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Cinco fatores que explicam as tragédias no Mediterrâneo

19 abr 2015 - 11h32
(atualizado às 11h32)
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De 2013 para 2014, o número de imigrantes fazendo a travessia praticamente quadruplicou

O naufrágio ocorrido no Mar Mediterrâneo na noite deste sábado, e que pode ter matado centenas de imigrantes fazendo a travessia entre o norte da África e a Itália, foi mais uma tragédia anunciada.

As autoridades europeias ainda não encontraram soluções para conter o fluxo de pessoas que nos últimos anos têm se lançado ao mar, invariavelmente em embarcações em estado precário.

Mas há outros fatores que explicam as tragédias do Mediterrâneo. E eles passam por desde problemas geopolíticos, como a guerra civil na Síria, às dificuldades econômicas vividas pela Itália, o país que é o principal destino dos refugiados que fazem a perigosíssima travessia.

1. Mais e mais pessoas se arriscam

Apenas na última semana, a Guarda Costeira italiana resgatou 10 mil imigrantes em barcos fazendo a travessia do Mediterrâneo. O Alto Commissariado da ONU para Refugiados, o Acnur, estima que no ano passado 219 mil pessoas conseguiram cumprir o trajeto. Trata-se de um número quase quatro vezes maior que o de 2013, quando 60 mil pessoas chegaram até portos europeus. Nos primeiros três meses deste ano, o Acnur estima que 31.500 pessoas cruzaram o Mediterrâneo para chegar à Itália ou à Grecia.

Autoridades italianas, gregas e em Malta afirmam que seus centros de triagem e acomodação de refugiados estão superlotados.

Pelo menos 3.500 pessoas teriam morrido nos primeiros meses de 2015 em acidentes durante as travessias.

2. Um "paraíso" para traficantes de pessoas

Nos últimos dias, a mídia europeia publicou relatos de que traficantes de pessoas estariam buscando freneticamente barcos por conta da demanda de imigrantes fugindo da pobreza de áreas como a África subsaariana ou conflitos como a guerra civil na Síria. De acordo com estimativas de ONGs e relatos de refugiados, um lugar nas embarcações superlotadas e precárias usadas para as tentativas de travessia pode custar mais de R$ 10 mil por pessoa.

Uma única viagem de barco pode render US$ 1 milhão para os traficantes.

3. Há menos socorro disponível

Em novembro do ano passado, o governo italiano decidiu acabar com a Operação Mare Nostrum, um sistema de patrulhamento designado especificamente para o socorro a embarcações ilegais cruzando o Mediterrâneo. As autoridades alegaram que a decisão tinha como principal objetivo desestimular as tentativas de travessia, sob o argumento de que a redução no socorro coibiria a demanda junto aos traficantes de pessoas.

Cinco meses depois, porém, os números de imigrantes se mantêm elevados, de acordo com o próprio governo italiano, mas o patrulhamento e socorro é feito em menor escala. A Frontex, agência de fronteiras da União Europeia, criou a Operação Triton, que tem orçamento menor que o da Mare Nostrum. Isso significa menos embarcações, pessoal e um alcance menor: a Triton está limitada a 30 milhas náuticas da costa italiana (55 quilômetros).

O navio que virou na noite de sábado, por exemplo, estava a 200km da ilha de Lampedusa.

Imigrantes resgatados pela marinha italiana são levados para centros de triagem já lotados

4. A imigração é uma "batata-quente"

Com uma economia que encolheu 0,4% em 2014 e uma taxa de desemprego superior a 12%, o governo italiano se vê num dilema no que diz respeito à questão humanitária. Num momento em que a imigração é assunto espinhoso, os gastos mensais de 10 milhões de euros na Mare Nostrum despertaram críticas. O país tem eleições no final de maio.

No sábado, antes do mais recente naufrágio, o Acnur havia criticado as autoridades europeias por se recusarem a aumentar o orçamento para missões de resgate no Mediterrâneo. Diversos governos aderiram ao argumento de que menos missões desencorajam tentativas de travessia. Incluindo a Grã-Bretanha, que se recusou a participar de futuras missões marítimas.

5. A travessia é perigosa

Embora a alcunha de rota imigratória mais mortal do mundo se deva ao grande número de pessoas que se arrisca em embarcações que beiram o improviso, o Mediterrâneo é também um mar que oferece perigos. Ventos fortes e eventuais tempestades podem pegar de surpresa as embarcações fazendo o percurso de quase 500km entre a Líbia e a Itália, por exemplo. No verão, europeu porém, as águas ficam mais calmas, e as autoridades temem que mais e mais barcos sejam lançados ao mar.

AP
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Foto: BBC Mundo / Copyright
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