PUBLICIDADE

Mundo

Brasil: negro preside pela primeira vez o Supremo Tribunal

O juiz Joaquim Barbosa, 58 anos, se tornou nesta quinta-feira o primeiro presidente negro do Supremo Tribunal Federal (STF), durante uma cerimônia na presença da presidente Dilma Rousseff, feito histórico em um país onde os afrodescendentes são maioria, em

22 nov 2012 - 19h09
Compartilhar

BRAS¯LIA, 22 Nov 2012 (AFP) - O juiz Joaquim Barbosa, 58 anos, se tornou nesta quinta-feira o primeiro presidente negro do Supremo Tribunal Federal (STF), durante uma cerimônia na presença da presidente Dilma Rousseff, feito histórico em um país onde os afrodescendentes são maioria, embora sejam marginalizados.Nascido em uma família pobre de oito filhos, frutos do casamento de um pedreiro e de uma faxineira, Barbosa prestou juramento na sede do tribunal diante dos demais magistrados, da presidente e de altas autoridades do país.Devo dizer "honestamente que há um grande déficit de justiça entre nós. Nem todos os brasileiros são tratados com a mesma consideração quando recorrem à Justiça. O que se vê aqui é um tratamento privilegiado", afirmou áBarbosa em seu discurso.Último país a abolir a escravidão, em 1888, o Brasil recebeu a chegada de Barbosa ao posto máximo do poder judiciário como um avanço em um país onde os afrodescendentes, apesar de representarem 52% da população de 194 milhões de habitantes, são socialmente marginalizados, especialmente dos altos círculos do poder. Apenas 2,2% dos negros ou mulatos brasileiros têm acesso às universidades.O novo presidente do STF se comprometeu a promover "um poder judicial ágil, eficaz e efetivo". "Precisamos tornar efetivo o princípio constitucional da duração razoável do processo", declarou.Acompanhado de sua família, Barbosa, que devido a um problema na coluna costuma dar discursos curtos de pé, assumiu o cargo diante de 2.000 convidados do mundo político, jurídico, artístico e dos movimentos negros.O magistrado foi nomeado presidente do STF no lugar de Carlos Ayres Britto, que se aposentou ao completar 70 anos.O novo chefe da corte foi o protagonista do julgamento do Mensalão, que condenou 25 empresários e políticos pela compra de votos no Congresso durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), inclusive o ex-chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu.Paradoxalmente, Barbosa foi indicado nove anos atrás ao STF pelo presidente Lula, o que depois de sua atuação no chamado julgamento do século aumentou sua fama de lutador implacável contra a corrupção.Relator do processo que investigou o envolvimento de dirigentes do Partido dos Trabalhadores em um esquema de compra de votos no Congresso, Barbosa presidirá a etapa final do chamado julgamento do século, em que se destacou por pedir duras penas aos envolvidos.Barbosa, que já admitiu ter votado no PT, defendeu "a independência do juiz" e "o caráter laico de sua missão constitucional" para que suas "crenças mais íntimas não contaminem suas atividades".A emocionante cerimônia de posse foi um retrato fiel do país com igualdade de oportunidades e direitos que o magistrado disse esperar em seu discurso.Nas primeiras filas para convidados estava sua mãe, Benedita, a quem Barbosa dirigiu uma emotiva saudação, além de seu filho e seu irmão, flanqueados por representantes da alta sociedade brasileira."Junto à maturidade constitucional, o Brasil vive um momento único em sua História", afirmou o juiz Luiz Fux em discurso lido em nome da corte.Fux fez Barbosa se emocionar ao evocar o ativista americano dos direitos civis, Martin Luther King, em seu famoso discurso, "Eu tenho um sonho" (I have a dream).Em seu primeiro ato como presidente do STF, Barbosa tomou o juramento do vice-presidente da corte, Ricardo Lewandowski, e em seguida se sentou no centro do tribunal, ao lado da presidente Dilma."A renovação do Supremo Tribunal Federal é um feito que deve ser celebrado na construção do nosso sistema de justiça", declarou o procurador-geral, Roberto Gurgel.No país com a segunda maior população negra do mundo, depois da Nigéria, Barbosa tem denunciado o racismo e a desigualdade ao longo de sua trajetória."O sistema penal brasileiro penaliza e muito... principalmente os negros, os pobres, as minorias em geral", lamentou em entrevista recente.O próprio Barbosa precisou deixar a cidadezinha de Paracatu, no interior de Minas Gerais, onde nasceu para estudar. Aos 16 anos, chegou a Brasília, onde trabalhou como faxineiro nos tribunais e digitador na gráfica do Senado. Conseguiu se formar nas melhores universidades, tradicionalmente reservada aos ricos.Hoje é doutor em direito público pela Universidade da Sorbonne, em Paris, onde obteve três diplomas de pós-graduação. O magistrado também fala cinco idiomas: francês, inglês, italiano e alemão, além do português."Quando a educação se impõe à desigualdade se vê exemplos como este, mas se a educação fosse para todos, haveria muitos Joaquins Barbosa", comentou a apresentadora de TV Regina Casé a jornalistas.vel/lbc/cd/mr/mvvá

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
Compartilhar
Publicidade