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Ásia

Companhia japonesa admitiu ter mentido em relatórios nucleares

21 mar 2011 - 13h10
(atualizado às 14h35)
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Dez dias antes do acidente na central nuclear de Fukushima, a companhia Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da usina, admitiu que havia mentido nos relatórios de controle de suas instalações.

 Imagem de satélite da usina nuclear de Fukushima, que sofreu avarias durante o tremor do dia 11
Imagem de satélite da usina nuclear de Fukushima, que sofreu avarias durante o tremor do dia 11
Foto: Reuters

Dez dias antes do terremoto seguido de tsunami que arrasou o nordeste do Japão e danificou gravemente a central nuclear de Fukushima 1, a Tepco entregou às autoridades um documento no qual confessava ter manipulado os dados de controle de manutenção.

A empresa afirmava que havia inspecionado cerca de 30 peças que, na verdade, não foram checadas.

A Tepco disse que, em 11 anos, não inspecionou a peça que alimenta uma válvula de controle da temperatura do reator, apesar dos técnicos, que se contentaram em fazer apenas controles rotineiros, garantirem o contrário.

Outras peças, cujo controle não é necessariamente obrigatório, tampouco foram submetidas a uma inspeção exaustiva, sobretudo as partes ligadas ao sistema de resfriamento e ao fornecimento elétrico de emergência.

As autoridades solicitaram o relatório à Tepco justamente para saber se o procedimento padrão de segurança estava sendo respeitado.

"O plano de controle das instalações e a gestão da manutenção eram inapropriados", concluiu a Agência de Segurança Nuclear, que assegurou que "a qualidade das inspeções era insuficiente".

Antes da catástrofe, a agência reguladora do setor havia alertado a Tepco, exigindo uma mudança de comportamento e a aplicação de um novo plano de manutenção antes de 2 de junho.

A tragédia de 11 de março provocou a parada dos seis reatores da central Fukushima 1, interrompeu a alimentação elétrica, bloqueou os geradores diesel de emergência e levou ao colapso o sistema de resfriamento.

Esta cadeia de erros gerou uma série de acidentes de gravidade crescente, que as equipes da Tepco ainda combatem com a ajuda do exército e dos bombeiros para evitar que a situação em quatro dos reatores se torne totalmente incontrolável.

"Não é possível dizer em que medida as falhas constatadas sobre a manutenção e o controle das instalações influenciaram ou não a cascata de problemas originados pelo terremoto", indicou a agência.

Esta prevê abrir uma investigação exaustiva para apurar as causas da hecatombe, uma vez que a crise esteja superada. Neste momento, a prioridade é evitar o pior.

A qualidade da rede de distribuição elétrica da Tepco é, de maneira geral, de boa qualidade, já que os cortes de energia são praticamente inexistentes em Tóquio, cidade que abastece. Mas a imagem da companhia já havia sido borrada no passado por uma série de escândalos.

Em 2002, a Tepco precisou interromper temporariamente o funcionamento de seus 17 reatores nucleares de água quente (BWR), dois deles na central de Fukushima, para uma inspeção, após uma denúncia de maquiagem nos relatórios. O caso custou o cargo do diretor geral e de seu braço direito.

Terremoto e tsunami devastam Japão

Na sexta-feira, 11, o Japão foi devastado por um terremoto que, segundo o USGS, atingiu os 8,9 graus da escala Richter, gerando um tsunami que arrasou a costa nordeste nipônica. Fora os danos imediatos, o perigo atômico permanece o maior desafio. Diversos reatores foram afetados, e a situação é crítica em Fukushima, onde existe o temor de um desastre nuclear.

Juntos, o terremoto e o tsunami já deixaram mais de 8,6 mil mortos e dezenas de milhares de desaparecidos. Além disso, os prejuízos já passam dos US$ 200 bilhões. Em meio a constantes réplicas do terremoto, o Japão trabalha para garantir a segurança dos sobreviventes e, aos poucos, iniciar a reconstrução das áreas devastadas.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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