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Ásia

Sem sexo, drogas ou rock'n'roll: vivendo na Coreia do Norte

Alessandro Ford conta sua experiência como primeiro estudante ocidental a ser matriculado da Universidade Kim Il-sung

30 jul 2015 - 12h26
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O estudante Alessandro Ford estudou na Coreia do Norte entre agosto e dezembro de 2014
O estudante Alessandro Ford estudou na Coreia do Norte entre agosto e dezembro de 2014
Foto: The Guardian / Reprodução

O belga Alessandro Ford teve um semestre sabático diferente do comum. Seus movimentos eram monitorados aonde quer que ele fosse; passava horas discutindo a ideologia Juche - ideologia política oficial da Coreia do Norte - a respeito do imperialismo norte-americano; e seu único contato com o mundo externo eram as ligações que fazia a mãe uma vez por semana e que duravam 10 minutos.

O estudante de 18 anos estudou na Universidade Kim Il-sung, em Pyongyang, entre agosto e dezembro do ano passado. A universidade costuma aceitar estudantes estrangeiros de países como Rússia e China, mas Alessandro foi o primeiro aluno estrangeiro a estudar na Coreia do Norte.

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A viagem foi organizada pelo pai, Glyn Ford, ex-membro do Partido Trabalhista do parlamento europeu, que havia participado de inúmeras viagens diplomáticas a Coreia do Norte e defende o engajamento diplomático com o país asiático.

De acordo com o jornal The Guardian, Alessandro tinha acesso privilegiado a Coreia do Norte. Aos 15 anos, passou algumas semanas no país durante as férias de verão e passou a se interessar pelo país.

Embora tivesse crescido em um ambiente com uma cultura radicalmente diferente, a história de vida de Alessandro tinha semalhanças com as histórias de vida dos colegas coreanos com quem estudava. Assim como o estudante ocidental, os estudantes coreanos eram cria da influente elite da sociedade norte-coreana. Seus pais eram políticos, autoridades que desempenhavam altos cargos ou tinham postos de destaque nas Forças Armadas. 

Alessandro pagou 3 mil libras por quatro meses na Universidade Kim Il-sung, incluindo alimentação e acomodação, mas as semelhanças com a educação ocidental pararam por aí.

Os estudantes tomavam banho em uma área comum e frequentavam saunas com regularidade, hábito ao qual Alessandro teve que se adaptar. Os dormitórios eram limpos e confortáveis, mas muito básicos. No inverno, os alunos ficaram sem água quente por daus semanas. "Fazia 20 graus negativos", acrescentou.

A conversa com os outros alunos era sobre temas variados, mas sempre se desenvolviam a partir da perspectiva norte-coreana. Ainda assim, o estudante belga não acreditava que seus colegas eram vítimas de uma lavagem cerebral. "Eu acho que eles realmente acreditavam em tudo o que diziam, inclusive que a Coreia do Norte era um país empobrecido, que tinha sido perseguido pelos Estados Unidos. 

Diferentemente do que se passa no Ocidente, os ritos de passagem na Coreia do Norte não incluiam sexo, drogas e rock'n'roll. Quando todos ouviam música juntos, as letras das canções do rapper Eminem eram frequentemente questionadas. "Por que ele faz música sobre si mesmo, sexo e drogas? Ele deveria estar fazendo música sobre sua família e seu país", diziam o norte-coreanos.

"Pelo o que me disseram e pelo o que eu vi, os norte-coreanos são mais puritanos. Há uma cultura de não fazer sexo antes do casamento, e sair por aí para curtir um pouco era algo que eles não faziam. Os alunos com quem eu saía tinham entre 20 e 25 anos e eram virgens", conta Alessandro.

Ele afirma nunca ter visto pessoas se beijando em público, até aqueles que namoravam. "Eles me contavam que demonstravam afeito de outras formas".

Não foram poucas as vezes em que Alessandro se sentiu solitário.. O estudante não podia se envolver com a cultura e os esportes norte-coreanos, e embora tivesse um telefone internacional, fazer uma ligação para casa lhe custava  duas libras por minuto.

Questões de como o mundo deveria se relacionar com a Coreia do Norte estão em debate. Algumas pessoas acreditam que o tipo de interçaão que Alessandro teve com o país pode ser positiva, ao passo em que informações do mundo exterior começam a ser lentamente absorvidas pelo país, que é extremamete fechado.  

Outros acreditam que visitas, especialmente aqueles que fornecem lucro aos norte-coreanos, servem apenas para legitimizar um regime acusado de abusar de forma sistemática os direitos humanos de sua própra população.

Para Alessandro não restam dúvidas: "Sou a favor da comunicação e da interação. Não sei como isso poderia funcionar com isolamento."

Ele garante que recomendaria outras pessoas a fazerem a viagem, seja por motivos escolares, seja por motivos políticos. Ele acredita que a convivêcia e a troca de experiências entre estudantes estrangeiros ajudariam a Coreia do Norte a se abrir e a por um basta "nas violações dos direitos humanos'".

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Fonte: Terra
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