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Ásia

Japão: rádio vira ponto de troca de informações entre brasileiros

15 mar 2011 - 12h34
(atualizado às 13h12)
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Daniel Favero

info infográfico temor usina nuclear
info infográfico temor usina nuclear
Foto: Divulgação

Após o terremoto de 9 pontos na escala Richter que atingiu o Japão, na última sexta-feira, provocando um arrasador tsunami que deixou mais de 2,7 mil mortos, as linhas de comunicação ficaram instáveis, mas a internet seguia funcionando. Os brasileiros passaram a buscar na web informações sobre a comunidade e encontraram na rádio Nikkei um ponto de encontro para obter e passar informações sobre a situação daqueles que vivem em terras nipônicas.

Muitos desses relatados são recebidos pelos locutores, como o paranaense, Jose Bezerra de Almeira Júnior, conhecido como JB, que, durante a entrevista concedida ao Terra, passou por um terremoto de 6,3 pontos na escala Richter, ocorrido em Toyohashi, a cerda de seis de trem de Sendai, uma das regiões mais afetadas pelo tremor de sexta-feira. "Nesse momento está tudo tremendo aqui, é bem forte", dizia ele ao telefone, enquanto pedia para a mulher ficar calma. Perguntado se não estava nervoso, disse que estava acostumado.

"Esses tremores fazem parte da rotina. Na faixa de 3 ou 4 (pontos na escala Richter) quase sempre acontece. Agora, com essa onda de terremotos fortes, assusta. Estamos em alerta, como houve esse grande em Sendai e a nossa área está em cima de uma placa dessas, ficamos de sobreaviso por três dias. O pessoal fica meio preocupado", relatou o locutor, que vive no quinto andar de um prédio, mas que ainda não havia sentido tremores fortes como o ocorrido no momento da entrevista.

Momentos após o tremor, brasileiros relatavam medo e desespero no site da rádio: "Senti e deu medo. Corri, já arrumei uma sacola com roupa para os meus filhos, meus documentos, está na porta já", dizia uma mulher identificada apenas como Rosaninha, enquanto o outro brasileiro, identificado como Jorge, pedia cama: "Não há perigo de TSUNAMI Fiquem calmos! Enquanto o alarme do bairro não soar está tudo bem!", dizia.

Segundo JB, a maior preocupação das pessoas que não vivem nas regiões mais afetadas são as usinas nucleares em virtude das explosões ocorridas nas instalações da Fukushima Daiichi. Segundo ele, a população, inclusive os japoneses nativos, já não acreditam nos informes do governo japonês. "Combustível ainda não está faltando aqui, mas a população está preocupada com a falta de água. Após o tremor todos correram aos mercados para estocar água mineral por medo de contaminação das usinas. Ninguém quer beber água da torneira", diz.

Ele vive em um das áreas que possuem a maior concentração de brasileiros, que chegam ao país atraídos pelas oportunidades de emprego na indústria automobilística. "O que mais preocupa não é o terremoto ou do tsunami... falando com ouvintes, o que eles relatam é que existe muito dificuldade de se conseguir comida e água, além do frio naquela região mais afetada, porque ainda está nevando. O que mais se precisa, nesse momento, são cobertores", disse JB, ao falar sobre uma campanha de arrecadação que está sendo promovida pela rádio.

Sobre pedidos de ajuda, ele diz que ainda não recebeu nenhum, mas a busca por informação é grande. "Sempre recebemos relatos de pessoas desaparecidas. Ainda hoje (terça-feira), durante o programa, uma pessoa do Brasil pediu informações de uma família que vivia aqui. E deu certo, porque, por acaso, eu os conhecia e pude dizer que eles estavam bem", diz. Segundo ele, apesar do fuso, muitas pessoas entram no site da rádio e deixam mensagens perguntando com está a situação, o que tem elevado os acessos para 500 pessoas conectadas diariamente.

Ele afirma que muitos parentes no Brasil pedem que os brasileiros larguem tudo no Japão e voltem para sua terra natal. "Inclusive hoje entrevistei uma psicóloga sobre esse assunto. Amigos e familiares dizem: 'larga tudo e vem embora'. Existem aqueles que querem ir embora, mas muitos pensam que isso tudo vai passar. É uma situação complicada apenar do Japão ser um país que sempre, obrigatoriamente, faz os treinamentos contra terremotos.", disse.

"A situação que se vive hoje aqui não é tanto pelo terremoto. O medo que paira no coração das pessoas é por causa das usinas. Quando se abre um jornal, vemos fotos e notícias apavorantes, e nos perguntamos se vai contaminar. E se chover, será que todos vão ficar doentes? As pessoas estão apavoradas em busca de água e nos questionam isso na rádio, mas acredito que esse é o momento de colher forças e ajudar".

JB diz que os relatos mais tristes são de famílias japonesas. "No domingo ouvi o relato de uma família que deixou um abrigo em Bakari, e viu um cenário de destruição, mesmo sem o tsunami, era uma coisa como se tivesse sido bombardeada. Rachaduras nas pontes e no meio das ruas, tudo aberto. Era uma coisa terrível a dificuldade deles porque os supermercados estavam fechados porque não tinham mais o que vender".

Ele fala ainda sobre casos de pessoas que fugiram para abrigos, mas ainda não conseguiram encontrar os parentes depois. "Vi uma foto de uma moça sentada sobre os escombros de sua casa, para onde tinha ido em busca de seus parentes, após deixar o abrigo. É uma coisa muito rara ver um japonês chorando dizendo que não quer dinheiro, não quer casa ou carro, mas sim sua família. Isso mexe com as pessoas, não é comum ver um japonês chorando sentido falta da família, são pessoas que lutaram a vida toda apara conseguir o que tem e, hoje, só estão com a roupa do corpo".

Segundo ele, o incidente está sendo comparado pela mídia japonesa com o que aconteceu com o país durante a Segunda Guerra. "A mídia japonesa fala do que aconteceu comparando com a Segunda Guerra. Participei da entrevista do primeiro-ministro (Naoto Kan) com um nó na garganta, porque mesmo com o Japão estando preparado, foi algo tão forte, que fez o governo se sentir impotente", diz.

Terremoto e tsunami devastam Japão

Na sexta-feira, 11, o Japão foi devastado por um terremoto que, segundo o USGS, atingiu os 8,9 graus da escala Richter, gerando um tsunami que arrasou a costa nordeste nipônica. Fora os danos imediatos, o perigo atômico permanece o maior desafio. Diversos reatores foram afetados, e a situação é crítica em Fukushima, onde existe o temor de um desastre nuclear.

Juntos, o terremoto e o tsunami já deixaram mais de 2,7 mil mortos e dezenas de milhares de desaparecidos. Além disso, os prejuízos já passam dos US$ 170 bilhões. Em meio a constantes réplicas do terremoto, o Japão trabalha para garantir a segurança dos sobreviventes e, aos poucos, iniciar a reconstrução das áreas devastadas.

Fonte: Terra
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