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Ásia

Massacre de muçulmanos na Índia segue impune 10 anos depois

1 mar 2012 - 06h02
(atualizado às 07h20)
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Em 2012, completa-se dez anos de uma das maiores explosões de violência ocorrida na Índia, o massacre, em 2002, de mais de mil muçulmanos em Gujarat, que permanece praticamente impune até hoje.

Apesar dos tribunais do país terem condenado há quatro meses um grupo de hindus por um dos muitos episódios de violência ocorridos entre fevereiro e março de 2002, a maioria dos crimes da época segue sem ter sido julgada.

A decisão de novembro é o único veredito relevante contra os responsáveis pelas mortes dos muçulmanos: a sentença foi de prisão perpétua para 31 hindus por queimarem vivos 33 muçulmanos, a maioria mulheres que tinham se refugiado numa casa.

Por outro lado, a morte de um grupo de peregrinos hindus, que foi o estopim da onda de violência em 2002, foi julgada, e os juízes determinaram a condenação à morte de 11 muçulmanos e a prisão perpétua para outros 20.

"As minorias atacadas respondem com a lei e os muçulmanos não puderam superar o que se passou porque não tiveram a justiça necessária", afirmou o sociólogo e escritor Dipankar Gupta, autor de um livro que tem como tema choques sectários.

Os muçulmanos da Índia, cerca de 160 milhões de pessoas, representam 13% da população, embora ocupem apenas menos de 5% dos postos públicos nas instituições estatais e seu acesso à educação continue sendo muito deficiente.

Os fatos ocorridos em Gujarat há dez anos são objeto de diversas interpretações e geraram um debate que embora tenha perdido intensidade na agenda pública indiana, renasce periodicamente.

Os distúrbios começaram como reação ao incêndio -segundo os extremistas hindus, provocado por muçulmanos num trem cheio de peregrinos em 27 de fevereiro de 2002, no qual 59 pessoas morreram, entre elas mulheres e crianças.

Nos dias seguintes, entre mil e dois mil muçulmanos foram assassinados em várias cidades por grupos de radicais hindus diante da passividade da polícia.

No turbilhão de acontecimentos, também ocorreram represálias contra os hindus.

Para alguns analistas e políticos nacionalistas hindus, o incêndio do trem foi orquestrado por organizações radicais muçulmanas e os fatos que se sucederam foram uma reação incontrolável de ira popular.

"O que ocorreu em 2002 foi uma infeliz conjunção de fatores. Após a morte de 59 peregrinos hindus, o que aconteceu depois foi fruto da ira do povo, algo impossível de conter", opinou o sociólogo indiano Yogesh Atal.

Em 2007, o semanário indiano Tehelka publicou um número especial que denunciou, mediante gravações com uma câmera oculta, que os massacres foram planejados e tiveram a conivência de algumas autoridades.

Até agora, as controvertidas investigações do governo de Gujarat descartaram a implicação nos distúrbios do executivo regional ou das forças de segurança.

No entanto, há três anos a entãoministra regional de Mulheres e Infância, Maya Kodnani, teve que renunciar de seu cargo após ser acusada de liderar um grupo que cometeu assassinatos no massacre.

Gujarat era governada pelo atual chefe de governo local, o controvertido Narendra Modi, que pertence ao Partido Conservador Bharatiya Janata Party (BJP) e que afirmou que a tragédia foi uma "cadeia de ação e reação".

No geral, apesar de desde então não terem ocorrido explosões menores de violência, a maioria dos analistas coincide que é difícil que hoje se repitam choques religiosos dessa magnitude.

"A situação foi fruto de uma conjuntura temporária e as coisas voltaram à normalidade. A evidência disso é que não ocorrereu nada parecido desde então", defendeu Yogesh Atal.

"A tensão segue existindo e muitos muçulmanos seguem como medo de expressarem sua religião. O conflito é ainda latente, mas as autoridades regionais querem evitar mais problemas e os muçulmanos estão melhor organizados do que na ocasião", afirmou Dipankar Gupta.

Um analista francês especializado em política indiana, Christophe Jaffrelot, afirmou taxativamente esta semana no jornal "India Express": "A justiça não foi aplicada e a reconciliação entre hindus e muçulmanos não chegou a Gujarat".

EFE   
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