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Ásia

O homem que tomou o Reichstag durante a II Guerra não odeia os alemães

8 mai 2015 - 06h11
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O russo Aleksandr Bessarab foi um dos oficiais do Exército Vermelho que comandou o ataque ao Reichtag, episódio que precipitou a capitulação do regime nazista há 70 anos, mas, ainda assim, não nutre ódio pelos alemães.

"Os alemães são bons. Eu os respeito profundamente por sua honestidade e pelo desejo de serem os melhores em qualquer aspecto da vida", assegurou à Agência Efe Bessarab na véspera do 70° aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista, que os russos celebram em 9 de maio.

Bessarab, coronel retirado, mas também escritor e membro da União de Jornalistas da Rússia, recebeu no final de abril de 1945 a árdua missão de dirigir o terceiro e último ataque contra esse simbólico edifício que abrigava o parlamento alemão, o Reichstag.

As tropas soviéticas chegaram ao coração de Berlim em 23 de abril, mas o rio Spree impedia o avanço de sua artilharia, o que ameaçava os planos de Stalin de tomar a cidade antes das tropas dos Estados Unidos e do Reino Unido.

"Em meados de abril nosso ânimo era vitorioso, mas a batalha por Berlim foi brutal. Primeiro tivemos que atravessar 30 quilômetros de canais, rios e lodaçais para chegar à cidade", ressaltou.

Uma vez ali, as ruas estreitas da parte antiga de Berlim e os edifícios de quatro e cinco andares dificultavam a ofensiva soviética e facilitavam a resistência nazista.

"Compreendemos que os alemães não estavam dispostos a se render. A resistência era feroz. As defesas alemãs estavam muito bem armadas. Tinham morteiros e artilharia pesada, além de vários franco-atiradores. Houve grandes perdas em ambos os grupos", lembrou.

Foi então que o marechal Gueorgui Jukov enviou um emissário para que esclarecesse por que duas divisões não eram capazes de acabar com os últimos focos de resistência nazista no coração do III Reich.

"O enviado de Zhukov perguntou: 'Bessarab está aí?'. Eu disse que sim e ele ordenou: 'Você dirigirá pessoalmente o ataque ao Reichstag'. 'Outra vez fiquei com o mais difícil', pensei", contou.

Bessarab, que se apresentou como voluntário em dezembro de 1941, seis meses depois da invasão alemã na URSS, após a morte de seu irmão, recorda que Stalin ordenou a tomada do Reichstag, "mas sem destrui-lo".

Mas havia um problema. Para atravessar o rio só havia uma ponte a pé, a Moltke, que estava a 600 metros do edifício, mas que era bombardeada pela aviação americana e britânica.

"Como os ocidentais não podiam chegar a Berlim, queriam evitar que nós fizéssemos antes. Então, Jukov disse ao (presidente dos Estados Unidos, Dwight) Eisenhower em pessoa que se não deixasse de bombardear a ponte, o Exército Vermelho atacaria as tropas norte-americanas. 'Preciso dessa ponte', ele disse", rememorou.

No terceiro e último ataque, que começou durante a madrugada de 30 de abril, Bessarab comandava um batalhão de cerca de 500 soldados divididos em todas as frentes, de Leningrado ao Báltico, de Stalingrado à Bielorrússia.

Quando saiu o sol, os soldados soviéticos já tinham tomado posições contra o Reichstag, defendido por cerca de cinco mil homens. Foi então, acrescentou, que "ordenei que abrissem fogo".

"Não sei como os que defendiam o edifício resistiram. Imagino que morreram quase todos. Agora, o caminho estava livre e nossos soldados puderam entrar nos porões do Reichstag. Nós iniciamos o ataque", relatou.

Horas depois, "a bandeira soviética já ondeava sobre a cúpula do Reichstag", disse.

"Quando cheguei ao edifício, estava tudo em chamas. Não quis acompanhar. De todas as formas, Hitler há muito tempo já não estava ali, mas em um bunker. Só depois soubemos que tinha se suicidado", declarou.

Ainda houve alguns combates corpo a corpo e foram necessárias várias horas para limpar a cidade de franco-atiradores e diferentes destacamentos da SS "leais a Hitler até a morte".

"Só entendemos que tínhamos vencido a guerra quando uma longa coluna de prisioneiros alemães liderada por oficiais começou a marchar pela cidade às 10h de 2 de maio. Marcharam durante três horas", lembrou com nostalgia.

Só então, assinalou, "respiramos tranquilos, começamos a disparar rajadas ao ar, bebemos, cantamos e dançamos".

"Poucos dias depois abandonei Berlim", disse Bessarab, que nasceu na Ucrânia em 1918, publicou vários livros sobre a Segunda Guerra Mundial e agora vive com sua filha em Moscou, onde não deixa de escrever.

O veterano de guerra usa um grande número de medalhas em seu peito e fala alemão, o que, somado às várias ordens ao valor como Estrela Vermelha, lhe valeu uma condecoração das novas autoridades germânicas.

"Não mudei desde então. Ali não esteve Bessarab, mas um oficial soviético. Continuo sendo um comunista convicto", concluiu o coronel, que deve celebrar o Dia da Vitória como faz há 70 anos, ou seja, junto com outros veteranos.

EFE   
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