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Ásia

Últimos chefes do Khmer Vermelho vão a julgamento por genocídio

26 jun 2011 - 09h25
(atualizado às 09h38)
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Os últimos chefes do Khmer Vermelho sentam nesta segunda-feira no banco dos réus do tribunal internacional que a ONU organizou no Camboja acusados de matar um quarto da população quando governaram o país.

Eles são acusados de genocídio, crimes contra a humanidade e de guerra, assassinato, tortura e perseguição por razões religiosas e de raça contra a minoria muçulmana cham, a população vietnamita e a comunidade de monges.

Os acusados são o chefe de Estado do regime do Khmer Vermelho, Khieu Samphan; o ideólogo e número dois da organização, Nuon Chea; o ministro de Relações Exteriores, Ieng Sary; e sua esposa e ministra de Assuntos Sociais, Ieng Thirith.

"Consideramos que eles são responsáveis por entre 1,7 milhão e 2 milhões de mortes, das quais aproximadamente 800 mil foram violentas", indicou o juiz cambojano You Bunleng, quando concluiu a investigação do caso.

Os processados, que têm entre 79 e 85 anos de idade, fundamentam a defesa na justificativa de que desconheciam os crimes que estavam cometendo.

"Este caso é vital para a sociedade cambojana, mas estamos preocupados porque os acusados são muito idosos e algum poderia morrer antes da justiça ser feita. Isto causaria uma comoção para o Camboja", afirmou a presidente da Associação de Vítimas do Khmer Vermelho, Theary Seng.

A audiência inicial desta segunda-feira vai tratar questões legais, principalmente se Ieng Sary pode voltar a ser julgado, levando em conta que um tribunal nacional o condenou a morte à revelia por genocídio em 1979, mas depois concedeu anistia real em 1996.

Espera-se que os depoimentos das testemunhas e a apresentação de provas comecem em setembro.

O tribunal internacional enfrenta o principal e mais complexo caso contra a cúpula do Khmer Vermelho imerso em uma crise pelas divisões internas sobre a conveniência de julgar a mais de suspeito ao mesmo tempo.

A decisão em abril dos juízes You Bunleng e Siegfried Blunk de arquivar o chamado caso 3, que estudava a possibilidade de acusar a dois khmeres vermelhos mais, suscitou a interferência política do Governo local e os enfrentamentos internos das Câmaras Extraordinárias dos Cortes do Camboja (CECC), o nome oficial do tribunal.

O promotor britânico Andrew Cayley pediu a reabertura do expediente após classificar de "deficiente" a instrução realizada pelos magistrados porque, segundo denunciou, após 20 meses evitou "medidas básicas", como interrogatórios aos suspeitos e visitas aos cenários onde ocorreram os crimes denunciados.

"Só espero que os juízes de instrução sigam a lei e cumpram com seu dever da mesma forma que eu", declarou à Agência Efe o promotor Cayley.

Ao menos cinco pessoas que participaram da investigação renunciaram em desacordo com a decisão de seus superiores.

Clair Duffy, da ONG Open Society Justice Initiative, denunciou que "houve pressões políticas específicas sobre os juízes de instrução para que não continuem com as investigações dos casos 3 e 4".

"Houve ainda indícios de pressão política sobre o caso 2 (que começa nesta segunda-feira em relação às tentativas de solicitar provas da parte de altos funcionários do Governo cambojano", acrescentou a jurista.

Anistia Internacional acusou o alemão Blunk e a seu colega de situar-se "incomodamente próximo aos desejos dos líderes políticos cambojanos".

O primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, afirmou reiteradamente que não permitirá a abertura de novos casos porque poderia suscitar uma guerra civil, e que dissolverá o tribunal tão em breve termine o julgamento que começa na segunda-feira.

Neste mês, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, emitiu um comunicado no qual rejeitou "categoricamente" as "especulações midiáticas" sobre a hipótese de as Nações Unidas estarem pressionado para o fechamento do caso 3.

O tribunal internacional emitiu sua primeira condenação em julho de 2010 de 35 anos de prisão para Kaing Guek Eav, conhecido como Duch, quem dirigiu o centro de detenção e torturas do S-21 no qual 16 mil pessoas morreram, na mesma prisão e nos campos de extermínio de Choeung Ek, a os arredores de Phnom Penh.

O chefe do Khmer Vermelho, Pol Pot, morreu na floresta cambojana em 1998, prisioneiro de seus próprios correligionários.

EFE   
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