia, dois mil egípcios participaram de uma oração com o líder oposicionista Mohamad ElBaradei, que acabou sendo temporariamente detido e impedido de se manifestar.

Os protestos tomaram corpo, com dezenas de milhares de manifestantes saindo às ruas das principais cidades do país - Cairo, Alexandria e Suez. Mubarak enviou tanques às ruas e anunciou um toque de recolher, o qual acabou virtualmente ignorado pela população. Os confrontos com a polícia aumentaram, e a sede do governista Partido Nacional Democrático foi incendiada.

Já na madrugada de sábado (horário local), Mubarak fez um pronunciamento à nação no qual ele disse que não renunciaria, mas que um novo governo seria formado em busca de "reformas democráticas". Defendeu a repressão da polícia aos manifestantes e disse que existe uma linha muito tênue entre a liberdade e o caos. A declaração do líder egípcio foi seguida de um pronunciamento de Barack Obama, que pediu a Mubarak que fizesse valer sua promessa de democracia.

O governo encabeçado pelo premiê Ahmed Nazif confirmou sua renúncia na manhã de sábado. Passaram a fazer parte do novo governo o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro de Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que inaugura o cargo de vice-presidente do Egito - posto inexistente no país desde o início do governo de Mubarak, em 1981.

Mubarak, à revelia da pressão popular que persiste nas cidades egípcias, não renunciou. Segundo o último balanço feito pela agência AFP junto a fontes médicas, já passam de 100 os mortos desde o início dos protestos, na última terça.



Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade