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Ásia

Índia: refeitórios vivem onda de suspeita após intoxicação de crianças

21 jul 2013 - 01h07
(atualizado às 01h19)
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Sala de aula de Chapra onde as merendas contaminadas foram distribuídas, no Estado indiadno de Bihar
Sala de aula de Chapra onde as merendas contaminadas foram distribuídas, no Estado indiadno de Bihar
Foto: Reuters

A morte de 23 crianças por intoxicação após ingerir comida em uma escola pública acendeu um alerta na Índia para os problemas de um programa estratégico de alfabetização e desenvolvimento de cerca de 120 milhões de crianças.

O programa "Comida do Meio-dia", promovido pelo governo indiano, funciona em mais de 1 milhão de escolas de todo o gigante asiático, o que garante que crianças de poucos recursos recebam pelo menos uma refeição de alto valor nutritivo por dia.

Além disso, como afirma o Ministério de Desenvolvimento de Recursos Humanos, ao qual o projeto é subordinado, graças ao "Comida do Meio-dia" cresce "a matrícula de alunos nas escolas, sua permanência e sua atenção".

O objetivo é provado por um estudo recente da Universidade de Nova Délhi, que garante que o programa conseguiu fazer com que a assistência das meninas às escolas nas áreas rurais tenha crescido 12,4% nos últimos anos.

No entanto, a morte de 23 crianças de entre oito e 12 anos por consumir na semana passada comida em más condições em uma escola no estado de Bihar, gerou dúvidas entre setores da população indiana sobre a qualidade e efetividade do programa alimentar.

Na cidade de Masrakh, onde fica o colégio em que foram intoxicadas as crianças, houve graves distúrbios, nos quais parentes e amigos das vítimas destruíram mobiliário público enquanto pediam identificação dos responsáveis e justiça.

Segundo o canal de televisão indiano NDTV, algumas famílias das crianças enterraram pelo menos seis delas em frente à escola em sinal de protesto. Também houve algumas manifestações em outros pontos da região, nas quais alguns alunos agrediram fisicamente até mesmo seus professores.

Crianças do colégio afetado foram internadas no Hospital Universitário de Patna, a capital regional, aonde chegaram após uma longo percurso por hospitais locais em busca de atendimento médico apropriado.

Um diretor do hospital, Amarkant Jha, disse que elas estão fora de perigo, mas lembrou que duas das vítimas morreram após terem sido internadas na unidade.

O relatório legista final só será divulgado nesta semana, mas segundo Jha a investigação preliminar indica que a causa da morte das crianças é uma intoxicação por fósforo ou inseticida, o que alarmou a população.

A ONG Greenpeace afirmou em comunicado que "isso revela o mau uso que se faz nas zonas rurais de perigosos produtos químicos destinados à agricultura" e lembrou que "os recipientes em que são armazenados são inclusive reutilizados para guardar água e azeite".

Na Índia, onde o sistema de controle de alimentos ainda é muito precário e o sistema de refrigeração ainda precisa ser aprimorado, são frequentes as intoxicações alimentares, que podem alcançar proporções trágicas em centros de distribuição gratuita de comida.

Mas além da contaminação da comida, a qualidade dos alimentos pode variar muito segundo a região, pois são os governos locais que coordenam e implementam o programa "Comida do Meio-dia".

Em Bihar, um dos estados mais pobres da Índia, um estudo da Comissão de Planejamento Nacional de 2010 revelou que 77,89% das crianças entrevistadas na região estão insatisfeitas com a comida servida nos colégios.

A porcentagem contrasta, por exemplo, com os dados obtidos no estado de Haryana, próximo a Nova Délhi, no qual 99,5% dos alunos mostraram um alto nível de satisfação com o almoço.

Essa satisfação ficou evidente em um colégio misto da capital indiana, no qual a maioria das crianças, de idades entre quatro e 11 anos, afirmaram à Efe que gostam "muito" da comida.

Na hora de comer, as crianças, com tigelas de aço inox na mão, fazem fila para que as cozinheiras - vestidas com avental, máscara e touca - as sirvam uma por uma, para que comam em suas carteiras.

Os professores dizem ter a obrigação de provar primeiro os alimentos para verificar se está em bom estado.

"Essas crianças vêm de famílias muito pobres e para elas é uma grande oportunidade poder receber uma educação e pelo menos uma refeição de qualidade por dia", explicou à Efe uma professora.

"Muitos vivem em favelas ou na rua, debaixo de uma ponte. Se não fosse por esse programa,certamente agora estariam na rua mendigando", opinou.

EFE   
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