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Mundo

ElBaradei: EUA perdem credibilidade ao apoiar Mubarak

30 jan 2011 - 14h25
(atualizado às 16h22)
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Os Estados Unidos perdem sua credibilidade ao defender a democratização do Egito ao mesmo tempo em que mantêm o apoio ao presidente Hosni Mubarak, no poder há três décadas, denunciou neste domingo o opositor egípcio Mohamed ElBaradei, entrevistado pela rede americana CBS.

"O governo americano não pode pedir ao povo egípcio que acredite que um ditador que está no poder há 30 anos será aquele que vai instalar a democracia no Egito", ironizou ElBaradei, entrevistado no Cairo pela produção do programa Face the Nation.

"Vocês estão perdendo a credibilidade dia após dia", alertou ElBaradei, falando do governo americano.

"Por um lado, falam em democracia, de Estado de direito, de direitos humanos, e por outro, aportam seu apoio a um ditador que continua oprimindo seu povo", destacou, insistindo que Mubarak deve deixar a presidência o quanto antes. Para ElBaradei, os EUA precisam se posicionar claramente ao lado dos manifestantes.

O ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) foi encarregado pela oposição egípcia neste domingo de negociar com o regime de Mubarak em nome da Coalizão Nacional pela Mudança, que agrupa vários movimentos opositores do país, entre eles a Irmandade Muçulmana.

Neste domingo, a chefe da diplomacia norte-americana Hillary Clinton defendeu uma "transição organizada" do poder no Egito, afirmando que Hosni Mubarak não fez o suficiente pela democracia em seu país.

"Desejamos ver uma transição organizada. Exigimos insistentemente do governo de Mubarak, que ainda está no poder (...), que faça o que for necessário para facilitar este tipo de transição organizada", disse Hillary, também em entrevista à CBS.

"É claro que não", respondeu a secretária de Estado, a uma pergunta da rede ABC sobre se as mudanças políticas anunciadas neste final de semana por Mubarak são suficientes.

"É apenas o começo do que deve acontecer, um processo que leve a medidas concretas para culminar com as reformas democráticas e econômicas que temos pedido, e das quais o próprio presidente Mubarak falou em seu discurso (de sexta-feira)", acrescentou Hillary.

Entretanto, o governo do presidente Barack Obama não pretende neste momento suspender a ajuda financeira que dá ao Egito, ou mesmo considerar esta hipótese, segundo Hillary.

"Não há qualquer discussão neste momento sobre o corte de qualquer ajuda", enfatizou a secretária de Estado, falando à ABC.

"Estudamos e revisamos nossa ajuda constantemente, mas por agora buscamos transmitir uma mensagem muito clara: o que desejamos é que não haja violência ou qualquer provocação que desencadeie a violência", afirmou.

Na sexta-feira, o porta-voz da Casa Branca Robert Gibbs indicara que o governo pode eventualmente rever a ajuda financeira ao Egito, em função da resposta das autoridades aos manifestantes que pedem a saída de Mubarak.

O Egito é um dos maiores beneficiários da ajuda americana no mundo, recebendo em torno de 1,3 bilhão de dólares por ano em ajuda militar.

Egípcios desafiam governo Mubarak

A onda de protestos dos egípcios contra o governo do presidente Hosni Mubarak, iniciados no dia 25 de janeiro, tomou nova dimensão na última sexta-feira. O governo havia tentado impedir a mobilização popular cortando o sinal da internet no país, mas a medida não surtiu efeito. No início do dia, dois mil egípcios participaram de uma oração com o líder oposicionista Mohamad ElBaradei, que acabou sendo temporariamente detido e impedido de se manifestar.

Os protestos tomaram corpo, com dezenas de milhares de manifestantes saindo às ruas das principais cidades do país - Cairo, Alexandria e Suez. Mubarak enviou tanques às ruas e anunciou um toque de recolher, o qual acabou virtualmente ignorado pela população. Os confrontos com a polícia aumentaram, e a sede do governista Partido Nacional Democrático foi incendiada.

Já na madrugada de sábado (horário local), Mubarak fez um pronunciamento à nação no qual ele disse que não renunciaria, mas que um novo governo seria formado em busca de "reformas democráticas". Defendeu a repressão da polícia aos manifestantes e disse que existe uma linha muito tênue entre a liberdade e o caos. A declaração do líder egípcio foi seguida de um pronunciamento de Barack Obama, que pediu a Mubarak que fizesse valer sua promessa de democracia.

O governo encabeçado pelo premiê Ahmed Nazif confirmou sua renúncia na manhã de sábado. Passaram a fazer parte do novo governo o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro de Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que inaugura o cargo de vice-presidente do Egito - posto inexistente no país desde o início do governo de Mubarak, em 1981.

Mubarak, à revelia da pressão popular que persiste nas cidades egípcias, não renunciou. Segundo o último balanço feito pela agência AFP junto a fontes médicas, já passam de 100 os mortos desde o início dos protestos, na última terça.



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