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Ataques em Paris: 'Estavam prontos para agir', diz promotor sobre operação em Saint-Denis

18 nov 2015 - 18h42
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E sta reportagem está sendo constantemente atualizada à medida que novas informações vêm à tona

Duas pessoas foram mortas em uma grande operação de sete horas de duração realizada pela polícia francesa em um apartamento de Saint Denis, ao norte de Paris, na manhã desta quarta-feira, em busca dos autores dos atentados que deixaram 129 mortos e centenas de feridos na sexta-feira passada.

Uma mulher detonou seu cinto com explosivos. O outro suspeito foi morto a tiros. Sete pessoas foram detidas, segundo a polícia.

Inicialmente, as autoridades achavam que um dos mortos na operação poderia ter sido Abdelhamid Abaaoud, de 27 anos - ele teria sido o mentor dos atentados e, portanto, o alvo principal da operação. No entanto, o promotor francês François Molins já desmentiu a possibilidade.

Segundo ele, o suspeito baleado ainda não foi identificado.

Ainda de acordo com o promotor, a célula terrorista desmanchada na operação desta quarta-feira estava "pronta para agir".

O foco das investigações ainda está em encontrar o grande orquestrador dos ataques, Abaaoud. A princípio, pensava-se que o belga de origem marroquina tivesse coordenado os atendados a partir da Síria, mas, segundo François Molins, dados de inteligência indicam que ele estava em Paris.

Nesta quarta-feira, o presidente francês, François Hollande, disse que os desdobramentos recentes comprovam que seu país está em guerra com o grupo extremista autodenominado "Estado Islâmico", que assumiu a autoria dos ataques, e afirmou ser necessária uma "grande coalizão" contra estes militantes.

Tiros e explosões

A operação em Saint Denis começou às 4h20 do horário local (1h20 do horário de Brasília). Neste mesmo bairro fica o estádio Stade de France, onde três homens-bomba se detonaram na sexta-feira.

Em entrevista concedida no local da operação, Molins afirmou que a ação foi organizada após escutas telefônicas, e informações de vigilância apontaram que Abaaoud poderia estar lá.

Ruas foram interditadas ao redor da Rue de la Republique, em Saint Denis. Tiros e explosões foram ouvidos.

Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

O promotor informou que a mulher - que seria parente de Abaaoud, segundo a emissora francesa BFMTV - se explodiu pouco depois do início da operação. O segundo suspeito foi morto por granadas e tiros da polícia.

Três homens foram presos no apartamento. Outros dois foram encontrados escondidos entre escombros e mais dois, inclusive o homem que forneceu a hospedagem ao grupo, foram detidos.

"É impossível dizer a vocês quem foi preso. Estamos verificando isso", afirmou Molins.

Cinco policiais ficaram feridos e um cão da polícia foi morto ao entrar no apartamento, disse a polícia. O ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, parabenizou as forças de segurança por terem "trabalhado sob fogo pesado em condições que nunca tinham sido vistas antes".

Fontes disseram na terça-feira que vídeos de câmeras de segurança mostraram uma possível nona pessoa como autora dos ataques de sexta-feira. As imagens mostram uma terceira pessoa no carro que levou o grupo que atacou diversos bares e restaurantes.

Não está claro se essa nova pessoa é um dos supostos cúmplices preso em Bélgica ou que ainda está foragido.

Veja a seguir o que se sabe até o momento.

Quem foram os autores?

O promotor Molins disse que sete atiradores morreram durante os ataques – cinco deles teriam sido identificados até agora. Acredita-se que outro suspeito tenha tido participação direta nos ataques e investiga-se a existência de um nono suspeito.

Investigadores acreditam que os ataques foram planejados na Bélgica, com apoio na França.

Polícia localizou carro que teria sido usado por autores de atentado
Polícia localizou carro que teria sido usado por autores de atentado
Foto: EPA / BBC News Brasil

Os autores parecem ter trabalhado em "três equipes coordenadas" usando o mesmo tipo de armas e cintos suicidas, disse Molins.

  • Três dos autores se explodiram nos arredores do Stade de France, no norte de Paris.
  • Outro morreu após detonar seus explosivos no restaurante Le Comptoir Voltaire, na Boulevard Voltaire.
  • Três homens que vestiam coletes suicidas realizaram o pior ataque da noite, na casa de shows Bataclan, onde 89 pessoas morreram. Dois deles morreram após se explodirem, e o terceiro foi morto pela polícia.

O documento está em nome de Ahmad al-Mohammad, nascido em 10 de setembro de 1990, na cidade de Idlib. Investigadores franceses dizem que ele era um soldado leal ao presidente sírio, Bashar al-Assad.

O oitavo suspeito, Salah Abdeslam, de 26 anos, teria alugado o carro encontrado do lado de fora do Bataclan. Segundo o Ministério Público belga, ele não está enter os mortos ou presos da operação desta quarta-feira, e a busca por ele continua.

Abaaoud é suspeito de ser o mentor dos atentados, mas não teria participado diretamente dos ataques.

Algum dos autores sobreviveu?

As buscas em Saint Denis tinham como objetivo principal encontrar Abaaoud. Antes da operação no subúrbio de Paris, havia notícias de que o descendente de marroquinos estaria na Síria, onde teria engrossado as fileiras do "Estado Islâmico".

