PUBLICIDADE

Mundo

ElBaradei pede que Estados Unidos desistam de apoiar Mubarak

31 jan 2011 - 07h56
(atualizado às 08h39)
Compartilhar

O oposicionista egípcio, Mohamed ElBaradei, pressionou os EUA no domingo a apoiar os pedidos para que o presidente Hosni Mubarak renuncie, dizendo que o "longo apoio ao ditador" precisa acabar.

Ministros do governo renunciam no Egito:

Numa série de entrevistas no Cairo, para redes de TV americanas, ElBaradei também disse que ele tem poder para negociar um governo de coalizão e que breve vai se aproximar do exército egípcio, no centro do poder no Egito há mais de meio século.

ElBaradei, ganhador do Prêmio Nobel da Paz pelo seu trabalho com a agência nuclear da ONU, disse que é apenas uma questão de tempo até que Mubarak, que governa o Egito há trinta anos, renuncie. Ele pediu que o presidente dos EUA, Barack Obama, tome uma posição.

"É melhor para o presidente Obama, que ele não seja a última pessoa a dizer ao presidente Mubarak: Está na hora de você sair", ele disse à rede de TV CNN.

ElBaradei, um possível candidato na eleição presidencial do Egito, esse ano, rejeitou os apelos dos EUA para que Mubarak faça amplas reformas econômicas e democráticas, em resposta aos protestos.

"O governo americano não pode pedir aos egípcios que acreditem que um ditador que está no poder há trinta anos, vai implementar a democracia. Isso é uma farsa", ele disse ao programa Face the Nation, de rede de TV CBS.

"A primeira coisa que vai acalmar a situação, será a saída de Mubarak e que ele o faça com alguma dignidade. Caso contrário, temo que a situação fique sangrenta. E vocês, (os EUA) precisam acabar com este longo apoio ao ditador e torcer pelo povo."

ElBaradei voltou ao Egito na noite de quinta-feira, em meio às grandes manifestações de protesto, que deixaram Mubarak se agarrando ao poder e com o exército nas ruas. ElBaradei falou aos manifestantes no Cairo, no domingo.

Unidade Nacional

"Fui autorizado - tenho um mandato - pelas pessoas que organizaram essas manifestações e por diversos outros partidos, para fazer um acordo de um governo de coalizão nacional," ElBaradei disse à CNN.

"Espero logo poder entrar em contato com o exército, precisamos trabalhar em conjunto. O exército é parte do Egito."

O presidente Obama está procurando se equilibrar cuidadosamente, tentando evitar o abandono aberto a Mubarak - um importante aliado estratégico dos EUA há trinta anos - enquanto ao mesmo tempo apoia os manifestantes que buscam mais direitos políticos e exigem a sua saída.

A resposta dos EUA ao retorno de ElBaradei até agora tem sido o silêncio, talvez sinalizando uma certa relutância em ser visto como uma se estivesse interferindo num país que recebe de Washington uma ajuda anual de cerca de US$ 1,5 bilhões.

ElBaradei é muito conhecido em Washington. Ele teve uma relação difícil com a administração do ex-presidente George W. Bush, depois que ele contestou a justificativa dos EUA para a invasão do Iraque, em 2003.

Cedo no domingo, um proeminente membro da Irmandade Muçulmana do Egito disse que as forças da oposição egípcia haviam concordado em apoiar ElBaradei a negociar com o governo.

Em suas entrevistas nos EUA, ElBaradei rejeitou as preocupações sobre extremismo dentro da Irmandade Muçulmana, que é popular entre os mais desfavorecidos, em parte porque ela oferece ajuda social e econômica nos bairros mais carentes.

"Eles não são extremistas. Não estão de jeito nenhum usando violência," ele disse ao programa This Week da rede de TV ABC.

"Foi isso que o regime... vendeu ao Ocidente e aos EUA... somos nós, a repressão ou os islamitas iguais aos da Al-Quaeda."

Ele também rejeitou preocupações de que islamitas radicais estejam por trás da revolta, dizendo que os manifestantes "não têm absolutamente nenhuma ideologia além de quererem enxergar um futuro de esperança, respeito pela sua dignidade e necessidades básicas."

Alguns analistas questionam se ElBaradei, de 68 anos de idade, cuja carreira foi desenvolvida principalmente no exterior, terá influência junto às forças armadas do Egito.

ElBaradei disse que não acredita que o exército se "voltaria contra o povo," se ordenassem. "Acho que o exército está muito do lado do povo," ele disse.

Egípcios desafiam governo Mubarak

A onda de protestos dos egípcios contra o governo do presidente Hosni Mubarak, iniciados no dia 25 de janeiro, tomou nova dimensão na última sexta-feira. O governo havia tentado impedir a mobilização popular cortando o sinal da internet no país, mas a medida não surtiu efeito. No início do dia, dois mil egípcios participaram de uma oração com o líder oposicionista Mohamad ElBaradei, que acabou sendo temporariamente detido e impedido de se manifestar.

Os protestos tomaram corpo, com dezenas de milhares de manifestantes saindo às ruas das principais cidades do país - Cairo, Alexandria e Suez. Mubarak enviou tanques às ruas e anunciou um toque de recolher, o qual acabou virtualmente ignorado pela população. Os confrontos com a polícia aumentaram, e a sede do governista Partido Nacional Democrático foi incendiada.

Já na madrugada de sábado (horário local), Mubarak fez um pronunciamento à nação no qual ele disse que não renunciaria, mas que um novo governo seria formado em busca de "reformas democráticas". Defendeu a repressão da polícia aos manifestantes e disse que existe uma linha muito tênue entre a liberdade e o caos. A declaração do líder egípcio foi seguida de um pronunciamento de Barack Obama, que pediu a Mubarak que fizesse valer sua promessa de democracia.

O governo encabeçado pelo premiê Ahmed Nazif confirmou sua renúncia na manhã de sábado. Passaram a fazer parte do novo governo o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro de Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que inaugura o cargo de vice-presidente do Egito - posto inexistente no país desde o início do governo de Mubarak, em 1981.

Mubarak, à revelia da pressão popular que persiste nas cidades egípcias, ainda não deu sinais de que irá renunciar. No domingo, o presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou a ampliação do toque de recolher, bem como o retorno da política antimotins para tentar conter as manifestações. E a a emissora Al Jazeera, que vinha cobrindo de perto os tumultos, foi impedida de funcionar.

Enquanto isso, a oposição segue se articulando em direção a um possível novo governo para o país. Em um dos momentos mais marcantes desde o início dos protestos, ElBaradei discursou na praça Tahrir e garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Já passam de 100 os mortos desde o início dos protestos, na última terça.

Reuters Reuters - Esta publicação inclusive informação e dados são de propriedade intelectual de Reuters. Fica expresamente proibido seu uso ou de seu nome sem a prévia autorização de Reuters. Todos os direitos reservados.
Compartilhar
Publicidade