Saúde do monarca de 87 anos se torna motivo de preocupação na Tailândia
Uma incomum mensagem de uma integrante da Casa Real da Tailândia pedindo orações pela saúde do rei Bhumibol disparou a preocupação com o estado do monarca, que com 87 anos passa mais tempo internado no hospital que no palácio.
"Eu gostaria que todos rezassem para que o rei se recupere de uma doença que o afeta", afirmou este mês durante um evento beneficente a princesa Chulabhorn Walailak, filha mais nova do soberano.
O monarca, que esteve hospitalizado de maneira contínua de 2009 a 2013, retornou em maio ao hospital Siriraj para uma "revisão de rotina", e desde então não deixou o centro médico.
Os médicos lhe trataram nos últimos meses por excesso de líquido no cérebro, febre, infecção no sangue e inflamação dos pulmões, segundo os poucos boletins médicos divulgados.
A ausência do soberano da cena pública provocou um aumento da incerteza entre os tailandeses, que lhe tratam com reverência quase divina.
"Ele é a pedra fundamental da sociedade tailandesa. É uma pessoa fundamental para entender a história do país", declarou à Agência Efe Kan Yuenyong, diretor do instituto Siyam Intelligence.
Falar da saúde do monarca além dos comunicados oficiais é um assunto tabu na sociedade tailandesa.
A figura do soberano, sua consorte e os herdeiros estão protegidas de qualquer tipo de crítica pelo artigo 112 do Código Penal, mais conhecida como lei de lesada altivez, que prevê penas de entre três e 15 anos a quem a desrespeitar.
Entronizado como Rama IX, Bhumibol foi coroado em maio de 1950 e reinou de maneira ininterrupta ao longo de governos autoritários e democráticos derrubados por eventuais golpes militares, os últimos ocorridos em 2006 e 2014.
Depois do último levante, muitos intelectuais abandonaram o país por medo de serem perseguidos por suas ideias de reformar as leis que protegem a Casa Real.
Segundo disse à Efe o professor Yukti Mukdawijitra, atualmente nos Estados Unidos, esse último golpe de Estado, dirigido pelo general Prayuth Chan-ocha, teve, entre outros objetivos, assegurar o período de transição da Coroa.
De acordo com a lei, o sucessor ao trono deve ser seu único filho homem, o príncipe Maha Vajiralongkorn, de 62 anos.
Protagonista de escândalos como seus três divórcios, o príncipe não herdou a popularidade da qual seu pai goza e esteve ausente durante muito tempo da maioria dos atos da Casa Real.
O rompimento no último mês de dezembro com sua última consorte, Srirasmi Suwadee, terminou com a detenção dos pais, quatro irmãos e outros parentes da já ex-esposa, por arrecadar uma imensa fortuna ao utilizar de maneira inadequada suas conexões com a Coroa.
Ver o rosto de Vajiralongkorn nos quadros que adornam as ruas de Bangcoc era uma raridade até alguns meses atrás, quando se aumentou suas presença pública.
Em meados de agosto, o príncipe liderou uma marcha de bicicletas composta, segundo os cálculos oficiais, por 294.800 tailandeses em homenagem ao Dia das Mães, data que coincide com o aniversário da rainha Sirikit, que sofreu um ataque cardíaco em 2012.
O acontecimento foi um "sucesso" como "campanha propagandista" para o futuro monarca que conta com o beneplácito do regime militar, segundo os analistas, embora haja versões que apontem que a ala mais conservadora da sociedade local prefira a princesa Maha Chakri Sirindhorn como candidata ao trono.
Aos 60 anos e terceira filha do rei, Sirindhorn é conhecida por seus atos filantrópicos e só reinaria à revelia do irmão ou se este for deserdado.
Outra das questões para regular é a herança de uma fortuna estimada em mais de US$ 35 bilhões, a Casa Real mais rica do planeta, segundo a revista "Forbes".
No domingo passado, a edição impressa para a Ásia do jornal "New York Times" não chegou aos leitores tailandeses porque o distribuidor local considerou que um artigo assinado pelo correspondente em Bangcoc sobre a sucessão ao trono na Tailândia era um tema "muito sensível".