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Choques em Damasco abrem 'novo capitulo' no conflito sírio

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Em meio à queda de braço da diplomacia internacional sobre a definição do futuro da Síria, o confronto armado entre forças do governo e grupos opositores alcançou um novo patamar nesta terça-feira, com o conflito chegando à capital do país, Damasco.

Segundo ativistas, tanques e helicópteros militares foram vistos na cidade para tentar pôr fim às manifestações contra o regime de Bashar al-Assad.

Um tiroteio foi registrado em uma das principais avenidas centrais da cidade e numa praça ao redor da sede do Banco Central do país.

Forças rebeldes fizeram uma investida "tudo ou nada" na capital, já apelidada de "Operação vulcão de Damasco e terremotos da Síria".

Segundo analistas, o regime teria ficado "perplexo" com a empreitada dos opositores. Com partes do centro da capital interditadas e milhares de moradores forçados a deixar a cidade, a imprensa estatal voltou toda sua atenção para a luta armada em Damasco.

A Irmandade Muçulmana, o maior e mais organizado grupo de oposição, chamou o confronto de "batalha decisiva" e convocou todos os sírios a se juntar numa "insurreição civil nacional".

O estopim para o conflito de grandes proporções teria ocorrido no último domingo, quando forças de Assad investiram contra opositores armados após uma operação nos subúrbios da capital do país.

Entretanto, atos de violência também são verificados nos arredores de Damasco, ao passo que os opositores - agora munidos de armas de maior poder de fogo e mais organizados - combatem o Exército e a milícia apoiada pelo governo.

Testemunhas afirmaram que o envio do contingente militar à capital é o maior desde o início dos protestos contra o regime, em março do ano passado.

"O Exército está desertando; o regime de Assad enlouqueceu", disse um ativista à agência de notícias France Presse.

Já os rebeldes disseram à agência de notícias britânica Reuters que abateram um helicóptero militar no distrito de Qaboun, em Damasco.

Rússia

O confronto, já considerado por analistas como o de maior proporção entre grupos leais ao governo sírio e forças de oposição, ocorre em meio ao encontro entre o enviado das Nações Unidas para a Síria, Kofi Annan, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin em Moscou.

Após a reunião com Annan, Putin declarou à imprensa que o país reafirmou seu compromisso com o plano de paz proposto pelo enviado da ONU. A proposta é composta por seis pontos e reivindica um cessar-fogo imediato, além de negociações entre o governo e as forças de oposição.

Ainda assim, a Rússia manteve sua posição, também defendida pela China, de rejeitar qualquer medida que leve a uma intervenção internacional na Síria, ou a renúncia de Assad.

A ONU tem até a próxima sexta-feira, dia 20 de julho, para renovar o prazo de permanência de seus observadores na Síria, ao passo que os países ocidentais ainda tentam pressionar China e Rússia a ceder e apoiar medidas mais duras contra o regime sírio.

Em Pequim, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon defendeu uma ação conjunta imediata do Conselho de Segurança (CS) para por fim à crise.

Al Qaeda e armas químicas

Com a escalada do conflito, aumentou também o temor sobre o grande estoque de armas químicas detido pela Síria.

Nações vizinhas e potências ocidentais têm expressado preocupação sobre a segurança desse armamento em uma eventual queda do regime de Assad.

Em entrevista à BBC, o diplomata sírio Nawaf al-Fares, ex-embaixador do país no Iraque e, por enquanto, o político de maior prestígio do governo sírio a ter desertado rumo à oposição, não descartou que Assad poderia usar parte desse armamento contra os opositores.

Segundo ele, Assad, a quem descreveu como "um lobo ferido", teria colaborado com militantes sunitas da rede Al-Qaeda em uma série de atentados atribuídos às forças opositores ao regime.

A alegação causa surpresa uma vez que Assad é da minoria alauíta (um ramo do islamismo xiita). O grupo controla a cúpula do governo e das Forças Armadas sírias.

Mesmo assim, Fares afirmou que "há suficiente evidência na história de que muitos inimigos se unem quando há um interesse comum".

"A Al-Qaeda está buscando espaço para atuação e novas fontes de apoio, ao passo que o regime quer encontrar formas de aterrorizar a população síria".

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