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Ásia

Asilo da cidade japonesa de Sendai vive dois dias de pesadelo

15 mar 2011 - 11h53
(atualizado às 12h20)
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Nos andares superiores de um asilo de Sendai, protegido das águas do tsunami que alagou o térreo, Kaori Ohashi e seus colegas de trabalho tratam de 200 idosos enfermos em condições calamitosas, sem luz e com medo dos tremores secundários recorrentes após o terremoto mais forte registrado no Japão.

Japão: veja resgate de idoso após 4 dias sob escombros:

Na tarde de sexta-feira, quando seguia para o trabalho, Ohashi viu horrorizada as ondas gigantes e tomadas de escombros avançando sobre a cidade.

Viu carros flutuando a toda velocidade com os motoristas dentro, impotentes, e pessoas agarradas às árvores em uma tentativa desesperada de evitar a pressão letal da água.

"Pensei que a vida havia acabado", declarou à AFP Ohashi, que passou duas noites de horror com os pacientes.

O térreo foi rapidamente tomado pela lama e os funcionários do asilo levaram os idosos para as partes altas do edifício.

"Durante todo este tempo, sentimos tremores secundários violentos. Começou a nevar e a noite chegou. A energia elétrica foi cortada. Parecia um pesadelo", recorda a mulher de 39 anos.

Apesar da coragem, ela admite que se sentiu isolada e que temeu pela vida dos pacientes.

Com os colegas, Ohashi continuou cuidando dos idosos, que foram alimentados com pequenas porções de atum em conserva e um pouco de pão, à luz de uma lanterna.

"Os residentes estavam assustados. Não acredito que tenham entendido que era um tsunami, mas alguns ficaram com medo porque seus quartos estavam frios e às escuras", conta Ohashi.

"Muitos perceberam que algo acontecia e não dormiram até duas ou três da manhã. Tentamos tranquilizá-los conversando com eles", completa. "Estávamos completamente isolados e dava medo sair do edifício, já que a qualquer momento poderia acontecer um tsunami ou tremores".

Após 24 horas, a água começou a recuar e a esperança retornou ao asilo. Um helicóptero sobrevoou o centro para idosos e dois socorristas pediram a Ohashi que suportasse mais um pouco, até a chegada das equipes de resgate.

No domingo, as equipes de socorro chegaram e examinaram os pacientes. Por milagre nenhum estava gravemente ferido.

"Uma enfermeira veio até mim e disse 'você fez um bom trabalho'. Naquele momento comecei a chorar", confessa.

Agora Ohashi está com o filho de 12 anos e com a filha de dois em um ginásio de uma escola de Sendai, a capital do município de Miyagi, com outros 400 desabrigados. Cada vez que um tremor secundário balança o edifício, ela abraça os filhos.

Terremoto e tsunami devastam Japão

Na sexta-feira, 11, o Japão foi devastado por um terremoto que, segundo o USGS, atingiu os 8,9 graus da escala Richter, gerando um tsunami que arrasou a costa nordeste nipônica. Fora os danos imediatos, o perigo atômico permanece o maior desafio. Diversos reatores foram afetados, e a situação é crítica em Fukushima, onde existe o temor de um desastre nuclear.

Juntos, o terremoto e o tsunami já deixaram mais de 2,7 mil mortos e dezenas de milhares de desaparecidos. Além disso,s prejuízos já passam dos US$ 170 bilhões. Em meio a constantes réplicas do terremoto, o Japão trabalha para garantir a segurança dos sobreviventes e, aos poucos, iniciar a reconstrução das áreas devastadas.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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