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Ataques terroristas crescem desde início da Guerra ao Terror

Há cinco vezes mais mortes por atentados hoje do que em 2000. Em 14 anos, foram registrados 48 mil ataques terroristas em 123 países, com 107 mil vítimas fatais

27 mar 2015 - 11h27
(atualizado às 11h29)
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<p>Torres Gêmeas durante os ataques de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos</p>
Torres Gêmeas durante os ataques de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos
Foto: AFP

A “Guerra ao Terror”, capitaneada pelos Estados Unidos após os ataques de 11 de setembro de 2001, não teve o efeito esperado. Desde a invasão americana ao Iraque, em 2003, houve aumento do número de países que registram atentados e elevação do número de vítimas em decorrência deles, conforme revela o Índice Global de Terrorismo (GTI, na sigla em inglês), realizado pelo Instituto para Economia e Paz (IEP), entidade independente com sedes na Austrália, EUA e México.

Há cinco vezes mais mortes por atentados hoje do que em 2000. Em 14 anos, do início do ano 2000 ao fim de 2013, foram registrados 48 mil ataques terroristas em 123 países, com 107 mil vítimas fatais. Só em 2013, último ano abordado na pesquisa, os atentados mataram 17.958 pessoas - 61% a mais do que no ano anterior.

Na análise de Marcial Garcia Suarez, doutor em Ciência Política e coordenador do Grupo de Estudos em Segurança Internacional da Universidade Federal Fluminense, a estratégia americana foi ineficiente ao buscar a eliminação do terrorismo. Ele vê o problema como um fenômeno político permanente e que, por isso, não pode ser eliminado. De todas as organizações terroristas que encerraram suas atividades desde a década de 1960, apenas 7% se desmobilizaram devido à intervenção militar. Enquanto isso, o policiamento e a politização se encarregaram do fim de 83% delas.

É possível, indica Suarez, ampliar e desenvolver instrumentos de vigilância, de inteligência e politicas públicas com o propósito de evitar a vulnerabilidade social e econômica entre os grupos à margem da ordem social. “Os atentados ao Charlie Hebdo (em Paris, em janeiro) nos oferecem um exemplo muito claro, pois os terroristas eram franceses de segunda e terceira geração de imigrantes de antigas colônias francesas, o que, de certa forma, os tornava cidadãos de 'segunda classe’. Nesses casos, a falta de oportunidades torna o recrutamento de indivíduos comuns mais possível”, destaca.

"O terrorismo não surge por conta própria", explica Steve Killelea, fundador do IEP. "Ao identificar os fatores associados a ele, políticas podem ser implementadas para melhorar o ambiente subjacente que alimenta o terrorismo. As ações mais significativas que podem ser tomadas são a redução da violência patrocinada pelo estado, diminuir hostilidades entre grupos e melhorar o policiamento eficaz e apoiado pela comunidade".

Foto: Terra

Maioria das vítimas está no Oriente

Os números do GTI também não confirmam que o terrorismo se trate de uma guerra do Oriente contra o Ocidente. Segundo o levantamento, 82% dos mortos em atentados estão concentrados em cinco países orientais: Iraque, Afeganistão, Paquistão, Nigéria e Síria - o que demonstra o crescimento dos grupos nessas regiões.

A vertente ocidental do terror se mostra menos ativa. Na Espanha, desde a década de 50, o ETA luta pela independência do País Basco. Com arsenal militar enfraquecido, os atentados de sua autoria (sobretudo sobre Madri) vêm diminuindo nos últimos anos.

Outra organização na Europa é o IRA, o Exército Republicano Irlandês, que também possui viés separatista: quer o desmembramento da Irlanda do Norte do Reino Unido e sua anexação à República da Irlanda. Embora teoricamente sem armas desde 2005, ainda é visto como uma ameaça à paz.

Já na América do Sul, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) são a principal articulação terrorista, tendo como objetivo o controle do país. Também enfraquecida, a organização negocia a paz com o governo local, tendo a mediação da Venezuela.

As Farc, para muitos especialistas, não são exatamente um grupo terrorista. O mesmo acontece com relação ao Hamas, cujas ações de terror aparecem na luta em favor da Palestina e contra Israel. A dúvida sobre a classificação ou não de organizações como terroristas acompanha a própria falta de consenso global sobre o que é terrorismo. Um dos conceitos mais aceitos é o do FBI, a polícia federal do EUA, que entende a prática como uso ilegal de força ou violência para intimidar ou coagir em apoio a objetivos políticos ou sociais. Assim, determinados movimentos podem cometer atos terroristas, embora não sejam assim classificados.

Para Suarez, a comparação entre IRA e o Estado Islâmico, por exemplo, pode ser válida ao considerar como similar a ação de violência política com o objetivo de instigar a insegurança e o medo em um determinado ator político. Por outro lado, suas agendas políticas são distintas: enquanto o primeiro quer autonomia política, o segundo deseja a dissolução de outras unidades políticas, a redefinição de fronteiras e o deslocamento de povos. “Não há dúvidas que o terrorismo é um fenômeno político em expansão, pois as condições no cenário internacional tendem a aumentar a fricção entre grupos políticos antagônicos”, conclui.

Brasil não está imune a atentados

O Brasil é o 72º colocado no ranking do GTI entre as nações mais afetadas pelo terrorismo. Dessa forma, o estudo relaciona o país como um palco para atentados. Para Marcial, essa é justamente a definição cabível, em vez de considerar o território brasileiro como um possível alvo do terror. 

O risco pode ser atribuído à evidência atribuída ao Brasil por sediar grandes eventos, como os Jogos Olímpicos de 2016. Mais do que isso, para Marcial, a dificuldade de controle sobre crimes mais ordinários e as limitações dos agentes de segurança pública no país o tornam mais vulnerável. “A única forma de tornar esse cenário mais improvável é uma integração efetiva dos agentes de segurança não apenas nacionais, mas internacionais”, pondera.

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