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Mundo

Choques violentos se espalham por nove cidades do Egito

28 jan 2011 - 12h34
(atualizado às 20h10)
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Tariq Saleh
Da BBC

Cenas de caos e violência durante choques entre manifestantes e policiais tomaram conta das ruas da capital, Cairo, e de ao menos outras nove cidades do Egito, no quarto dia de protestos contra o governo do presidente Hosni Mubarak. A manifestação - de proporção sem precedentes na História do Egito - se segue a três dias de manifestações pedindo a saída de Mubarak, em que ao menos oito pessoas morreram e mais de mil foram presas.

As manifestações foram inspiradas em e se seguem a uma onda de protestos que culminou com a queda do presidente da Tunísia Zine al-Abidine Ben Ali, há duas semanas.

No Cairo, policiais antichoque entraram em confronto com milhares de manifestantes nas ruas do Cairo, usando bombas de gás-lacrimogêneo e canhões d'água para dispersar a multidão, que respondeu atirando pedras, queimando pneus e montando barricadas. Pontes e estradas foram tomadas por manifestantes. Em Suez, manifestantes invadiram uma delegacia de polícia, roubaram armas e atearam fogo ao prédio. Choques também foram registrados na cidade de Alexandria.

A oposição afirma que autoridades egípcias bloquearam serviços de internet e telefones celulares, em uma tentativa de impedir ou dificultar a organização de novos protestos. O governo nega as informações. Há relatos de que centenas de líderes da oposição foram presos de madrugada. Ao menos dez pertenciam à organização Irmandade Islâmica, banida pelo governo.

Após as rezas de sexta-feira, milhares de pessoas seguiram a um chamado da oposição e se juntaram a protestos no centro do Cairo e de outras cidades egípcias, para pedir o fim dos 30 anos do governo Mubarak, aos gritos de "abaixo Mubarak" e "o povo quer que o regime caia".

Em vários locais, a polícia antichoques respondeu atirando balas de borracha, além de bombas de efeito moral e jatos d'água. Em uma praça perto de uma mesquita no bairro de Gizé, partidários do líder da oposição Mohammed ElBaradei - ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Nobel da Paz - foram espancados pela polícia. Eles foram agredidos, segundo a imprensa local, ao tentar proteger ElBaradei, que chegou ao Cairo nesta quinta-feira para se juntar às manifestações. A TV árabe Al-Jazeera chegou a afirmar que ElBaradei tinha sido preso, mas a informação não foi confirmada oficialmente.

Manifestantes também se reuniram em frente à mesquita Al-Azhar, e perto de um das residências do presidente na capital. O governo francês disse ter recebido relatos de que quatro jornalistas franceses foram presos em meio aos protestos.

Em Suez, um dos principais focos dos protestos nos últimos dias, o repórter da BBC Rupert Wingfield-Hayes afirmou que havia choques de grandes proporções entre forças de segurança e milhares de manifestantes, que se reuniram no centro da cidade, também após as preces de sexta-feira.

Havia relatos também de choques em Alexandria, Mansoura e Aswan, assim como Minya, Assiut, Al-Arish e na Península do Sinai.

A operadora de celulares Vodafone Egypt disse em nota: "Todas as operadores de celular no Egito foram instruídas a suspender seus serviços em áreas slecionadas. De acordo com a legislação egípcia, as autoridades têm o direito de emitir tal ordem e nós somos obrigados a cumprir".

Aberto ao diálogo

Horas antes do início dos protestos desta sexta-feira, o governo afirmou que estava aberto ao diálogo com a oposição, mas advertiu que tomaria "medidas decisivas".

As manifestações no Egito foram inspiradas pelos protestos populares na Tunísia que levaram à derrubada do presidente Zine al-Abidine Ben Ali, há duas semanas.

O presidente americano, Barack Obama, descreveu os protestos como o resultado de "frustrações reprimidas" e disse que frequentemente sugeriu a Mubarak realizar reformas.

Obama afirmou ter pedido tanto ao governo quanto aos manifestantes que não recorram à violência. Na noite de quinta-feira, sites como Facebook ou Twitter começaram a apresentar problemas, assim como o envio de mensagens por celular.

Um internauta do Cairo, que pediu para se manter anônimo, disse à BBC que as mensagens de celular não estavam sendo recebidas.

Apesar da proibição oficial, a Irmandade Muçulmana se mantém como o maior e mais organizado movimento de oposição do país.

O presidente Hosni Mubarak, que está no poder desde 1981, não foi visto em público desde o início das manifestações. A BBC apurou que chefes dos serviços de segurança teriam dito a Mubarak, 82 anos, que podem conter qualquer excesso nas manifestações desta sexta-feira.

O governo do Egito quase não dá espaço a posições contrárias, e manifestações da oposição são frequentemente proibidas.

Na quinta-feira, o Partido Nacional Democrático, de Mubarak, disse que estava pronto para o diálogo, mas não ofereceu nenhuma concessão aos manifestantes.

Safwat el-Sherif, secretário-geral do partido, disse: "O PND está pronto para o diálogo com o público, a juventude e os partidos legais. Mas a democracia tem suas regras e seus processos. A minoria não pode forçar seu desejo sobre a maioria".

O governo dos Estados Unidos, que tem o Egito como um de seus mais importantes aliados no mundo árabe, vem até agora se mostrando cauteloso em suas observações sobre os protestos.



Mulher tenta sair do meio da confusão que tomou conta das ruas do Cairo nesta sexta-feira
Mulher tenta sair do meio da confusão que tomou conta das ruas do Cairo nesta sexta-feira
Foto: AP
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