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Oriente Médio

Ataque químico na Síria é um mistério para especialistas

22 ago 2013 - 08h46
(atualizado às 09h43)
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Ativistas da oposição na Síria acusam o Exército de ter lançado um ataque com armas químicas nos arredores da capital Damasco.

Vídeos postados pelos opositores do regime de Bashar al-Assad, cuja autenticidade não pode ser confirmada, mostram imagens chocantes de pessoas sofrendo dos sintomas de possíveis agentes tóxicos: vômitos, dificuldade de respirar, pupilas dilatadas, entre outros. O Exército sírio negou as alegações, qualificando-as de falsas e totalmente sem fundamento.

A BBC preparou uma lista de perguntas e respostas sobre o último ataque no país, que vive uma guerra civil desde 2011.

O que aconteceu?

Forças do governo bombardearam na manhã de quarta-feira uma área a leste da capital Damasco, tomada pelos rebeldes que tentam tirar Assad do poder. Grupos da oposição afirmam que durante o ataque foguetes com agentes tóxicos foram lançados contra civis da região de Ghouta.

Eles estimam que mais de mil pessoas morreram, muitas delas mulheres e crianças. As mortes foram registradas nas áreas de Irbin, Duma e Muadhamiya, entre outras, afirmam os ativistas. O Exército sírio nega as acusações, alegando que se tratam de uma "tentativa desesperada de por parte dos rebeldes de encobrir suas derrotas e atrair o apoio midiático".

O que os vídeos mostram?

As imagens, que não foram verificadas de forma independente, mostram adultos supostamente sofrendo os efeitos dos agentes químicos. Médicos aparecem atendendo pessoas que estão vomitando e não apresentam ferimentos no corpo. Alguns pacientes parecem estar tontos e inconscientes. Dezenas de corpos, incluindo os de crianças e bebês, são vistos enfileirados no chão de uma clínica. Correspondentes acreditam que o número de mortos é muito maior do que em qualquer outro suposto ataque químico na Síria.

O que os sintomas sugerem?

Analistas afirmam que a ausência de ferimentos externos pode ser um sinal de que o ataque tenha sido feito com agentes químicos.

Mulher que, segundo a oposição, foi morta em ataque com gases tóxicos
Mulher que, segundo a oposição, foi morta em ataque com gases tóxicos
Foto: AFP

"Alguns sintomas, como boca aberta e olhar parado, são muito semelhantes ao que vimos em Halabja, no Iraque, onde milhares de pessoas foram mortas por agentes nervosos", disse Hamish de Bretton-Gordon, ex-comandante das Forças Britânicas contra terrorismo químico e biológico. "Outras imagens que mostram pupilas trêmulas e fixas também podem indicar algum tipo de agente químico", acrescenta Bretton-Gordon.

Ainda segundo especialistas, um grande número de pessoas morreu em pouco tempo, o que também sugere a ocorrência de um ataque químico. "O gás mostarda, que foi usado amplamente na Guerra Irã-Iraque, tende a matar ao longo de dias, em vez de horas e minutos, então por isso isso pode ser um outro tipo de agente" explica Bretton-Gordon.

O professor Alexander Kekule, do Institutos de Microbiologia Médica na Universidade de Halle, na Alemanha, concorda que há indícios de ataque químico, acrescentando que não há sinais de outros tipos de agentes que causam queimaduras da pele. As vítimas também parecem sofrer de sérias dificuldades de respiração.

Jean Pascal Zanders, analista de armas químicas e biológicas, disse que há "evidências convincentes" de envenenamento por asfixia devido à cor "rosa-azulada" nos rostos dos mortos.

Quais são as maiores questões do momento?

Analistas têm ressalvas a respeito do que as imagens de vídeo realmente mostram e que tipo de armas podem ter sido usadas.

"Por enquanto, não estou completamente convencido porque as pessoas que estão ajudando os pacientes não estão usando roupas de proteção ou respiradores", disse Paula Vanninen, diretora do Verifin, o Instituto Finlandês para Verificação da Convenção das Armas Químicas. "Em uma situação real, eles também ficariam contaminados e sofrendo dos mesmos sintomas."

Pascal Zanders tem dúvidas sobre alegação de que agentes nervosos tenham sido usados. "Eu não vi ninguém aplicando antídotos contra agente nervosos", disse ele em um blog. "Nem médicos nem outras pessoas parecem sofrer de exposições secundárias enquanto atendem as vítimas".

O professor Kekule disse ainda que os sintomas não se encaixam no uso típico de armas químicas, já que as vítimas não parecem sentir dor ou irritação nos olhos, nariz e boca.

Os vídeos podem ter sido fabricados?

O ministro da Informação sírio, Imran al-Zu'bi, disse à uma TV no Líbano que as imagens foram fabricadas em uma campanha planejada com antecedência. Mas analistas da BBC acreditam que a escala do ataque e os detalhes das imagens tornam improvável a possibilidade de que se trate de uma fraude.

O professor Kekule afirma que a hipótese de que os vídeos sejam uma encenação política não pode ser totalmente excluída, mas, neste caso, seria "uma encenação muito bem feita". Bretton-Gordon opina que seria muito difícil para os conspiradores fazer crianças parecerem mortas por tanto tempo. Muitos comentaristas concordam que "alguma coisa terrível aconteceu", como afirma Pascal Zanders. No entanto, o que aconteceu exatamente pode ser algo difícil de saber.

Quem seria capaz de fazer um ataque dessas proporções?

O governo sírio admitiu que tem estoques de armas químicas, mas nega que os usaria dentro da Síria. O ministro da Informação, Imran al-Zu'bi, disse que os ataques da quarta-feira não teriam sido possíveis diante do perigo que representariam para as próprias forças do governo que estavam perto da área supostamente afetada com os agentes químicos.

A Rússia afirmou que há evidências de que o ataque teria sido executado pela própria oposição para minar o governo. Mas os Estados Unidos e a Grã-Bretanha dizem não acreditar que os rebeldes têm acesso a armas químicas.

E por que agora?

Equipes da ONU especializadas em armas químicas chegaram à Síria no domingo para investigar três locais onde agentes químicos foram supostamente usados, incluindo a cidade de Khan al-Assal, no norte, onde 26 pessoas morreram em março.

Correspondentes da BBC acham difícil acreditar que o governo sírio, que recentemente recuperou terrenos dominados pelos rebeldes, fizesse um ataque com armas químicas enquanto inspetores estiverem no país. No entanto, um ataque da forças rebeldes em uma área dominada por eles também parece improvável para muitos observadores.

Como as alegações podem ser verificadas?

Estados Unidos, Grã-Bretanha e França estão entre os países que defendem o acesso dos inspetores da ONU às áreas afetadas para determinar se armas químicas foram usadas no ataque.

O Conselho de Segurança ONU fez uma reunião de emergência na quarta-feira para discutir a situação no país. Uma porta-voz disse após a reunião que havia uma sensação geral de que as circunstâncias do que aconteceu devem ser esclarecidas, mas não informou se a missão da ONU poderia ser estendida. Por enquanto eles só têm permissão das autoridades sírias para investigar três lugares específicos, que não incluem a área do suposto ataque químico na quarta-feira.

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