No entanto, autoridades agora dizem que dados de inteligência apontam que ele estava de fato em Paris.

A polícia francesa também busca por Salah Abdeslam, de 26 anos. Ele teria alugado o carro usado no ataque ao Bataclan. Ele teria fugido e cruzado a fronteira com a Bélgica, mas não está descartada a hipótese de que ele esteja entre os homens mortos ou presos em Saint Denis.

Segundo a ministra do Interior da Áustria, Johanna Mikl-Leitner, Abdeslam entrou em território austríaco, vindo da Alemanha, em 9 de setembro, com mais duas pessoas ainda não identificadas. Sua identidade foi obtida em uma blitz de rotina. Ele disse a autoridades que estava indo a Viena a passeio.

Um de seus irmãos, Brahim, morreu no Bataclan e outro, Mohammed, foi detido em Bruxelas no sábado, mas acabou liberado nesta segunda, sem que qualquer acusação contra ele fosse feita.

O suspeito, um cidadão francês que nasceu e morou em Bruxelas, foi descrito como "perigoso" – e o público foi alertado a não se aproximar dele.

A polícia francesa abordou um carro no qual ele viajava perto da fronteira com a Bélgica horas após os ataques. Salah e outros dois ocupantes foram liberados após verificações – ainda não está claro se ele já havia sido identificado pelas autoridades da França naquele momento.

Mohammed Amri, de 27 anos, e Hamza Attou, de 21, foram presos porque teriam se envolvido nos ataques. Segundo seus advogados, eles reconhecem que viajaram para a França no sábado e se encontraram com um Abdeslam, segundo a agência AP.

Mas seu advogado de defesa, Xavier Carrette, diz que eles teriam feito a viagem para pegar Abdeslam, que seria seu "amigo". Depois, voltaram para Bruxelas.

O que se sabe sobre os autores mortos?

Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

Autoridades francesas identificaram um dos responsáveis mortos como Omar Mostefai, de 29 anos, francês nascido em Courcouronnes, 25 km ao sul de Paris.

Nos últimos anos, ele morou na cidade de Chartres, a sudoeste do Paris, e frequentava uma mesquita em Luce. Ele foi identificado após seu dedo ser encontrado no Bataclan e suas impressões digitais correspondem àquelas do arquivo da polícia, segundo a imprensa.

Outro atirador do Bataclan foi nomeado como Samy Amimour, de 28 anos, francês de Paris procurado pelas autoridades.

Bilal Hadfi seria outro atirador. O francês, de 20 anos, vivia na Bélgica e teria sido responsável pelo ataque suicida nos arredores do estádio Stade de France. Acredita-se que ele tenha lutado na Síria.

Outro homem-bomba nos arredores do Stade de France foi encontrado com um passaporte sírio com o nome de Ahmad Al-Mohamed, disseram promotores franceses - ainda que não se sabe se essa é sua verdadeira identidade. Não está claro se o passaporte é autêntico.

Sabe-se que ele entrou na Europa como imigrante pela ilha grega de Leros, em outubro, e suas impressões digitais correspondem àquelas tomadas por órgãos gregos, disseram autoridades.

Investigadores identificaram Brahim Abdeslam, de 31 anos, irmão de Salah Abdeslam, como um dos homens-bomba no café Comptoir Voltaire.

Nono suspeito

Na noite de terça-feira, um vídeo de segurança descoberto pelos investigadores mostrou um possível nono autor dos ataques, afirmam fontes nas forças de segurança francesas.

As imagens mostrariam uma terceira pessoa no carro onde estava um grupo que fez ataques a bares e restaurantes. Ainda não está claro se esse nono autor é um dos dois suspeitos presos na Bélgica ou se está sendo procurado.

A polícia francesa também está investigando locais de Paris que poderiam ter sido usados pelos autores dos ataques. Salah Abdeslam, o oitavo suspeito e alvo de uma grande operação de busca internacional, alugou um apartamento e dois quartos de hotéis na cidade.

Imagens exibidas pela mídia francesa de um dos quartos de hotel revistados mostram seringas e tubos no local, materiais que poderiam ser usados na fabricação de bombas.

Abdeslam ainda alugou um carro que teria sido usado para transportar atiradores entre a França e a Bélgica. O veículo também está sendo inspecionado.

O Renault Clio preto foi registrado na Bélgica e encontrado estacionado próximo ao bairro Montmartre, no norte de Paris. A polícia isolou a área e, após garantir que não havia risco de explosão, levou o automóvel para ser inspecionado por peritos forenses.

Dois homens foram presos na Bélgica durante o dia sob acusação de assassinato, terrorismo e conspiração.

Na Alemanha, a polícia confirmou que duas mulheres e um homem foram presos em uma operação ligada aos ataques, segundo a agência Reuters.

De acordo com o jornal local Aachener Nachrichten, os policiais pararam o veículo na manhã desta terça-feira em Alsdorf, no oeste da Alemanha. A polícia está buscando outro suspeito nas proximidades.

Os ataques da noite de sexta atingiram movimentados bares e restaurantes, uma casa de shows e os arredores do Stade de France. O grupo extremista autodenominado Estado Islâmico assumiu a autoria dos atentados.

O governo francês diz ter realizado mais ataques ao grupo na noite de segunda-feira e mobilizado 115 mil integrantes de forças de segurança.

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