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Ásia

Uma vida inteira na Síria reduzida a uma garagem no Líbano

3 out 2015 - 06h14
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No subúrbio de Badaui, na cidade libanesa de Trípoli, as garagens não são para guardar os carros, elas servem de moradia para refugiados sírios, que após perder tudo levam uma vida rodeada de miséria.

São tão pobres que não conseguem nem mesmo juntar os US$ 1 mil necessários para ir ilegalmente à Europa, e também não podem viajar de forma legal, porque a maioria não tem passaporte.

"Claro que iria se pudesse, mas não podemos pedir o passaporte em nossa embaixada daqui, teríamos que voltar à Síria para isso e é perigoso retornar no meio da guerra", disse à Agência Efe um dos moradores deste bairro, Ziad, de 37 anos e pai de quatro crianças.

Em Homs, sua cidade de origem, ele ganhava a vida como eletricista e possuía uma casa com três quartos. Agora, consegue apenas trabalhos esporádicos como pedreiro e vive em uma das garagens do bairro de Badaui.

"Eu vejo o futuro negro, não tenho perspectivas de nada", lamentou Ziad, com resignação.

Não muito longe dali, outra moradora da região é Maryam, de 35 anos, que passa o tempo observando o movimento da rua encostada no portão da garagem onde mora com o marido e seis filhos, com idades entre três e 15 anos.

Maryam mostra sua casa, que se limita a um único cômodo divido em dois por um improvisado painel de madeira: uma parte é sala de estar durante o dia e quarto para toda a família durante a noite; a outra parte serve de cozinha.

Na área sala-quarto não há móveis, apenas uma pequena televisão, uma esteira e colchões no chão. Já na "cozinha" há uma pia, uma geladeira, um fogão velho sem forno e duas estantes para guardar comida. O banheiro é um claustrofóbico espaço de um metro quadrado que abriga uma prateleira onde também é armazenada a comida.

Da mesma forma que as outras de garagens do bairro, a de Maryam não é subterrânea, mas a única ventilação que possui chega através da porta e de uma pequena janela perto do teto da cozinha. A casa é humilde, mas limpa.

"Seremos pobres, mas pelo menos vou manter a garagem a mais limpa possível", comentou esta síria, também vinda de Homs, como a maioria dos residentes de Badaui.

A notícia de que uma jornalista está na casa de Maryam corre rápido e logo várias vizinhas aparecem. Elas chegam carregando os filhos, porque os maridos estão rezando na mesquita, e todas querem contar suas histórias para que "o mundo saiba como os sírios vivem no Líbano".

A principal preocupação é o futuro das crianças, já que muitos deles não vão à escola desde que chegaram ao país.

"É muito caro e não podemos pagar nem os livros", declarou Halima, prima de Maryam e que tem quatro filhos.

Outra das mulheres, Amina, relatou que todos os dias são iguais. "Hoje é como ontem e será como amanhã. Comer, dormir e não fazer nada", detalhou com tristeza.

A dieta se limita a arroz, triguilho (espécie de farinha de trigo) e verduras. Raramente comem frango ou carne. "Depende de como estão os preços", explicou Amina.

Elas cuidam das crianças, enquanto seus maridos procuram emprego ou fazem trabalhos temporários na construção, com o que a duras penas podem conseguir os US$ 250 (pouco mais de R$ 990) do aluguel da garagem. Da ONU, eles recebem uma ajuda mensal de US$ 13,50 (pouco mais de R$ 50) por pessoa.

A situação de Maryam é complicada porque um de seus filhos é cego de um dos olhos e a operação que poderia mudar isso custa US$ 1.500 (quase R$ 6 mil), um valor impossível de ser pago por conta das circunstâncias. Seu sonho é ir à Alemanha para começar uma nova vida com sua família, mas reconhece que é quase impossível.

Outra vizinha, Batul, tem um filho de um ano e meio com fibrose. Ela e sua família foram entrevistados pela ONU no ano passado para serem reassentados em outro país, mais ainda não tiveram resposta.

Quase todas gostariam de se mudar a outro Estado árabe, como a Arábia Saudita, "porque lá não há diferenças culturais e o idioma é o mesmo, portanto seria fácil se integrar", esclareceu Hanan, outra das mulheres.

Voltar à Síria parece uma quimera. "Lá está tudo destruído, não há para onde voltar", concluiu Halima.

EFE   
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