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Distúrbios no Mundo Árabe

Capital da Líbia se prepara para novos confrontos

26 fev 2011 - 08h41
(atualizado às 11h24)
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Manifestantes na capital da Líbia, Trípoli, se preparam neste sábado para novos choques com forças leais ao governo após o líder Muamar Khadafi ter afirmado no dia anterior que abriria os depósitos de munição para seus simpatizantes. Khadafi fez uma aparição pública em Trípoli na qual exortou seus seguidores a lutarem contra os opositores.

Palmeiras são utilizadas como barricadas por manifestantes contrários ao governo de Muammar Kadafi
Palmeiras são utilizadas como barricadas por manifestantes contrários ao governo de Muammar Kadafi
Foto: Reuters

Também na sexta-feira, manifestantes opositores ao governo foram atacados por forças leais ao regime em Trípoli. Calcula-se que mais de mil manifestantes já tenham morrido durante os protestos das últimas semanas. Saif disse que uma trégua com os opositores pode ser negociada

"Fogos de artifício"

Saif al-Islam Khadafi, um dos filhos do líder líbio, disse ao editor para Oriente Médio da BBC Jeremy Bowen que os relatos de violência extrema no país seriam parte de uma "campanha de mídia exagerada" conduzida por "canais árabes de TV hostis". O filho de Khadafi disse não ser verdade que civis tenham sido bombardeados, mas admitiu que a Força Aérea atacou depósitos de munição que estavam em mãos inimigas.

Os sons ouvidos em Trípoli não seriam de tiros, mas de fogos de artifício, disse Saif que criticou os opositores, afirmando que muitos desejariam uma "solução afegã" para o país.Saif admitiu que o leste do país, nas mãos dos opositores, está "uma bagunça" e que não seriam lançados novos ataques contra as cidades de Misrata e Zawiya na esperança de que uma trégua possa ser negociada. Assim como seu pai, Saif responsabilizou a rede Al-Qaeda pelo levante.

Diplomacia

Na noite de sexta-feira, os Estados Unidos anunciaram sanções contra o governo líbio, bloqueando bens e transações financeiras de Khadafi e seus aliados. "As contínuas violações dos direitos humanos cometidas pelo governo líbio, a violência contra sua população e as ameaças revoltantes feitas causaram uma condenação geral e severa da comunidade internacional", disse o presidente americano, Barack Obama, por meio de um comunicado . "Estas sanções, portanto, tem como alvo o governo de Khadafi enquanto protege os bens que pertencem ao povo líbio."

A União Europeia também anunciou na sexta-feira sanções contra o regime de Khadafi. Em Nova York, o embaixador da Líbia para a ONU, Mohamed Shalgham, falando ao Conselho de Segurança da entidade, condenou Khadafi, três dias após chamar o líder líbio de "amigo". Após um discurso emocionado, ele foi abraçado por outros diplomatas na ONU. Vários outros representantes líbios anunciaram o desligamento do regime na sexta-feira.

Na sexta-feira, o secretário-geral da ONU, Ban ki-moon, fez um apelo que o Conselho de Segurança tome "ações concretas e decisivas" para lidar com a crise na Líbia.

Evacuação

Dezenas de milhares de estrangeiros prosseguem tentando deixar o país. Cerca de dez mil trabalhadores egípcios que estavam na Líbia estão tentando cruzar a fronteira da Tunísia, criando um problema logístico para o governo tunisiano.Há relatos de que autoridades líbias estariam confiscando câmeras e telefones celulares para impedir que imagens da situação sejam transmitidas.

Líbios enfrentam repressão e desafiam Kadafi

Impulsionada pela derrocada dos presidentes da Tunísia e do Egito, a população da Líbia iniciou protestos contra o líder Muammar Kadafi, que comanda o país desde 1969. As manifestações começaram a tomar vulto no dia 17 de fevereiro, e, em poucos dias, ao menos a capital Trípoli e as cidades de Benghazi e Tobruk já haviam se tornado palco de confrontos entre manifestantes e o exército.

Os relatos vindos do país não são precisos, mas tudo leva a crer que a onda de protestos nas ruas líbias já é bem mais violenta do que as que derrubaram o tunisiano Ben Ali e o egípcio Mubarak. A população tem enfrentado uma dura repressão das forças armadas comandas por Kadafi. Há informações de que Força Aérea líbia teria bombardeado grupos de manifestantes em Trípoli. Estima-se que centenas de pessoas, entre manifestantes e policiais, tenham morrido.

Além da repressão, o governo líbio reagiu através dos pronunciamentos de Saif al-Islam , filho de Kadafi, que foi à TV acusar os protestos de um complô para dividir a Líbia, e do próprio Kadafi, que, também pela televisão, esbravejou durante mais de uma hora, xingando os contestadores de suas quatro décadas de governo centralizado e ameaçando-os de morte.

Além do clamor das ruas, a pressão política também cresce contra o coronel Kadafi. Internamente, um ministro líbio renuncioue pediu que as Forças Armadas se unissem à população. Vários embaixadores líbiostambém pediram renúncia ou, ao menos, teceram duras críticas à repressão. Além disso, o Conselho de Segurança das Nações Unidas fez reuniões emergenciais, nas quais responsabilizou Kadafi pelas mortes e indicou que a chacina na Líbia pode configurar um crime contra a humanidade.

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