Após meses de protestos populares contra o poder do presidente sírio Bashar al-Assad, a Arábia Saudita se tornou, na semana passada, o primeiro país do mundo árabe a condenar abertamente o governo sírio pelas centenas de mortes de civis nas últimas semanas. O recado partiu de um dos países mais poderosos e influentes da região. Analistas, no entanto, falam dos verdadeiros interesses do governo saudita e sua preocupação em enfraquecer a influência do Irã.
"A Arábia Saudita não está preocupada em promover a democracia na Síria, tampouco está horrorizada pelo sangue derramado nas cidades sírias. Os sauditas viram uma janela de oportunidade em enfraquecer a influência iraniana na Síria e a ameaça xiita na região", disse o analista independente egípcio Mohamed el-Masri. Outro analista, Mahjoob Zweiri, especialista em Irã da Universidade do Catar, disse que o governo saudita, além de enxergar uma oportunidade para conter o Irã, também pode estar tentando "se distanciar do regime sírio e se preparar para uma Síria pós-Assad".
Em um comunicado do Rei Abdullah, a Arábia Saudita exigiu um "fim do banho de sangue" e anunciou que estava chamando seu embaixador em Damasco, a capital síria, para consultas. A ação foi seguida pelo Kuwait e Bahrein, que também chamaram seus respectivos embaixadores e condenaram a Síria pela violência. Segundo grupos de direitos humanos, mais de 2 mil pessoas já morreram em diversas cidades sírias devido à repressão violenta do exército e forças de segurança do país.
O governo saudita ainda alertou a Síria para duas opções - "Ou escolhe a sabedoria por vontade própria, ou mergulha nas profundezas do caos e perdas". O rei saudita ainda pediu por reformas rápidas e compreensivas. "Reformas que não sejam cheias de promessas, mas realmente sejam alcançadas para que nossos irmãos, os cidadãos na Síria, possam senti-las em suas vidas diárias".
Mas comentaristas políticos no Oriente Médio ironizaram o fato de que "a Arábia Saudita é um dos países mais repressores do mundo árabe", e que há seis meses enviou tropas para socorrer outro regime, o do Bahrein, que também enfrentava protestos populares pacíficos, sufocados depois pelo governo. "A Arábia Saudita não tem o que ensinar à Síria sobre democracia já que manifestações em seu território são totalmente proibidas", disse um comentarista em uma emissora de TV libanesa.
Segundo alguns analistas, desde que a "Primavera Árabe", como é chamada a onda de protestos populares na para derrubar regimes totalitários, iniciou na Tunísia, em dezembro do ano passado, a Arábia Saudita só teve um papel negativo. "Os sauditas deram asilo ao ditador tunisiano Zine el-Abidine Ben Ali, demonstraram descontentamento quando o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak foi julgado em um tribunal, sem falar no envio de tropas ao Bahrein para socorrer um regime que abriu fogo contra sues cidadãos que protestavam de forma pacífica", disse o analista egípcio Mohamed el-Masri.
Ameaça iraniana
El-Masri fala que a maior preocupação da Arábia Saudita é conter a influência iraniana na região. "Não é segredo que o Irã é a maior ameaça para os sauditas, assim como para outros países do Golfo, como o Kuwait e Bahrein". Nos últimos anos, o governo saudita gastou bilhões de dólares para equipar suas forças armadas com todo tipo de armamentos e equipamentos militares modernos. "E obviamente isso não é para um conflito com Israel ou dissidência interna, mas para conter o Irã", completou el-Masri.
O Irã mantém laços estreitos com o regime sírio, em ambos dão apoio a grupos como o Hezbollah, no Líbano, e o Hamas, nos Territórios Palestinos. Enquanto que a Arábia Saudita é de maioria muçulmana sunita, o Irã possui uma população de maioria xiita. Para o analista, o Rei Abdullah pode estar fazendo um jogo de chantagem com al-Assad. "É uma mensagem do tipo, ou você se distancia do Irã, ou então não terá nosso apoio e sua queda será inevitável", disse el-Masri.
Para ele, as manobras diplomáticas de Kuwait e Bahrein só foram feitas após a Árabia Saudita dar o sinal verde. "Nitidamente, os dois países consultaram os sauditas, e obviamente que nada disso teria partido dos dois caso os sauditas não tivessem dado seu aval".
