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Desapropriação de terras deixa ao menos 17 mortos no Paraguai

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ASSUNÇÃO, 15 Jun (Reuters) - Pelo menos oito policiais e nove camponeses morreram nesta sexta-feira no confronto durante a desapropriação de uma fazenda no nordeste do Paraguai, no pior incidente relacionado à posse de terras nas últimas duas décadas no país.

O episódio forçou a saída do ministro do Interior, Carlos Filizzola, e do comandante da polícia, Paulino Rojas, que deixaram seus cargos pressionados pelo Congresso.

"O ministro Carlos Filizzola colocou o seu cargo à disposição, assim como o comandante da Polícia Nacional... E o presidente aceitou", disse a jornalistas o ministro da Educação, Víctor Ríos.

Filizzola havia anunciado mais cedo que sete policiais e pelo menos nove camponeses morreram na operação. Outro agente morreu enquanto era levado à capital de helicóptero e as autoridades não descartaram um número maior de vítimas entre os camponeses, que são procurados numa área de densa floresta.

O governo do presidente socialista Fernando Lugo ordenou a intervenção das Forças Armadas para apoiar a polícia na região e descartou o envolvimento do grupo de extrema esquerda Exército do Povo Paraguaio (EPP) nos confrontos.

"A ação se deu com base em uma ordem judicial para a desapropriação... houve disparos por parte deles, a polícia também teve que responder a isso", disse Filizzola sobre o que aconteceu no terreno privado da colônia Ybyrá Pyta no departamento Canindeuyú, a 240 quilômetros de Assunção.

O comandante do Exército disse que cerca de 150 efetivos militares serão enviados imediatamente à região localizada na fronteira com o Brasil, uma área onde coexistem lavouras de soja, criação de gado e grandes cultivos ilegais de maconha.

"Todos os organismos de segurança do governo e suas áreas estratégicas estão trabalhando neste momento em linhas de ação que devolverão a calma e a tranquilidade a esta região", disse Lugo em mensagem à nação.

O dirigente rural José Rodríguez afirmou a uma emissora de rádio local que os camponeses que morreram no confronto faziam parte de um grupo que resolveu resistir à desapropriação.

"São camponeses humildes que decidiram tomar essa decisão lamentavelmente", afirmou.

Mas a promotora Ninfa Aguilar declarou que o grupo tinha treinamento militar, armas de guerra e bombas caseiras.

"Estão vestidos com roupa militar... prepararam trincheiras, bombas, tinha tudo preparado para combater. Não são simplesmente camponeses, estavam preparados para o enfrentamento", garantiu.

Ela não descartou a presença do EPP, um pequeno grupo radical responsável por sequestros e assassinatos durante a última década que opera no norte do país e aspira se converter em uma guerrilha. Filizzola disse que o governo não tinha elementos para vincular o grupo ao conflito.

Uma fonte policial contou que todos os agentes mortos receberam impactos de bala de grosso calibre na cabeça.

A fazenda de cerca de 2.000 hectares pertence a um conhecido empresário local que há 20 dias denunciou a entrada do grupo de umas 100 famílias.

As organizações denunciam que são "terras ilícitas" produto da distribuição entre aliados durante a ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-1989).

A reforma agrária era uma das prioridades do governo de Lugo, mas o mandatário teve dificuldades para aproximar posições entre as organizações camponesas e os proprietários, na medida em que buscava colocar ordem no organismo encarregado pela distribuição de terras.

(Reportagem de Didier Cristaldo e Daniela Desantis)

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