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Ásia

Não existe risco de explosão atômica, diz físico nuclear

14 mar 2011 - 16h14
(atualizado às 16h53)
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Daniel Favero

Visão aérea mostra o reator 3 da usina nuclear Fukushima Daiichi em chamas após a explosão desta segunda
Visão aérea mostra o reator 3 da usina nuclear Fukushima Daiichi em chamas após a explosão desta segunda
Foto: Reuters

Não existe risco de explosão nuclear semelhante ao de uma bomba atômica nas usinas japonesas afetadas pelo terremoto seguido de tsunami que atingiu o país na sexta-feira (11), segundo afirmou ao Terra o professor japonês Takeshi Kodama, do departamento de Física Nuclear Teórica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O tremor de 9 graus na escala Richter, segundo medição da Agência Meteorológica do Japão, deixou mais de 1,8 mil mortos.

O professor explica que em situações de emergência, a barra de controle absorve a energia gerada pela reação nuclear das usinas, gerando calor. "A reação nuclear em si fica controlada, mas o problema é o calor que pode ser gerado derretendo essa matéria que já existe da barra de controle. Então, quando reage o vapor com a matéria, gera o hidrogênio, que é o que está provocando as explosões", explica.

O risco de explosão nuclear é amenizado pelo físico. Ele considera o aquecimento de urânico superconcentrado como muito mais preocupante. "Isso não pode ser desprezado, mas não temos notícias disso, aparentemente está controlado (..) aparentemente tem um reator que ainda apresenta risco, mas sem a possibilidade de derretimento do controle central, o que afastaria o risco de um vazamento mais sério".

Segundo ele, o tamanho do incidente nuclear nas usinas japonesas depende muito do controle de resfriamento que está sendo feito. Kodama afirma que o resfriamento é feito com água do mar e produtos químicos como o elemento boro. "No Japão, as usinas nucleares não possuem as torres de resfriamento, ele é feito com água, e quando o vapor entra em contato com o combustível nuclear, produz muito hidrogênio, que é o que explode", explica o físico nuclear.

O professor afirma que o material de retenção absorve a radiação, mas acaba tendo efeitos radioativos de curta duração. "Não é aquela cor cinza, como em uma bomba atômica, mas de um tipo secundário", diz ele, especificando que, sobre os efeitos nucleares gerados pelos incidentes nas usinas japonesas, ainda não existe muita informação.

De acordo com autoridades japonesas, o problema maior se concentra nos reatores 1 e 3 da usina de Fukushima Daiichi, onde já ocorreram duas explosões. No caso da primeira, o reator foi danificado e na outra os funcionários ainda trabalham para conter o aquecimento. Para o professor, a situação é ainda mais complicada pela falta de energia elétrica. As usinas estão sendo alimentadas por geradores auxiliares porque os que já existiam foram danificados com a inundação causada pelo tsunami que seguiu o terremoto.

Kodama diz que, apesar da preparação do Japão para suportar terremotos, não é possível construir usinas nucleares imunes a este tipo de fenômeno. "100% seguro não é possível, sempre existe o perigo. É uma questão de economia e risco e esse risco é uma questão de probabilidade. Por exemplo, todo mundo viaja de avião, mas tem o risco de cair".

Segundo ele, apesar das explosões e liberação de vapor contaminado com resíduos radioativos, a contaminação ainda não é alta. "Claro que não são níveis desprezíveis, mas não chega a ser nada catastrófico como em Chernobyl".

Bomba atômica e energia nuclear
O professor explica que a reação nuclear é a mesma tanto para a bomba atômica quanto para a geração de energia elétrica, mas a diferença está na forma de usar e controlar essa reação. "O mecanismo de reação nuclear é um fenômeno chamado fissão, que é o núcleo de urânio ou plutônio, que ao receber nêutron provoca uma reação em cadeia. No caso de urânio concentrado, ele fissiona, emite nêutrons, que fissionam com os próximos. É a cadeia de fissão nuclear, que funciona da mesma forma que uma bomba atômica", explica.

No caso do reator nuclear, o número de nêutrons é controlado com absorventes, que são as chamadas barras de controle. "O uso da barra de controle faz com que a fissão seja mantida em um nível controlado. A barra de controle esquenta e transfere o calor para água, que gera o vapor e transfere o vapor em pressão para a turbina, que é o que gera a energia elétrica".

No caso de uma bomba atômica, a energia é concentrada até o ponto ideal para a explosão, como em uma panela de pressão. "Quando se coloca urânio acima da quantidade crítica, ele vai explodir, mas espalha o nêutron e não explode eficientemente. No caso de uma bomba atômica, o nêutron é contido para que não haja muita fissão até o acumulo de energia suficiente", explica.

Fonte: Terra
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