Entenda a crise na Ucrânia O derramamento de sangue na Ucrânia nas últimas semanas traz o risco de intensificar tanto os rachas internos como a tensão diplomática entre vários países envolvidos na crise local. Dentro do país, mesmo que os protestos sejam mais complexos que uma simples divisão entre leste e oeste, a violência pode facilmente puxar os cidadãos para os extremos da questão. Internacionalmente, está sendo aberto um abismo entre a Rússia e potências do Ocidente, com possíveis amplas repercussões. Pode ainda não estar inteiramente claro quem é o responsável por inflamar a situação desta vez, mas as reações dos principais poderes, Leste e Oeste, representam uma divergência gritante. Com informações da BBC, Reuters e AFP Veja mais: 1) História da Ucrânia 2) Os protestos 3) O papel da Rússia 4) O papel do Ocidente 5) Diplomacia (tela 1) História Durante quase todo o século 20, a Ucrânia fez parte da União Soviética, até sua independência, em 1991. Desde então, o país passou a olhar em uma outra direção, do Oriente para o Ocidente, da Rússia para a União Europeia, tendo os exemplos de Polônia, Eslováquia e Hungria - todos membros da União Europeia – em seu horizonte. Mas a Ucrânia não completa esse movimento porque duas forças contrárias o paralisam. De um lado, está a parte ocidental do país, onde vivem as gerações mais jovens e de onde partiu o movimento de aproximação da UE. Do outro, está a parte oriental e sul, mais próxima da Rússia, onde se fala russo e não ucraniano e prevalece um sentimento de nostalgia dos anos de integração soviética. Por fim, de cada um desses lados, existem os interesses e pressões de grandes potências mundiais. (tela 2) Os protestos Tudo começou em novembro, quando Yanukovych decidiu recusar um acordo que aprofundaria os laços do país com a União Europeia (UE) e era negociado havia três anos. Em troca, o presidente preferiu se aproximar da Rússia. Entretanto, os protestos começaram logo depois. Os confrontos diminuíram depois que os manifestantes saíram dos prédios oficiais que estavam ocupando e após o governo garantir que daria anistia a todos. Mas os acampamentos de protesto continuaram pelas ruas de Kiev e a oposição pró-UE continuou a exigir a renúncia do presidente. Em janeiro, os protestos ficaram ainda mais violentos na capital, quando o governo adotou novas leis com o objetivo de frear as manifestações. No fim de janeiro, três manifestantes morreram após confronto com a polícia. Foram as primeiras mortes da crise. O conflito já deixou ao menos 77 mortos e centenas de feridos nos últimos dias. Os choques entre manifestantes e a polícia se tornaram constantes, especialmente em Kiev. (tela 3) O papel da Rússia O Kremlin se aliou firmemente com o presidente Viktor Yanukovych. O Ministro de Relações Exteriores russo descreveu a violência nos protestos que tomaram conta do país como uma "tentativa de golpe" e exigiu que os líderes da oposição na Ucrânia "dessem um fim ao derramamento de sangue". O presidente russo, Vladimir Putin, tem se mantido em contato por telefone com Yanukovych. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, foi cuidadoso ao insistir que o presidente russo não ofereceu qualquer conselho ao governo, mas afirmou que a Ucrânia era um "Estado irmão e amigo e um parceiro estratégico" e que a Rússia usaria toda sua influência para reestabelecer a paz e a ordem. A Ucrânia depende da Rússia para abastecer-se de gás. Além disso, por seu território passam dutos que transportam os gás russo para a União Europeia. Em uma reunião em 17 de dezembro de 2013 entre Putin e Yanukovych, a Rússia se comprometeu a comprar o equivalente a R$ 36 bilhões em títulos do Estado ucraniano e a reduzir o preço do gás vendido ao país. (tela 4) O papel do Ocidente Nos Estados Unidos, o foco tem sido tentar persuadir Yanukovych a tirar as forças do governo das ruas e a agir com moderação. Segundo relatos, o vice-presidente, Joe Biden, falou com o presidente ucraniano pelo telefone e sugeriu que seria responsabilidade dele acalmar a situação e abordar as "preocupações legítimas" dos manifestantes. Na Europa, o ministro de Relações Exteriores sueco, Carl Bildt, chegou a dizer que o presidente Yanukovych tinha "sangue em suas mãos". O ministro de Relações Exteriores alemão, Frank-Walter Steinmeier, disse que a Ucrânia havia "pago um preço caro" pelas recusas de seu presidente em ter conversas sérias para acabar com o conflito. (tela 5) Diplomacia Geograficamente, a Ucrânia fica entre os dois lados. Até agora, as rivalidades dos tempos da Guerra Fria vinham sendo contidas. Diplomatas argumentam que é possível que Rússia e Ocidente colaborem entre si quanto ao futuro da Ucrânia, beneficiando os dois lados. O futuro imediato da Ucrânia pode depender mais das tentativas de mediação feitas por ex-políticos ucranianos e poderosos oligarcas locais, desesperados para evitar que a violência se agrave. mais especiais de notícias