Conselho do Golfo
Para Mahjoob Zweiri, da Universidade do Catar, a Árabia Saudita é o grande peso-pesado do mundo árabe, já que o Egito, de grande influência, passa por problemas devido à revolução recente e que ainda tenta colocar o país nos eixos. Segundo ele, as recentes ações do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC, em inglês), bloco econômico de seis países do Golfo Pérsico (Kuwait, Catar, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Omã e Árabia Saudita), mostra as intenções em minar o eixo de influência iraniana.
"Recentemente, o bloco, um clube de países ricos e economias fortes, convidou a Jordânia e Marrocos a aderirem ao GCC. A manobra dá aos dois países, e suas monarquias, a chance de acalmar a insatisfação popular e amenizar os problemas socioeconômicos", disse Zweiri. O analista explica que o anúncio do GCC mira o papel de segurança em que a Jordânia pode ter para os países do Golfo em confrontar o Irã. "Os jordanianos estão no centro do conflito árabe-israelense, em especial a presença do grupo palestino Hamas e Hezbollah, apoiados por Irã, e vizinho à Síria, aliada dos iranianos". A presença do Marrocos, segundo ele, só fortificaria esse bloco, informalmente anti-Irã.
"Os sauditas estão envolvidos em duas frentes - amenizar e dar apoio ao status quo nos governos da região, especialmente os vizinhos, e enfraquecer a influência iraniana". "Mas os sauditas apoiarão uma eventual queda do regime sírio se enxergarem o benefício. E esse benefício é o isolamento do Irã, hoje, seu principal inimigo".
23 de março - Manifestantes contrários ao governo sírio comemoram o avanço dos protestos, na cidade de Daraa
Foto: AP
23 de março - Homem passa por pneus que foram queimados por manifestantes antigoverno, em Daraa
Foto: AP
23 de março - Cinegrafista filma imagens de prédio que foi destruído durante os conflitos entre opositores e militares
Foto: AP
23 de março - Soldados examinam uma ambulândia que foi atacada, segundo a TV estatal, em Daraa
Foto: AP
23 de março - Pneus são queimados por opositores ao governo e bloqueiam rua, na cidade síria de Daraa
Foto: AP
23 de março - Soldado faz guarda em frente a prédio do governo que foi incendiado por manifestantes, em Daraa
Foto: AP
29 de março - Milhares de apoiadores de Bashar al-Assad tomam praça em Damasco, em protesto a favor do governo
Foto: AFP
29 de março - Mulheres participam de manifestação de apoio ao presidente Bashar al-Assad, em Damasco
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29 de março - Homens sobem em luminária com cartazes de apoio ao presidente sírio, em Damasco
Foto: AFP
29 de março - Apoiadores de Bashar al-Assad seguram bandeira em protesto a favor do governo, em Damasco
Foto: AFP
29 de março - Mulher faz sinal de vitória com os dedos pintados em protesto a favor do presidente, em Damasco
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1º de abril - Manifestantes antigoverno marcham e pedem a saíra do presidente Bashar al-Assad do poder, em Qamishli
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1º de abril - Manifestantes levaram cartazes e pediram a renúncia do presidente, Bashar al-Assad
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1º de abril - Opositores ao governo sírio marcham em protesto, em Qamishli
Foto: AFP
1º de abril - Manifestantes antigoverno realizam marcha de protesto na cidade de Qamishli
Foto: AFP
17 de abril - Manifestantes fazem protesto na cidade de Sueida, onde pelo menos cinco pessoas ficaram feridas quando partidários do regime no poder dispersaram a manifestação
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17 de abril - Carro fica queimado após protesto em Banias
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17 de abril - Moradores de Banias gritam palavras de ordem contra o governo
Foto: Reuters
17 de abril - Em Amã, manifestantes pedem a saída do presidente
Foto: Reuters
17 de abril - Na Bulgária, menino descendente de sírios participa de manifestação em favor do presidente da Síria
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19 de abril - Manifestantes carregam os caixões do general Abdo Khodr al-Tellawi, de seus dois filhos e de seu sobrinho durante o funeral, em Homs
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22 de abril - Tropas de segurança do governo atiraram contra manifestantes, deixando mortos e feridos
