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Ásia

Brasileiro perde tudo no Japão: "só resta recomeçar a vida"

Alex Yoshinori Sakaue tinha uma lanchonete e restaurante há 16 anos no centro de Joso, uma das cidades mais afetadas pelas tempestades

11 set 2015 - 09h11
(atualizado às 15h13)
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Alex (de boné) com a família, os pais e com o casal de japoneses e seu bebê, que ajudou a salvar da enchente
Alex (de boné) com a família, os pais e com o casal de japoneses e seu bebê, que ajudou a salvar da enchente
Foto: Arquivo pessoal

As fortes chuvas no Japão, que causaram transbordamentos de rios, enchentes e deslizamentos de terra na região nordeste do país, afetaram também a comunidade brasileira. Muitas famílias relatam ter perdido tudo e agora contam com a ajuda do governo e de conterrâneos para recomeçar a vida.

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"Perdi todo o investimento de anos de trabalho", desabafa Alex Yoshinori Sakaue, 34, que tinha uma lanchonete e restaurante há 16 anos no centro de Joso, uma das cidades mais afetadas pelas tempestades e que concentra um grande número de brasileiros. "Os carros sendo arrastados e a correnteza forte no meio da rua me lembraram as cenas do tsunami de 2011."

Família de Alex Sakaue: "agora só resta recomeçar", diz o brasileiro
Família de Alex Sakaue: "agora só resta recomeçar", diz o brasileiro
Foto: Arquivo pessoal

Sakaue contou à BBC Brasil que, durante a manhã de quinta-feira (10), mesmo com a chuva forte, abriu as portas do estabelecimento para mais um dia normal de trabalho. "A rua começou a encher de água e, de repente, do nada, em questão de minutos, alagou tudo. Fechamos a lanchonete, fomos para casa e tentamos subir para o andar de cima o que dava e ficamos esperando o resgate", lembra o brasileiro, que mora ao lado do próprio negócio, numa casa de dois andares.

Da janela da casa, viu a frota de carros da família, que também mantém uma escola brasileira, sumir na água. "No meio do desespero, vi um casal japonês com um bebê de três meses encurralada pela enchente. Desci, pulei na água, que já estava na altura do queixo, e conseguimos levá-los para dentro de casa", conta Alex. "Agora só resta descansar um pouco e recomeçar a vida", resume.

Investimento em lanchonete foi todo perdido com a enchente
Investimento em lanchonete foi todo perdido com a enchente
Foto: Arquivo pessoal

Tsunami

O Japão acordou nesta sexta-feira (11) ainda em choque com os efeitos das chuvas torrenciais que forçaram mais de 90 mil pessoas a abandonar suas casas. As imagens captadas pelas TVs japonesas realmente lembraram o tsunami que varreu o litoral da mesma região em 2011.

Cenas de casas e carros arrastados pela força das águas e famílias resgatadas de helicóptero foram mostradas ao vivo durante toda a quinta-feira. Nesta sexta-feira, a imprensa japonesa continua falando sobre a tragédia. Até agora, três mortes foram confirmadas e cerca de 25 pessoas continuam desaparecidas.

De acordo com a Agência Meteorológica do Japão, as fortes chuvas foram causadas pela passagem do tufão número 18, que fez chover, em apenas um dia, mais do que o dobro do previsto para todo o mês de setembro.

Desespero

Ussuy (de preto) ajudou a retirar outros brasileiros que estavam ilhados
Ussuy (de preto) ajudou a retirar outros brasileiros que estavam ilhados
Foto: Arquivo pessoal

Outro brasileiro que perdeu tudo o que tinha em Joso foi Ussuy Egyro, 38. Há 14 anos no Japão, ele conta que chegou a tempo de ver as conquistas de anos de trabalho em fábrica serem tragadas pelas águas, que invadiram seu apartamento. "O mais caro eram os equipamentos de filmagem. Foram seis câmeras fotográficas e filmadoras", lamenta ele, que postou um vídeo no Facebook, no qual aparece chorando de desespero ao chegar perto do apartamento. "Só queria salvar minhas cachorras que estavam lá dentro", explicou.

Além dos cães (que estavam em cima da cama e do tatame, que flutuaram), tudo o que conseguiu retirar do apartamento foram dois travesseiros, um pacote de pão e um cacho de banana. "Não me importo com os bens materiais. Agora vou trabalhar para comprar tudo de novo", garantiu o brasileiro, que ainda ajudou outros colegas que tiveram casas e apartamentos inundados. "Fui ao abrigo e a situação está complicada, pois as pessoas estão dormindo em papelão e não têm água para tomar banho nem roupa para trocar", contou.

Prédio onde mora Ussuy continua alagado
Prédio onde mora Ussuy continua alagado
Foto: Arquivo pessoal

A região de Ibaraki e de Tochigi, as províncias mais afetadas, concentra uma grande comunidade brasileira. Cerca de 1,5 mil brasileiros moram somente em Joso.

Segundo informações do Consulado-Geral do Brasil em Tóquio, cerca de 200 brasileiros estão em abrigos do governo. Outras centenas foram para casas de parentes e amigos e alguns continuam ilhados em suas casas, aguardando resgate.

Milena Ishikawa, 39, é outra que perdeu tudo o que tinha na casa. Ela e a família viram a água subir muito rapidamente e só tiveram tempo de sair e ir para um hotel próximo da estação. "Agora estamos ilhados, esperando a água baixar para ir para um abrigo", contou, por telefone, à BBC Brasil.

Há 12 anos no Japão, Milena disse que esta foi a primeira vez que viu uma enchente desta proporção. "Assim que for possível, vou voltar para casa para ver se tem como salvar alguma coisa."

Família de Milena, que mora há 12 anos no Japão: "quando a água baixar, vou ver se dá para salvar alguma coisa na casa"
Família de Milena, que mora há 12 anos no Japão: "quando a água baixar, vou ver se dá para salvar alguma coisa na casa"
Foto: Arquivo pessoal

Ajuda

Diversas organizações sem fins lucrativos e grupos espalhados pelo Japão iniciaram campanhas para ajudar os decasséguis que perderam tudo com as enchentes. "Estamos recolhendo roupas, fraldas e leite em pó, principalmente", contou Patrícia Hiromi Agostinho Komatsu, uma das que tem ajudado os desalojados.

O consulado do Brasil em Tóquio também centraliza uma campanha de arrecadação de roupas e mantimentos. De acordo com o ministro Marco Farani, cônsul-geral do Brasil em Tóquio, mais de 3 mil e-mails foram enviados para brasileiros que vivem naquela região.

"Perguntamos se estavam bem e se precisavam de alguma coisa", detalha o diplomata, que deixou a repartição em estado de alerta para eventuais casos urgentes. "Na semana que vem, uma missão consular vai verificar in loco a situação dos brasileiros. Vamos levar também uma psicóloga e um médico brasileiro", afirmou.

Resgate de brasileiros que estavam ilhados
Resgate de brasileiros que estavam ilhados
Foto: Arquivo pessoal
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