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África

Conselho de Segurança autoriza ataques aéreos na Líbia

17 mar 2011 - 19h43
(atualizado em 22/3/2011 às 16h29)
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O Conselho de Segurança da ONU aprovou nesta quinta-feira a realização de ataques aéreos contra as forças de Muammar Kadafi, que lutam contra rebeldes na Líbia, sendo que os primeiros bombardeios estão previstos para breve. A medida recebeu o respaldo de 10 dos 15 membros do principal órgão de segurança internacional, enquanto nenhum votou contra e os outros cinco se abstiveram - entre eles, o Brasil.

A resolução permite "todas as medidas necessárias" para proteger áreas civis e impor militarmente um cessar-fogo a Kadafi. A medida teve 10 votos a favor, nenhum contra e 5 abstenções, incluindo as de China e Rússia, que não utilizaram seu direito a veto.

A resolução foi adotada no momento em que Kadafi anunciava o ataque contra Benghazi, bastião dos rebeldes. O ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, advertiu que não há muito tempo para interveir. "Pode ser uma questão de horas".

Os países que se abstiveram foram Brasil, Índia, Alemanha, China e Rússia, sendo que estes dois últimos são membros permanentes do Conselho de Segurança e que teriam vetado a medida se houvessem votado contra. "A resolução de hoje leva em conta a causa do povo da Líbia e pretende acabar com os crimes atrozes contra o povo cometidos pelas autoridades líbias", disse após a votação o embaixador do Líbano, Nawaf Salam, país que junto com França, Reino Unido e EUA impulsionaram a resolução adotada.

O representante do único país árabe no Conselho afirmou que as autoridades líbias "perderam toda sua legitimidade", e ressaltou que as medidas autorizadas não incluem a ocupação do país por parte de tropas estrangeiras. Por sua vez, o ministro de Relações Exteriores da França, Alain Juppé, que viajou hoje a Nova York para assistir à votação, disse que Kadafi tenta "achatar" a vontade de seu povo de viver em democracia.

"Não podemos abandonar a população civil e as vítimas da repressão brutal, não podemos permitir que seja derrubada a legalidade e a moralidade internacional", disse o chefe da diplomacia francesa. Juppé garantiu que a França está disposta a atuar com rapidez junto com seus "aliados e os países árabes".

A Alemanha, por sua vez, declarou que apoia "completamente" o pacote de sanções econômicas e financeiras incluso na resolução, mas reconheceu que "as decisões que implicam no uso da força militar são sempre difíceis de tomar". "Vemos grandes riscos e não deveria ser desprezado o risco de perda de muitas vidas. Vemos o perigo de estarmos envolvidos em um conflito militar que poderá afetar uma região mais ampla", disse o embaixador germânico perante a ONU, Peter Wittig.

Ainda que a resolução estabeleça a possibilidade de ataques aéreos, ao mesmo tempo, o texto exclui a presença de "qualquer força de ocupação estrangeira, de qualquer tipo, em qualquer parte do território líbio". A resolução endurece o embargo de armas à Líbia e reforça as sanções impostas no mês passado a Kadafi e seu círculo mais próximo de colaboradores.

Entre as primeiras reações favoráveis esteve a do diretor-executivo da Human Rights Watch (HRW), Ken Roth, que afirmou que "pela segunda vez em um mês, o Conselho desafiou as expectativas e deixou claro que todas as opções estão sobre a mesa para prevenir atrocidades".

Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi

Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.

Os relatos vindos do país não são precisos, mas a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que aeronáutica líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido. Muitas dezenas de milhares já deixaram o país.

Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte. Desde então, as aparições televisivas do líder líbio têm sido frequentes, variando de mensagens em que fala do amor da população até discursos em que promete vazar os olhos da oposição.

Não apenas o clamor das ruas, mas também a pressão política cresce contra o coronel. Internamente, um ministro líbio renunciou e pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbios também pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade. Mais recentemente, o Tribunal Penal Internacional iniciou investigações sobre as ações de Kadafi, contra quem também a Interpol emitiu um alerta internacional.

Medida teve 10 votos a favor, nenhum contra e 5 abstenções, incluindo as de China e Rússia, que não utilizaram seu direito a veto
Medida teve 10 votos a favor, nenhum contra e 5 abstenções, incluindo as de China e Rússia, que não utilizaram seu direito a veto
Foto: AFP
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