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Mundo

Diplomatas líbios desertam para protestar contra regime Kadafi

22 fev 2011 - 09h00
(atualizado às 09h40)
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Inúmeros diplomatas líbios de alto escalão desertaram o regime de Muamar Kadhafi em protesto contra a morte de civis e o uso de força aérea contra os manifestantes na Líbia, cenário de uma revolta popular sem precedentes.

O embaixador adjunto da Líbia na ONU, Ibrahim Dabbashi, exigiu a renúncia de Kadhafi, a quem acusou de "genocídio". A missão diplomática líbia ns Nações Unidas anunciou a ruptura com o regime, explicou ao jornal The New York Times, mas sem confirmar a postura do embaixador Abdurrahman Shalgham, a quem não vê desde sexta-feira passada.

No domingo, o representante permanente da Líbia ante a Liga Árabe, Abdel Moneim al Honi, abandonou o posto para "unir-se à revolução" que tem lugar no país.

Altos dirigentes na Austrália, China, Índia e Malásia romperam relações com o líder líbio, afirmando que a matança foi longe demais e que, para o povo, Kadafi perdeu qualquer legitimidade.

"Minha renúncia se deve à violência em massa contra civis em meu país", declarou o embaixador líbio na Índia, Ali al Essawi, à AFP.

"Ontem começaram a utilizar aviões para bombardear civis que se manifestavam pacificamente. Isto é inaceitável", acrescentou.

Al Essawi pediu à comunidade internacional e aos membros do Conselho de Segurança da ONU para que imponham uma zona de proibição de voos em seu país, similar à que foi instaurada em 1991 durante a era de Saddam Hussein no Iraque, depois da primeira Guerra do Golfo.

A embaixada da Líbia na Austrália rompeu suas relações com Trípoli, anunciou o conselheiros cultural da delegação, Omran Zwed, ao jornal The Australian.

Na Malásia, os funcionários da embaixada líbia condenou o "massacre" de manifestantes opostos ao governo, e retirou seu apoio a Kadhafi.

"Não somos leais a ele (Kadhafi), somos leais ao povo líbio", declarou o embaixador Bubaker al Mansori à AFP.

Na segunda-feira, um alto diplomata líbio destacado na China, Hussein Sadiq al-Musrati, renunciou a seu cargo durante uma entrevista ao vivo ao canal de televisão do Qatar Al-Jazeera, enquanto eram recebidas informações não confirmadas de que o embaixador líbio em Bangladesh também havia se demitido.

Apesar de uma breve aparição de 22 segundos na televisão na segunda-feira, o poder de Kadhafi se enfraquece. Vários pilotos de combate renunciaram, negando-se a bombardear os manifestantes.

Mundo árabe em convulsão

A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Alie do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.

No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.

Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muamar Kadafi, a população entra em sangrento confronto com as forças de segurança; em meio à onda de violência, um filho de Kadafifoi à TV estatal do país para tirar a legitimidade dos protestos, acusando um "complô" para dividir o país e suas riquezas. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.

Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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