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'Despertar' militar divide Japão e desperta polêmica na Ásia

Japão tem forças aéreas, marítimas e terrestres bem equipadas – e com planos de modernização em curso

19 jul 2015 - 13h50
(atualizado às 14h41)
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Expansão do horizonte militar chinês está fazendo japonses modernizarem suas forças
Expansão do horizonte militar chinês está fazendo japonses modernizarem suas forças
Foto: Getty Images

O debate apaixonado sobre o desejo do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, de dar às forças de defesa do Japão um papel mais amplo - e marcado pela aprovação, na semana passada, de um polêmico pacote legislativo - mascaram fato de que o país já ocupa uma posição militar significante.

O Japão tem forças aéreas, marítimas e terrestres bem equipadas – e com planos de modernização em curso.

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A Câmara Baixa do Parlamento japonês aprovou duas leis que podem permitir que militares do país participem de campanhas no exterior - o que não ocorria desde a Segunda Guerra Mundial. As leis ainda precisam ser aprovadas na Câmara Alta para entrar em vigor, mas já desencadearam protestos de ativistas. E preocupação em vizinhos que sofreram com o imperialismo japonês nos anos 30 e 40, como a Coreia do Sul.

A derrota do militarismo japonês na Segunda Guerra e a experiência de ter sofrido os únicos ataques nucleares da história deram ao país uma significante posição pacifista.

Mas a posição geográfica do Japão, mais especificamente a proximidade da a ex-União Soviética e da China – significou que, em última instância, era preciso possuir forças básicas de defesa.

Porém, o papel dessas forças era circunscrito e o país evitava envolvimento com questões militares externas.

Cerca de 70 anos depois, o cenário mudou dramaticamente. A Guerra Fria e a União Soviética podem ter terminado, mas um crescimento da presença militar da China está levando preocupações para a região.

O Japão continua sendo o principal aliado dos Estados Unidos na área. E, com a escala e o alcance do crescimento militar da China, os japoneses têm modernizado suas forças.

Direcionamento chinês

Seu Exército de cerca de 150 mil homens é pequeno (mas ainda maior que o britânico, que exerce um papel de importância militar média no contexto da Otan, com 84 mil homens).

O Japão possui uma marinha impressionante, que inclui um navio aeródromo - para transporte de helicópteros -, dois cruzadores equipados com mísseis de cruzeiro Aegis e sistemas sofisticados de radar e gerenciamento de batalha, além de 34 destróieres (também chamados contratorpedeiros) e nove fragatas de vários tipos.

A força marítima também possui cerca de 80 aeronaves de patrulha ou capacidade antisubmarina.

Dado o suposto potencial do arsenal de mísseis da Coreia do Norte, o interesse do Japão em defesa antimísseis está crescendo.

O país abriga dois sofisticados radares dos Estados Unidos para monitorar essas armas. Atualmente o Japão também tem quatro destroieres e baterias terrestres de mísseis PAC-3 capazes de abater mísseis de cruzeiro.

Neste ano, as Forças de Defasa Marítimas do Japão comissionaram seu maior navio de guerra, o JS Izumo, para o transporte de helicópteros. Em tese ele pode embarcar uma grande quantidade de aeronaves V-22 Osprey, que decola verticalmente. O país negocia com os Estados Unidos a compra de 17 novas unidades.

Mais navios antimísseis estão nos planos e um novo tipo de avião-patrulha marítimo feito no Japão está entrando em serviço.

Exercícios no exterior

Ao longo dos anos o Japão aumentou a esfera de ação de suas atividades militares internacionais. Tem sido um processo lento do país firmar o pé no campo dos envolvimentos militares internacionais.

Navios de guerra japoneses participaram de operações internacionais antipirataria no Chifre da África e aeronaves de patrulha japonesas deram apoio à operação baseadas em Djibouti.

O Japão também começou a participar aos poucos de exercícios militares bem longe de suas praias. Em julho de 2014, participou pela terceira vez de manobras marítimas lideradas pelos Estados Unidos e Índia e atualmente um pequeno contingente de tropas japonesas toma parte em um exercício envolvendo forças americanas e australianas.

Ou seja, de alguma forma o tipo de reformas patrocinadas pelo premiê Abe já estavam a caminho – pouco a pouco – por muitos anos.

No entanto, fazer as mudanças explicitamente estimula controvérsias no público japonês e qualquer restauração do Japão como participante no cenário militar desencadeia fortes reações daqueles que no passado sofreram com seu expansionismo – notadamente Coreia e China.

O que é autodefesa coletiva?

A Constituição do Japão após a Segunda Guerra impede que o país use força para resolver conflitos, exceto em casos de autodefesa.

O governo de Abe está promovendo uma mudança que revisaria as leis de forma que os militares do Japão poderiam se mobilizar no exterior quando três condições fossem atendidas.

  • Quando o Japão é atacado, ou quando um aliado próximo é atacado e o resultado ameaça a sobrevivência do país e representa claro perigo ao povo
  • Quando não há outros meios apropriados para repelir o ataque e assegurar a sobrevivência do Japão e seu povo
  • O uso da força é restrito ao mínimo necessário

Alguns estrategistas podem, porém, alegar que a distinção militar entre autodefesa e um papel de maior expansão militar regional é redundante.

No setor marítimo, a defesa deve ser avançada – começando bem longe das praias do país. A defesa japonesa depende fundamentalmente de sua aliança próxima aos Estados Unidos e assim faz sentido que as forças armadas do país operem segundo conceitos e parâmetros estratégicos semelhantes aos americanos.

Mas é preciso não ignorar o peso da história da região – um fardo tornado ainda mais pesado devido às suspeitas de alguns países que o Japão não teria encerrado definitivamente seu passado agressivo.

Apesar das declarações de alguns políticos conservadores japoneses, o debate angustiado sobre a mudança da postura estratégica do país pode sugerir que muitos japoneses comuns estão bem conscientes de sua história – o que traz instabilidade ao caminho seguido por Abe.

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