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Ásia

Prostitutas denunciam torturas e detenções arbitrárias na China

14 mai 2013 - 10h07
(atualizado às 10h14)
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Um relatório da "Human Rights Watch" denunciou nesta terça-feira a dura situação das trabalhadoras sexuais na China, submetidas a abusos policiais contínuos e detenções arbitrárias, ao mesmo tempo em que o Governo defende seu histórico de direitos humanos em um livro.

O relatório "Varridos: abusos contra trabalhadoras sexuais da China", de 51 páginas, recolhe apavorantes testemunhos de trabalhadores sexuais - a maioria, mulheres - nos quais foram denunciados todo tipo de maus-tratos cometidos pela polícia, funcionários de centro de saúde e clientes em Pequim, além de um abandono total por parte do Estado.

"Nos amarraram em árvores, ali nos jogaram água gelada e começaram a nos bater", conta uma prostituta sobre um episódio na capital junto com outras duas companheiras no relatório publicado hoje.

Muitas delas - que são, sobretudo, emigrantes de outras províncias rurais menos desenvolvidas que a capital - concordam em destacar as torturas que sofreram para admitir que exercem a prostituição e após serem detidas sem prova alguma.

O Governo chinês, como denuncia a HRW, proíbe a venda de favores sexuais apesar ter permitido o crescimento incontrolado da indústria do sexo nas últimas décadas "com milhões de mulheres que recorrem à prostituição como uma forma de ganhar a vida".

Daí, assinala o relatório, a polícia busca qualquer tipo de evidência, até a "posse de preservativos", para incriminar uma pessoa que não admita exercer essa profissão.

"Isto - alerta a HRW - aumenta o risco de contrair o HIV", o vírus causador da aids, já que as trabalhadoras optam por não levar nada que possa vir a ser um "problema".

Este extremo é constatado por outras organizações em defesa das mulheres que trabalham na capital, como a de Yang Jingjing, que assegurou à Agência Efe que a maioria não costuma levar preservativos e que os clientes também não têm consciência, por isso a probabilidade de contágios é muito alta.

Nesse sentido, a HRW denuncia que as trabalhadoras sexuais também são obrigadas a comparecer em centros de saúde para fazer provas do HIV de maneira frequente e sem que, em muitos casos, saibam o resultado do relatório.

Elas também são enviadas aos chamados centros de reeducação ou de trabalho por períodos de tempo que chegam, em alguns casos, a dois anos.

Tudo isso ajuda que as trabalhadoras não denunciem às autoridades quando são maltratadas por clientes ou por agentes do Estado, já que quando fazem, as autoridades são omissas, assinala o relatório.

"Quando impulsionam uma campanha e a polícia quer ganhar um pouco de dinheiro, acordam com um cliente que venha e adquira um de nossos serviços. Quando começa o serviço, o cliente chama a polícia, que vem e nos detém. Então te multam e repartem o dinheiro", conta um vítima da capital.

Frente a estes testemunhos, a HRW pede ao Governo chinês que acabe com estas campanhas, detenha os abusos policiais e "abandone as leis repressivas" contra as trabalhadoras sexuais, mas também contra aqueles defensores dos direitos humanos que denunciam a situação.

As denúncias da HRW ocorrem no mesmo dia em que a China publicou seu "Livro Branco dos Direitos Humanos" anual que, como em anos anteriores, antepõe o crescimento do país às liberdades fundamentais e assinala que "seria impossível proteger esses direitos e interesses sem primeiro desenvolver a economia".

O amplo relatório, transmitido em 16 capítulos pela agência oficial "Xinhua", oferece centenas de números que segundo o regime são amostras da melhora nos direitos humanos de seus cidadãos, muitos deles indicadores econômicos.

"Só perseguindo um desenvolvimento são e sustentável a China pode consolidar a base para a felicidade e o bem-estar da população e proteger seus direitos", assinala o relatório, que assegura que o país melhorou em "democracia, império da lei, desenvolvimento cultural, seguridade social e proteção meio ambiental".

EFE   
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