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Mundo

Combates se intensificam no Sudão em dia de referendo

9 jan 2011 - 14h30
(atualizado às 15h23)
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Nômades árabes armados entraram em confronto com tribos pelo terceiro dia seguido neste domingo na disputada região sudanesa de Abyei, deixando um número desconhecido de mortos, informaram autoridades, horas depois do início da votação num referendo pela independência do Sul do país.

infográfico info sudão referendo
infográfico info sudão referendo
Foto: AFP

Analistas disseram que Abyei é o local mais provável onde poderia haver um ressurgimento da violência mais de cinco anos após um acordo de paz que encerrou décadas de guerra civil entre o Norte e o Sul. Esse acordo permitiu que o Sul realizasse, a partir deste domingo, um referendo sobre a separação.

O administrador-chefe de Abyei, Deng Arop Kuol ¿ que é sulista ¿ disse à Reuters que combatentes árabes da tribo Misseriya atacaram o vilarejo de Maker por volta do meio-dia (horário local) deste domingo. Os ataques anteriores ocorreram na aldeia vizinha de Miokol, deixando um morto na sexta-feira e um número desconhecido de feridos no sábado, disse ele.

"O combate a partir de hoje e ontem foi pesado ¿ ambos os lados sofreram perdas... Foi a (tribo) Misseriya, mas há fortes indícios de que alguns elementos da SAF (as Forças Armadas do Sudão, grupo do Norte) foram identificados", disse ele.

Um funcionário da Organização das Nações Unidas (ONU), que não quis ser identificado, confirmou que os ataques aconteceram durante os três dias.

Mohamed Omer al-Ansary, um alto oficial da Misseriya, afirmou que seus homens haviam se envolvido em confrontos neste domingo e no sábado, mas insistiu que eles foram atacados primeiro por soldados do Sul.

"Houve uma emboscada (neste domingo). Duas pessoas da Misseriya foram mortas", afirmou, acrescentando que sulistas estavam tentando impedir que os nômades alimentassem seus animais.

Um porta-voz do Exército do Norte confirmou que os confrontos aconteceram entre as tribos Misseriya e Dinka, mas negou qualquer envolvimento das Forças Armadas.

"A Misseriya lutou sozinha", disse ele. O porta-voz acusou o Exército de Libertação do Povo do Sudão (SPLA, na sigla em inglês) ¿ do Sul do país¿ de oferecer armas à tribo Dinka Ngok, de Abyei.

Tanto o Norte quanto o Sul do Sudão reivindicam Abyei, território fértil na região central do país, na fronteira comum usado tanto pela Dinka Ngok, do Sul, quanto pelos nômades árabes da Misseriya, ligada ao Norte.

O status da região não foi definido em um acordo de paz de 2005, que pôs fim à guerra civil e estabeleceu um referendo sobre se o Sul deveria se separar do Sudão ¿ votação que começou neste domingo.

Referendo do Sul: passado e futuro em jogo

Neste domingo, 9 de janeiro de 2011, a população da porção sul do Sudão vai às urnas no referendo que vota a autonomia da região. A expectativa geral é de que o 'sim' saia vencedor, resultado que deve levar à secessão do resto do país e a criação de uma nova nação: o Sudão do Sul, com capital em Juba e presidido por Salva Kiir.

O referendo está previsto desde janeiro de 2005, quando foi assinado o Tratado de Naivasha. Também conhecido como Amplo Acordo de Paz, o tratado colocou fim a um conflito de 21 anos travado entre o norte sudanês, predominantemente árabe, e rebeldes do sul, região miscigenada e parcialmente cristã. Durante este período, iniciado em 1983, cerca de dois milhões de pessoas morreram.

Apesar da boa expectativa para a realização do referendo, muito deve ainda acontecer depois dele. O presidente sudanês, Omar al-Bashir, garantiu que aceitará o resultado da votação, mas ainda é incerto o futuro das relações entre norte e sul. Por trás do conflito está a disputa pelo controle da maior riqueza natural do país, uma reserva de milhões de barris de petróleo, localizada justamente na faixa central do Sudão.



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