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Ásia

Especialista que ajudou em Chernobyl critica Japão e AIEA

15 mar 2011 - 16h00
(atualizado às 16h51)
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A ganância da indústria nuclear e a influência das corporações sobre a agência atômica da ONU podem condenar o Japão a um desastre nuclear cada vez maior, disse nesta terça-feira um dos homens chamados para a limpeza de Chernobyl. Criticando a resposta japonesa em Fukushima, o especialista russo em acidentes nucleares Iouli Andreev acusou as corporações e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) de ignorarem solenemente as lições ensinadas pelo pior acidente nuclear do mundo, ocorrido 25 anos atrás, para proteger a expansão da indústria.

"Depois de Chernobyl, toda a força da indústria nuclear foi direcionada para esconder esse evento, para não gerar dano à reputação dela. A experiência de Chernobyl não foi estudada de forma apropriada porque quem tem o dinheiro para os estudos? Apenas a indústria", disse Andreev. "Mas a indústria não gosta disso", acrescentou ele numa entrevista em Viena, onde o ex-diretor da agência de limpeza nuclear soviética Spetsatom dá aulas e fornece assessoria sobre segurança no setor.

Andreev disse que o incêndio que liberou radiação na terça-feira envolvendo barras de combustível usadas armazenadas perto dos reatores em Fukushima são um exemplo de como o lucro estava acima da segurança. "Os japoneses foram muito gananciosos e usaram todo centímetro quadrado do espaço. Mas, quando você tem um armazenamento denso de combustível usado na piscina, há uma grande possibilidade de incêndio caso a água seja removida da piscina", disse Andreev.

A AIEA deveria compartilhar a culpa pelo modelo, disse ele, que criticou uma equipe emergencial formada pela agência com sede em Viena, dizendo que ela é "apenas um instituto de estudos e não uma força de trabalho". "Ela é apenas uma falsa organização, porque todas as organizações que dependem da indústria nuclear ¿ e a AIEA depende da indústria nuclear ¿ não podem atuar apropriadamente", afirmou.

"Ela vai sempre tentar esconder a realidade. A AIEA não está interessada na concentração de atenção sobre um possível acidente na indústria nuclear. Eles são totalmente desinteressados nas organizações de emergência." A AIEA não respondeu de imediato às críticas de Andreev.

Andreev disse que entende muito bem o que as autoridades japonesas em Fukushima estão passando e que são necessárias soluções criativas para conter o vazamento. "É uma situação de pânico silencioso. Conheço essa situação", afirmou. "Disciplina é a principal coisa na indústria, mas o serviço de emergência exige criatividade, até mesmo um tipo de fantasia e improvisação".

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