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Mundo

Confrontos deixam 3 mortos e mais de 630 feridos no Cairo

2 fev 2011 - 13h45
(atualizado às 19h59)
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Pelo menos três pessoas morreram e outras 639 ficaram feridas nesta quarta em confrontos violentos no Cairo entre partidários e adversários do presidente Hosni Mubarak, segundo balanço divulgado pelo ministro da Saúde egípcio.

Egito: Exército pede que manifestantes deixem as ruas:

Os embates se concentraram na praça Tahrir, que se tornou em um campo de batalha. Houve relatos de falta assistência médica e ambulâncias para socorrer quem estava em estado mais grave. Além dos confrontos com paus, pedras e coquetéis Molotov, apoiadores de Mubarak atiraram blocos de pedra sobre os manifestantes da oposição, do telhado de prédios que dão para a praça Tahrir, segundo informações da rede Al Jazeera.

Os enfrentamentos começaram depois que o exército não impediu que partidários de Mubarak, alguns em cima de cavalos e camelos, entrassem na praça. Recebidos a pedradas, alguns foram retirados de cima dos animais e espancados, e por fim expulsos da praça. A oposição acusou policiais à paisana de se infiltrar no protesto. Ao cair da noite, granadas de gás lacrimogêneo foram atiradas contra os manifestantes.

"O PND (Partido Nacional Democrata) pró-Mubarak e a polícia secreta vestida à paisana invadiram a praça para acabar com o protesto", afirmou o manifestante Mohammed Zomor, 63 anos, de acordo com a agência AFP. Uma testemunha citada pela agência Reuters viu dezenas de feridos sendo removidos do local, alguns com sangue escorrendo da cabeça.

Segundo imagens da rede Al Jazeera, manifestantes contrários a Mubarak tomaram as identidades dos apoiadores de Mubarak mostrando que tratavam-se, na verdade, de policiais à paisana. Já a rede CNN informou que o jornalista Anderson Cooper foi agredido por manifestantes pró-governo. "Anderson disse que ele foi socado dez vezes", relatou Steve Brusk, da rede americana.

Um repórter da Al-Jazeera que relatava os conflitos no Twitter afirmou que calçadas estavam sendo quebradas para que suas pedras fossem utilizadas nos confrontos. "Pessoas na minha frente estavam quebrando o pavimento em pedaços que pudessem utilizados como armas. Outros carregaram pedaços rudimentares de metal", relatou o jornalista Dan Nolan em seu perfil no serviço de microblogs.

Tensão

Havia milhares de partidários de Mubarak cercando os arredores da praça Tahrir, em alguns casos em barcos no rio Nilo. Em uma rua do bairro de Mohandesin, milhares de manifestantes que apoiam Mubarak se reuniram em frente a uma mesquita e bloquearam a região. Eles cantavam slogans como "Não à manifestação, não à destruição", "Abaixo os agentes" e "Mubarak, o piloto, não deixe o fogo se acender".

Só houve um momento de paz, em alguns locais da praça, coincidindo com o chamado à oração, na qual participaram fileiras muitos fiéis, olhando em direção a Meca. Mas em outros setores da praça a chamada à oração não se respeitou. É a primeira vez desde o início dos protestos no Egito que partidários de Mubarak entram na praça Tahrir.

Horas antes, o exército havia feito um apelo pedindo às pessoas que abandonassem as manifestações e voltassem para casa. "O exército pede aos manifestantes que retornem a suas casas para restabelecer a segurança e a estabilidade nas ruas", declarou o porta-voz militar. Durante os confrontos, os militares permaneceram em seus tanques.

Apesar da violência registrada hoje, a oposição egípcia vai manter a mobilização contra Mubarak. "Vamos protestar na sexta-feira, que foi batizado de 'Dia da Saída', e esperamos mais de um milhão de pessoas nas ruas de todo o Egito para exigir a queda do regime", disse à AFP Iman Hasan, de um grupo de apoio ao líder opositor Mohamed ElBaradei.

A situação no Egito é seguida com preocupação em todo o mundo. O país é um aliado do Ocidente, um dos únicos países árabes a assinar um tratado de paz com Israel, além da Jordânia, e controla o Canal de Suez, por onde passa a maior parte da provisão de petróleo com destino aos países industrializados.

Mas as capitais do Ocidente parecem cada vez mais resignadas a abandonar Mubarak à sua própria sorte, condenando a agressão aos manifestantes e pedindo ao presidente egípcio que inicie um verdadeiro período de transição que vá além do mero anúncio de que deixará o poder em setembro. A Casa Branca informou nesta quarta-feira que "deplora e condena" a violência contra "manifestantes pacíficos". Na véspera, o presidente Barak Obama havia pedido a Mubarak que iniciasse "agora" uma transição organizada.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, reivindicou ainda a Mubarak que aja "o mais rapidamente possível" na "transição" política reivindicada pelos manifestantes. Mas o Egito rejeitou estes apelos.

"O que dizem as partes estrangeiras sobre um 'período de transição que comece de imediato' é rejeitado no Egito", afirmou o porta-voz da chancelaria, Hosam Zaki, em um comunicado. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, advertiu por sua vez que os protestos populares no Egito poderiam desencadear um período de "instabilidade e incerteza" na região por "muitos anos".

Protestos convulsionam o Egito

Desde o último dia 25 de janeiro - data que ganhou um caráter histórico, principalmente na internet -, os egípcios protestam pela saída do presidente Hosni Mubarak, que está há 30 anos no poder. No dia 28 as manifestações ganharam uma nova dimensão, fazendo o governo cortar o acesso à rede e declarar toque de recolher. As medidas foram ignoradas pela população, mas Mubarak disse que não sairia. Limitou-se a dizer que buscaria "reformas democráticas" para responder aos anseios da população a partir da formação de um novo governo.

A partir do dia 29, um sábado, a nova administração foi anunciada. Passaram a fazer parte dela o premiê Ahmed Shafiq, general que até então ocupava o cargo de Ministro da Aviação Civil, e o também general Omar Suleiman, que reinaugurou o cargo de vice-presidente, posto inexistente no país desde 1981. A medida, mais uma vez, não surtiu efeito, e os protestos continuaram. No domingo, o presidente egípcio se reuniu com militares e anunciou o retorno da polícia antimotins. A emissora Al Jazeera, que vinha cobrindo de perto os tumultos, foi impedida de funcionar.

Enquanto isso, a oposição seguiu se organizando. O líder opositor Mohamad ElBaradei garantiu que "a mudança chegará" para o Egito. Já os Irmãos Muçulmanos disseram que não iriam dialogar com o novo governo. Na terça, dia 1º de fevereiro, dezenas de milharesde pessoas se reuniram na praça Tahrir para exigir a renúncia de Mubarak. A grandeza dos protestos levou o líder egípcio a anunciar que não participaria das próximas eleições, para delírio da massa reunida no centro do Cairo. Apesar de os protestos de ontem terem sido pacíficos, a ONU estima que cerca de 300 pessoas já tenham morrido no país desde o início dos protestos.



AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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