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Ásia

Nobel da Paz não poderá assumir Mianmar mesmo se vencer

6 nov 2015 - 20h26
(atualizado em 7/11/2015 às 12h05)
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A ganhadora do Prêmio Nobel da Paz e líder opositora do governo militar, Aung San Suu Kyi, não poderá ser presidente de Mianmar mesmo que seu partido ganhe as eleições do próximo domingo, pois a Constituição a proíbe.

A Carta Magna desabilita os candidatos que tenham cônjuge ou filhos estrangeiros em artigo que parece ter sido feito sob medida para Suu Kyi, que foi casada com um britânico e cujos dois filhos possuem passaportes do Reino Unido.

O atual presidente, Thein Sein, alegou que a norma estava já presente na Constituição de 1947 e que Henry Kissinger também não pôde concorrer à presidência dos Estados Unidos por ter nascido na Alemanha. Em junho deste ano, aos 70 anos, ela tentou mudar esta disposição, mas se deparou com o poder de veto dos militares, que por lei ocupam 25% das cadeiras do parlamento bicameral.

Suu Kyi não atingiu seu objetivo, mas reafirmou o compromisso de seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (LND), de concorrer no pleito, o primeiro realizado sob um governo democrático em mais de cinco décadas. Durante a campanha, ela disse estar confiante que a LND ganhará as eleições e formará o próximo governo, embora ela mesma não possa ser a presidente.

"Que não existam dúvidas. Quem quiser ser o presidente, que seja. Eu serei a líder do governo da LND", disse a Lady (a Dama), como é chamada por seus fãs.

A Nobel da Paz conta com um grande número de admiradores dentro e fora de seu país, mas seu prestígio foi um pouco abalado devido a problemas internos em seu partido e a sua recusa em interceder a favor dos rohingyas, uma minoria muçulmana que vive em situação semelhante à do apartheid na África do Sul.
A Nobel da Paz conta com um grande número de admiradores dentro e fora de seu país, mas seu prestígio foi um pouco abalado devido a problemas internos em seu partido e a sua recusa em interceder a favor dos rohingyas, uma minoria muçulmana que vive em situação semelhante à do apartheid na África do Sul.
Foto: Efe

Além do carisma conquistado durante sua longa oposição às antigas juntas militares e seus 15 anos em prisão domiciliar, Suu Kyi conta com o legado de seu pai, o herói da independência Aung San, apesar de quase não ter convivido com ele, já que foi assassinado quando ela tinha dois anos.

A Nobel da Paz conta com um grande número de admiradores dentro e fora de seu país, mas seu prestígio foi um pouco abalado devido a problemas internos em seu partido e a sua recusa em interceder a favor dos rohingyas, uma minoria muçulmana que vive em situação semelhante à do apartheid na África do Sul.

Nascida em 19 de junho de 1945, Suu Kyi saiu do país aos 15 anos para viver na Índia, onde sua mãe, Khin Kyi, tinha sido nomeada embaixadora. Nos anos 60, mudou-se para Oxford, no Reino Unido, para cursar Filosofia, Economia e Política, e lá conheceu aquele que se tornaria seu marido, Michael Aris, com quem teve dois filhos: Alexander (1973) e Kim (1977).

Suu Kyi se dividiu entre as tarefas de ser mãe e esposa e, ao mesmo tempo, trabalhar e estudar no Japão e no Butão. Em 1988, retornou a Mianmar para cuidar de sua mãe, que estava doente e morreria no final do mesmo ano.

Sua chegada a Yangun coincidiu com as manifestações de milhares de ativistas que exigiam o fim da ditadura e reformas democráticas no país, nas mãos dos militares desde 1962. Em pouco tempo, Suu Kyi, inspirada pela resistência pacifista de Mahatma Gandhi, se uniu aos protestos e dirigiu o movimento democrático que exigia eleições gerais.

As mobilizações foram silenciadas pelos soldados, e aproximadamente 3 mil pessoas morreram, mas a coordenação militar, submetida a uma forte pressão, convocou eleições gerais em maio de 1990.

À frente da LND e em prisão domiciliar, Suu Kyi ganhou por grande maioria o pleito, mas os militares não aceitaram o resultado e se mantiveram no poder. Foi então que, em 1999, ela sofreu uma grande perda: a morte de seu marido, vítima de um câncer de próstata. O enterro aconteceu sem sua presença. Ela não foi ao funeral por medo de as autoridades a impedirem de retornar a Mianmar.

No total, Suu Kyi passou 15 anos confinada em sua casa em Yangun (1989-1995 / 2000-2002 / 2003-2010) isolada do mundo, exceto apenas por ter acesso a um aparelho de rádio no qual ouvia a "BBC" e por receber algumas visitas raramente autorizadas pela junta militar no poder.

A Nobel da Paz recebeu a liberdade em 13 de novembro de 2010, seis dias depois de o principal partido governista conseguir a maioria absoluta nas eleições legislativas. A junta militar se dissolveu em 30 de março de 2011 e entregou o poder a um governo civil presidido pelo ex-general Thein Sein, primeiro-ministro do regime anterior, que empreendeu um processo de reformas. No pleito parcial de abril de 2012, Suu Kyi conseguiu uma cadeira pelo distrito eleitoral de Kawhmu, uma cidade situada a 60 quilômetros ao sudeste de Yangun, a antiga capital.

EFE   
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