Foto: AFP
22 de abril - Protestos se intesificam na Síria um dia depois que Assad declarou o fim do estado de emergência
Foto: Reuters
22 de abril - "Nós queremos liberdade" diz cartaz segurado por manifestante durantes os protestos desta sexta-feira
Foto: AFP
23 de abril - Em Homs, um homem ferido recebe ajuda de outros manifestantes ao seu redor
Foto: Reuters
23 de abril - Em Douma, manifestantes contrários ao governo seguram uma bandeira ensanguentada durante um funeral de um rebelde
Foto: AP
25 de abril - Rebelde joga pedra contra tanque durante invasão militar da cidade de Deraa
Foto: Reuters
25 de abril - Rebelde joga pedra contra tanque durante invasão militar da cidade de Deraa
Foto: Reuters
25 de abril - Rebelde joga pedra contra tanque durante invasão militar da cidade de Deraa
Foto: Reuters
26 de abril - Em foto divulgada pela agência Sana, parentes velam o jovem Basil Hamadeh, morto em protestos, em Jableh
Foto: AFP
28 de abril - Em foto divulgada pela agência Sana, soldados carregam o caixão de Mohammed Sobhi Busian, militar morto nos conflitos, em Damasco
Foto: AFP
5 de maio - O chanceler italiano, Franco Frattini, anunciou que Itália e EUA pediram o fim da violência na Síria, após uma reunião com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em Roma
Foto: AP
11 de maio - Imagem captada por um telefone celular mostra cidadãos protestando contra o governo em Qamishli, em 10 de maio
Foto: AP
31 de julho - Foto retirada de filmagem disponibilizada no You Tube mostra cidadãos sírios buscando proteção após terem supostamente sido atingidos por forças de segurança na cidade de Hama
Foto: You Tube / AFP
1º de agosto - Imagem da rede de televisão Al Arabiya mostra manifestantes sírios em protestos do dia 31 de julho contra o Exército
Foto: EFE
1º de agosto - A cidade de Hama, foco de recentes conflitos da Síria, aparece tomada por cortina de fumaça após operação do Exército. A imagem é da rede Al Arabiya
Foto: EFE
1º de agosto - Imagem feita pelo grupo Shams News Network, crítico do regime de Bashar al-Assad, mostra tanques ocupando a parte central de Hama
Foto: AP
1º de agosto - Frame da transmissão da Al Arabiya mostra manifestantes ajudando pessoa ferida durante operação do Exército contra passeata de críticos do regime de Bashar al-Assad
Foto: EFE
1º de agosto - Imagem retirada de vídeo disponibilizado no You Tube no dia 1º de agosto mostra tanques sírios patrulhando a cidade de Hama
Foto: You Tube / AFP
2 de agosto - Imagem feita pela televisão estatal síria e divulgada pela agência Sana mostra corpos de soldados sendo levados por rebeldes para serem jogados no rio Orontes, em Hama
Foto: AFP
2 de agosto - Montagem de imagens a TV estatal divulgada pela agência Sana mostra soldados mortos sendo jogados no rio Orontes por rebeldes, na cidade de Hama
Foto: AFP
2 de agosto - Em imagens da TV estatal divulgadas pela agência Sana, rebeldes armados tomam posição na cidade de Hama
Foto: AFP
2 de agosto - O chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, Mike Mullen, dá entrevista em Bagdá e pede um fim rápido à violência na Síria. Mullen também afirmou, no entanto, que é improvável que os EUA fossem além da pressão diplomática para interferir no país asiático
Foto: Reuters
5 de agosto - Calma de Hama teria sido conseguida após intensos confrontos entre o Exército e os rebeldes, chamados de "terroristas" pelo governo; de acordo com a agência Reuters, a repressão persiste no país, apesar do ambiente desértico das imagens da agência síria
Foto: Agência Sana / EFE
5 de agosto - A escalada da violência em Hama quebrou o silêncio que o Conselho de Segurança da ONU vinha mantendo em relação à Síria, fazendo-o condenar oficialmente, na quarta-feira (3 de agosto) a repressão aos manifestantes sírios
Foto: Agência Sana / EFE
5 de agosto - As imagens da agência síria apontam para um ambiente desértico na cidade, cenário de intensos conflitos nos últimos dias. Estima-se que até 135 tenham morrido deste o último domingo
Foto: Agência Sana / EFE
5 de agosto - Fotos liberadas nesta sexta-feira pela agência estatal síria Sana mostra barricada montada em Hama, após supostos confrontos entre forças do governos e os rebeldes críticos do regime de Bashar al-Assad