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Com céu azul e verão, mais imigrantes enfrentarão risco de travessia no Mediterrâneo

16 abr 2015 - 11h26
(atualizado às 11h26)
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Quentin Sommerville

Da BBC News em Misrata, na Líbia

O céu claro sobre a cidade líbia de Misrata é a senha. Significa que centenas de imigrantes tentarão atravessar o Mediterrâneo rumo à Itália em busca de uma vida melhor.

Com o verão, as águas do Mediterrâneo ficam mais calmas e, assim, mais imigrantes se arriscam na travessia de barco.

Centenas de milhares de pessoas fizeram a viagem nos últimos anos, a maioria de países da África subsaariana, como Senegal, Eritreia e Somália.

Mas muitos deles morrem durante a travessia.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 500 pessoas morreram neste ano, número 30 vezes maior do que no mesmo período do ano passado.

A União Europeia (UE) diz que mais de 7 mil imigrantes foram resgatados no Mediterrâneo desde sexta-feira. E outras centenas de pessoas deverão tentar chegar à Europa nos próximos dias, segundo a guarda-costeira líbia.

A tragédia mias recente ocorreu no domingo, quando um barco com cerca de 550 pessoas virou na costa líbia. A guarda costeira italiana resgatou 144 pessoas e lançou uma operação de busca pelos 400 desaparecidos, incluindo muitas mulheres e crianças.

Em 2014, 170 mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo para a Itália e cerca de 3,5 mil morreram na viagem, segundo autoridades.

Em novembro do mesmo ano a Itália encerrou sua operação de resgate marítimo, o que provocou um alerta ONU, que temia um aumento no número de mortes de imigrantes nas águas do Mediterrâneo.

As travessias passaram a ser patrulhadas por uma operação de segurança limitada da UE.

A esperança na Europa era de que essa redução desanimasse imigrantes a tentar a travessia. Mas entre estes, muitos dizem que o risco vale a pena, diante da vida ruim nos países de onde vêm e a piora da situação na Líbia.

É o caso de Mohamed, que está no porto de Misrata e diz que tenta ir para a Itália há dois anos.

"Esta é a quarta vez que tento atravessar. Nas outras três vezes, eles me trouxeram de volta. Eu saio da prisão, trabalho todo dia, pego meu dinheiro para ir de novo", diz.

"Para mim, este é o meu destino. Eu tenho que fazer isso. É a minha chance. Porque podemos dizer: a Europa é melhor que a África."

"É um jogo. É perigoso, mas você acredita que é uma jornada de um dia. Se você passa dois ou três anos aqui, em um dia você está na Itália. Você acredita nisso".

A agência de refugiados da ONU (Acnur) pediu que a UE amplie seu sistema de resgate, e disse que não está sendo feito o suficiente para salvar as vidas de um número crescente de refugiados que tentam chegar à Europa.

Federico Fossi, porta-voz da agência, disse à BBC não haver indícios de que o número de imigrantes que fazem a travessia deva diminuir no curto prazo.

"Há pessoas que estão fugindo de guerras e perseguição, como na Síria, e ditaduras, como na Eritreia", disse

"As pessoas continuarão atravessando e a Acnur pediu repetidamente à União Europeia que crie um mecanismo de busca e resgate forte para salvar vidas".

'Vivo em busca da liberdade'

Num centro de detenção de migrantes em Misrata, há cerca de mil pessoas - o dobro do que havia uma semana atrás.

Muitos vieram da Eritreia, de onde escaparam de uma ditadura, ou da Somália, onde fugiram da guerra. Alguns estão aqui há sete meses.

Eles dizem não ter o suficiente para comer ou vestir e reclamam das condições do prédio: estão amontoados em grandes salas e um único banheiro é usado por 500 pessoas.

O governo líbio diz fazer o possível para atendê-los.

As mensagens rabiscadas nas paredes contam sobre a busca por um futuro melhor. "Vivo minha vida em busca de liberdade", diz uma. "Vivo minha vida para ir para a Itália", diz outra.

Ali Walujam é de Gâmbia e pagou o equivalente a R$ 2,2 mil para a viagem.

"Pagamos por um grande barco. Mas quando chegamos aqui, encontramos este barco (menor). E eles nos forçam a entrar com uma arma. Se você não entrar, eles atiram".

Ele reclama das condições na Líbia e diz que sair para trabalhar é "arriscar sua vida" todos os dias.

Esta foi sua segunda tentativa de atravessar para a Itália. Diz que foi a última. "Cansei. Quero ir para casa, para a minha mãe".

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